sábado, 9 de julho de 2011

O Futuro Incerto de Marina

Enviado pelo editor Júlio Amorim - Blog da Dilma em São Paulo - jotamorim@gmail.com
O Futuro Incerto de Marina
Rompimento – A candidata que forçou o segundo turno em 2010 perde a disputa no PV
Clara Roman e Matheus Pichonelli - Carta Capital n˚ 654
A mais anunciada separação no mundo político desde o rompimento entre Gilberto Kassab e o DEM concretizou-se na quinta-feira 7. Marina Silva, que embarcou com sua trupe em 2009 para “salvar”o barco do PV, conforme interpretou uma mídia ansiosa por inflar uma terceira alternativa eleitoral e impedir a vitória de Dilma Rousseff no primeiro turno, pulou fora da embarcação verde. Venceram José Luiz Penna, presidente da legenda desde 1999, e o deputado Zequinha Sarney.

Por ora sem estrutura partidária, a aposta de Marina é manter a exposição com o apoio de movimentos sociais e da internet. E, claro, dos principais fiadores de sua campanha presidencial, entre eles os empresários Guilherme Leal e Ricardo Young, que a acompanharam durante o anúncio da desfiliação, em evento em São Paulo. “Vamos nos reencontrar com nosso potencial para mudar o que precisa ser mudado e preservar o que precisa ser preservado”, disse a ex-senadora.
A criação de um novo partido ainda é incerta, já que os principais aliados de Marina no PV decidiram permanecer, caso de Alfredo Sirkis e Fernando Gabeira.
Planos eleitorais, fidelidade partidária e receio de que os problemas hoje identificados no PV migrem para uma futura legenda motivaram os desfalques do novo movimento.
Não está claro o quanto cada um perde com a separação. Marina sai do partido que, bem ou mal, se apossou da bandeira da sustentabilidade. Já o PV perde uma reconhecida militante da causa ambiental e afunda-se na imagem de uma legenda clientelista.
“É ruim para o PV porque era uma chance de voltar para suas raízes e é ruim para a Marina porque ela vai ficar sem representação”, resume a cientista política Vera Lucia Chaia, da PUC-SP. “Quando a Marina se candidatou, a grande esperança era que o PV mudaria sua cara e seria um partido realmente programático, com uma pauta de sustentabilidade, de modelos alternativos, de defesa do meio ambiente. A proposta de Marina começou a envolver muita gente. Mas o PV é um partido que não se diferencia de outros partidos que são menores e fisiológicos”, diz a especialista.
As relações entre o PV e Marina azedaram quando Penna, com o apoio de Sarney, se autoconcedeu mais um ano de mandato. No partido, os caciques nacionais escolhem os estaduais, que escolhem os municipais.
O gesto do deputado – que no site do partido gaba-se de ter sido ator da primeira montagem brasileira do musical Hair, em 1970, e de ter composto melodias como “Comentário a Respeito de John”, em parceria com Belchior – foi a senha para que o PV mantivesse sua conhecida vocação: a de ser coadjuvante em alianças muitas vezes incoerentes com a bandeira ecológica. Casos, por exemplo, da proximidade com lideranças como Amazonino Mendes, no Amazonas, Ivo Cassol, em Rondônia e Blairo Maggi, em Mato Grosso.
“O PV virou um partido que se autocondena”, diz Sirkis, para quem o partido perdeu a chance de incorporar o apoio de artistas, intelectuais e movimentos sociais recebido na campanha presidencial. “Em pleno século XXI, com todo nosso discurso sobre sustentabilidade, o filiado ainda não tem o direito a voto”, resume Maurício Brusadin, afastado da presidência do diretório paulista e que também deixou o partido.
O racha da legenda deve fazer com que, nas contas de Ricardo Young, o PV perca ao menos metade de sua militância. “O PV perderá representação e aspecto simbólico”. Já os apoiadores de Penna afirmam que, sem Marina, sobrarão, a partir de agora, apenas aqueles realmente comprometidos com o partido.

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