A possibilidade de uma nação famosa pelo ideal de respeito aos contratos não honrar suas obrigações ameaça paradigmas do mercado e faz jus ao momento complexo da economia global.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, voltou a clamar por urgência dos legisladores americanos para resolver o impasse relacionado com a dívida pública da maior economia do planeta. "O tempo para um acordo está se esgotando", disse Obama em pronunciamento nesta sexta-feira (15/7). Ele se refere à ausência de consenso entre políticos democratas e republicanos na discussão do teto do nível de endividamento do país.
Os EUA estão carregando uma dívida fiscal de US$ 14,3 trilhões, batendo no limite permitido por lei para realizar novos empréstimos e acertar vencimentos já no dia 2 de agosto. As agências de risco Moody's e S&P deram o seu recado com um alerta raro para quem detém nota "triple-A".
Os mercados em todo o mundo sentem o reflexo do impasse. Mas nem sempre foi assim em países desenvolvidos. Se a crise da dívida de países da Zona do Euro repetiu problemas velhos conhecidos dos emergentes, os EUA estão indo além com a instabilidade política.
A angústia dos mercados resulta de uma condição do governo americano não pagar seus contratos por falta de autorização. Esse é o primeiro problema."Os EUA estão operando em cima de manchetes, de notícias de final de semana, o mercado está muito fluído, sem tendência. Um clima na política de muito insulto pessoal e poucos resultados práticos", disse o gestor de um fundo de ações em Nova York. Em Wall Street, os fatos políticos não costumavam gerar tamanha volatilidade.
O ex-presidente do Banco Central e sócio da consultora Tendências, Gustavo Loyola, admite o ambiente familiar observado nos EUA: "Normalmente a política do dia a dia não afeta o cenário de países mais desenvolvidos, ao contrário dos mercados emergentes em que os sobressaltos fazem parte do cenário".
Beira do precipício
A impressão dos analistas é que a chance de um acordo nos moldes pretendidos por Obama - eliminação de isenções fiscais aos mais ricos - é pouco provável diante das eleições americanas no ano que vem.
Sem maioria democrata no Congresso, a tarefa se torna mais difícil. No pano de fundo, há uma tendência de guinada mais conservadora no partido republicano, crente na possibilidade de vencer Obama se apresentar um candidato crível.
Para o ex-presidente do BC, independente das opiniões, ninguém em nenhum dos lados cogita a chance do país ficar sem o pagamento de sua dívida.
Loyola nota a ala republicana trabalhando na base do "brinkmanship", a estratégia famosa utilizada na Guerra Fria contra a União Soviética que consiste na arte de levar o embate até a beira do precipício.
"Eles vão tentando esticar a corda até o último momento procurando uma proposta que os democratas cedam e abandonem a ideia de aumentar impostos e adotem uma agenda republicana", conclui o economista.
Outras análises sugerem que já existe um plano B caso não seja concebido um acordo, como uma autorização de um limite curto permitindo que o assunto continue sendo discutido.
Riscos
Para quem administra ativos de risco, a falta de segurança de médio e longo prazo na variável fiscal gera desconfiança nas perspectivas. Ainda mais quando a Europa se encarrega de disseminar pessimismo sobre a atividade econômica global.
"É difícil mensurar as consequências de um aprofundamento do problema de dívida nos EUA, porque será quebrado o paradigma do país considerado o mais seguro do mundo", constata Loyola.
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