Rodolpho Motta Lima – Advogado formado pela UFRJ-RJ (antiga Universidade de Brasil) e professor de Língua Portuguesa do Rio de Janeiro, formado pela UERJ, com atividade em diversas instituições do Rio de Janeiro. Com militância política nos anos da ditadura, particularmente no movimento estudantil. Funcionário aposentado do Banco do Brasil
Na semana que passou a Presidenta Dilma consolidou sua posição como importante liderança planetária, não apenas com o discurso que abriu os trabalhos da ONU, mas também em função das articulações políticas e declarações várias, todas elas corajosas, a respeito de delicados assuntos do cenário mundial.
Os que atribuíam à Dilma uma ausência de “luz própria”, os que apenas a viam no cargo de Presidenta como decorrência de uma escolha caprichosa de Lula, devem estar revendo essa posição – se tiverem propósitos honestos de análise.
É claro que as palavras de Dilma - devemos reconhecer – dão sequência às de Lula que, nos seus oito anos de mandato, por força de sua postura de independência, granjeou excepcional prestígio internacional, materializado, entre outras coisas – e para desespero de seus detratores – em diversos títulos de doutor “honoris causa” que ele ainda anda recebendo por aí..
Dilma, na ONU, foi bastante clara. Falou sobre a posição do Brasil no mundo. Com a cautela de grande estadista, reconheceu os perigos da crise econômica, mas marcou a nosso posicionamento ainda confortável diante dela, destacando a forma como o país se vem conduzindo nesse âmbito. A Presidenta, também sob aplausos, deu (quem diria?) um puxão de orelha nos governantes de nações “desenvolvidas”, cunhando uma oportuníssima e ousada frase que deverá ficar nos anais da ONU, e que o Eliakim já transcreveu, no seu último artigo.
Sem qualquer titubeio ou evasiva, Dilma também reafirmou a posição brasileira de apoio à causa palestina, hoje uma autêntica causa mundial, como se comprova, aliás, pela aprovadora reação do plenário diante de suas palavras. Ela reivindicou, a propósito, mudanças no Conselho de Segurança da ONU, defendendo a presença, nele, do Brasil, e denunciando a falta de adequação entre a composição atual desse organismo e a correlação de forças políticas no mundo. Repudiou a violência, falou contra a tortura na condição de ex-torturada, com forte dose de emoção. Em declarações que se seguiram às do discurso inaugural, manifestou-se enfaticamente pelo desarmamento, seguindo a política pacifista dos brasileiros, mas certamente contrariando todos os interesses belicistas de poderosas forças estabelecidas no planeta.
Revelando-se ao mundo que ainda a desconhecia, e de forma cabal, com a visão maior de quem se coloca ao lado dos excluídos – em seu país e no mundo - , Dilma eleva ainda mais a autoestima do povo brasileiro, que tem tido, aliás, nos últimos anos, razões efetivas para encarar o futuro com otimismo.
Ao pensar em escrever a respeito do desempenho da Presidenta no cenário político internacional, imaginei, inicialmente, compará-la a uma águia, lembrando o passado diplomático de um outro brasileiro, Rui Barbosa, “a águia de Haia”. Mas logo mudei de ideia porque, a julgar pelo que nos dizem os historiadores, Dilma nada tem a ver, ideologicamente, com esse famoso político da Bahia. Mas há outro baiano capaz de inspirar uma comparação: Castro Alves, o poeta dos escravos, cuja luta, embasada em ideais igualitários, coloca-o no patamar dos grandes defensores dos mais nobres valores da humanidade e que exemplificou , à sua época, a então chamada visão “condoreira” .
Como Castro Alves, identificado com o condor, Dilma revela a capacidade de enxergar com amplitude e a grande distância os problemas da sociedade e parece ter, realmente, a intenção de se manter firme no caminho da justiça social e da liberdade.
Mas nem tudo são flores entre nós, no campo da política. O êxito de Dilma, que deveria ser encarado como um êxito nacional, incomoda muita gente, e desde antes de sua eleição. Esse pessoal – que fala muito em cidadania, mas não respeita a vontade do povo nas urnas - tudo tem feito para desqualificá-la, em posicionamentos às vezes sutis, às vezes não tanto... No próprio dia da consagração de Dilma na ONU, o jornal “O Globo”, embora não pudesse sonegar o sucesso da Presidenta na matéria como um todo, escolheu a dedo, como manchete, no meio de tantas declarações meritórias que ela fez, uma que, descontextualizada, remetia para o negativo: “ Resistência do Brasil à crise não é ilimitada”.
Preocupados em produzir “um fato por dia” que coloque o Governo no banco dos réus – e bem no estilo dos factóides do Cesar Maia – aqueles que até hoje não aceitaram a derrota eleitoral se recusam ao júbilo pelo êxito brasileiro e fazem do mau agouro a sua palavra de ordem, tentando semear a crise, o caos, palavras que mais gostam de usar. São autênticos urubus, ansiando permanentemente pela destruição, na espreita sorrateira da carniça que os alimente, como se a derrocada do país não os viesse a atingir também.
Para continuar na linha alegórica que escolhi, não se pode esquecer que esses urubus contam com cúmplices – intencionais ou ocasionais - na sua escalada. São seus oportunos parceiros, aqui, as conhecidíssimas velhas raposas da política nacional, encasteladas em agremiações partidárias sem ideologia que não seja a de estar no poder, e que, por força do deficiente processo político do país, instauram-se como fiéis da balança dos governos, impondo-nos a abominável palavra “governabilidade”, prima-irmã da chantagem política.
Essas raposas tomam conta de galinheiros, para gáudio dos urubus de plantão. E são convenientemente assessoradas por ratos das mais variadas espécies que, nesse cenário, também provocam “frisson” nos urubus, que neles enxergam a perspectiva de reduzir o país a frangalhos, a carne morta.
Não nos iludamos com eventuais aparências. Os sucessos do Governo jamais serão absorvidos pelos golpistas de sempre, que contam com poderosos veículos e, como se pode notar em linhas e entrelinhas, têm um plano de desconstrução em marcha. Muita gente incauta pode, nesse contexto, assumir posturas de hiena, seja fazendo da hipocrisia sua sustentação existencial, seja como inocentes úteis capazes de, no final, sorrir da própria desgraça.
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