quinta-feira, 27 de outubro de 2011

"Anjo louro da morte" é condenado à perpétua na Argentina

O ex-oficial da Marinha de Guerra argentina Alfredo Astiz, 59 anos, símbolo da repressão criminosa durante a ditadura (1976-1983), foi condenado nesta quarta-feira à prisão perpétua, por crimes, torturas e sequestros, informou o Tribunal.
"Condeno Alfredo Astiz à pena de prisão perpétua por privação ilegítima de liberdade, tortura e homicídio", foi o veredicto do Tribunal que julgava 18 militares repressores da ditadura, a maioria ex-membros da Marinha.
Astiz, conhecido como o "Anjo louro da morte", já tinha sido condenado à prisão perpétua à revelia na França (1990) e na Itália (2007), e é considerado um agente emblemático da repressão durante a ditadura.

O comandante Astiz, reformado em 1998 por dizer à imprensa que "mataria" e "colocaria bombas" se recebesse ordens, foi considerado culpado do desaparecimento das freiras francesas Leonie Duquet e Alice Domon, da fundadora das Mães da Praça de Maio, Azucena Villaflor, e do escritor e jornalista Rodolfo Walsh, entre outras vítimas.
O chefe de Astiz durante a ditadura, o comandante Jorge "Tigre" Acosta, também foi condenado à prisão perpétua por crimes contra a humanidade, do mesmo modo que o comandante Ricardo Cavallo, preso no México e extraditado em 2008.
Os crimes foram cometidos na Escola de Mecânica da Armada (ESMA), um centro clandestino por onde passaram mais de 5 mil presos e do qual apenas cerca de 100 saíram com vida.
Do total de 18 acusados, dois foram absolvidos, 4 receberam penas de entre 18 e 25 anos de prisão, e 12 pegaram prisão perpétua, em um julgamento que durou quase dois anos.
O almirante reformado Oscar Montes, ex-chanceler do governo surgido do golpe militar, também foi condenado à prisão perpétua pela repressão aos militantes e simpatizantes de organizações armadas de esquerda como Montoneros (peronista) e ERP (marxista), e de sindicalistas, estudantes e opositores ao regime.
"A Justiça é a base para a democracia. Os que morreram na ditadura não deram sua vida em vão. Foi como uma semente. São todos mártires", disse a freira francesa Geneviève Domon, irmã de Alice Domon, desaparecida durante a repressão.
"Este julgamento é produto da luta de anos dos sobreviventes e dos organismos de direitos humanos", disse Myriam Bregman, advogada da família do escritor Walsh, visto com vida pela última vez na ESMA, após ser ferido em uma emboscada.
O grupo de Astiz tinha como missão se infiltrar nos organismos políticos, sequestrar dissidentes e torturá-los. Astiz, que se infiltrou com nome falso nas Mães da Praça de Maio em 1977, acusou o tribunal de "terrorismo judicial" e mostrou uma atitude desafiante durante o julgamento.
Dezenas de prisioneiros da ESMA foram atirados vivos no mar de aviões militares, nos chamados "voos da morte". O comandante da Marinha, membro da Junta Militar e responsável pela ESMA foi o almirante Emilio Massera, condenado a prisão perpétua em 1985, indultado em 1990 e falecido em 2010, com um problema cerebral que o impediu de voltar ao banco dos réus.
Ao menos 30 mil pessoas desapareceram durante a ditadura argentina, segundo os organismos de direitos humanos.

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