Escrito por Gláucia Lima - E-mail: glaucia.net.lima@bol.com.br
“Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão”. (Paulo Freire)
Neste instante em que os meios de comunicação, em especial as redes sociais, se mobilizam em torno de um tema bastante delicado e sério que envolve a criança e o adolescente, pelo “fim do abuso infantil”, contra todo e qualquer tipo de violência contra elas, somos também e, infelizmente, surpreendidos com imagens polêmicas de um programa televisivo que não pode se esconder no “piada infeliz” ou, menos ainda, culpar a “comédia” ou o “humor” de “politicamente incorreto”; calar diante disso, portanto, não é só minimizar o que houve; sim, incorrer em outro erro, o do silêncio.
Quando presidente, Lula sofreu toda sorte de agressão por parte da mídia (que aprendemos a chamar de PIG) e, em particular, por programas de humor, que inúmeras vezes não aliviaram e, por diversas vezes, o acusaram de querer calar essa mesma mídia. E outras vezes, em outros artigos, cheguei a comentar esse abuso para com nosso presidente à época, pois esses mesmos se achavam no direito de agredir, desrespeitando, além da autoridade máxima do país, o cidadão.
Pois bem, não me lembro de ter visto nem uma defesa assim em plenário, não só da pessoa do Lula, mas de qualquer político achincalhado e/ou ridicularizado... Correta a postura do senador que tocou um ponto chave: tão desacreditada ficou nossa classe política, que defendê-la pode-se incorrer em um grande risco. Mas, isso também não é motivo de calar e concordar e/ou aceitar silente.
Muitas vezes me desgastei, fossem em rodas de parentes ou colegas de trabalho, ou o que fosse, por defender o político ou o servidor público, pois se tornou comum e natural a prática ao ataque e à generalização. Como fosse a regra pensar igual e atacar: “Político é ladrão, corrupto, desonesto”... “Servidor público é preguiçoso, arrogante, incompetente”, e por aí vai.
Nunca aceitei essa generalização, convivi com grandes exemplos de dedicação, honradez, coragem e disposição para o trabalho, nesses dois campos que seria até depor contra mim mesma. Afinal, filha de político (que é servidor público), servidora pública (ex-líder sindical), atestaria minha equiparação com essa mídia, com essa mentira. E um vem agora, com o vício do “dizer o que quero”, pois “o direito de expressão”...
Tanto apelaram com esse argumento contra o Lula, que quase passou a ser normal destratá-lo... Morreu o criador da Apple, que não tinha diploma, e nunca ouvi ou li uma linha sobre esse fato diminuindo seus valores. Igual se deu com José Alencar, vice de Lula nos dois mandatos, que tal como Lula, também não tinha diploma universitário. Enquanto, com Luís Inácio Lula, todos os dias se ouviam tal achincalhamento. E não venham me dizer que não tem a ver com o “vil metal”, que não é porque se põe o dinheiro acima de qualquer valor ético e/ou moral, e até da vida, que esses “Rafinhas” vendem a alma. Essa, terrivelmente, é a prática da elite (ou parte dela) brasileira. Sem jamais olvidar que por traz, diante e/ou ao lado dessa corrente midiática, existem as grandes redes de comunicação, e a sanha por audiência.
Acho até incoerente hoje falar isso, pois o homem Lula, na sua honradez, só aceitou receber os títulos que o mundo lhe conferiu (dezenas) depois de deixar a presidência. Mas quero chegar na “liberdade de expressão” que sempre defendi. Chegamos, pois, ao cúmulo de confundir “direito” com direito. Explico: eu tenho o direito de dizer, mas será que o que eu digo é direito? Neste caso, é “avesso”. Penso que “Rafinha”, sei lá como este rapaz se chama, deve ter atingido, e há muito, seu objetivo. Cada vez mais a mídia o expõe... E nessa ânsia de mídia, perde-se o bom senso, acho que bem mais, da decência. Também penso que este jovem, não só leu pouco na vida, e da vida, como não deve ter tido tempo de forjar o seu senso crítico, pois vale mais “um furo”, qualquer furo, que compreender sentimentos, limites, direitos. O direito individual de cada ser, que tem de ser respeitado. E a isso, não podemos, nem devemos ser avessos.
Hoje, o Brasil vive uma quebra de paradigmas como quê! A presidência do país é exercida, depois de um operário acusado por essa mesma mídia de “analfabeto”, por uma Mulher. Divorciada e ex “guerrilheira”, ai de mim... Que é filha e que é mãe, mas que hoje, antes destes fatores, tem a responsabilidade de representar este país, de proporção continental, a todos os seus habitantes, independentemente de etnia, sexo, religião, cor, idade, escolaridade ou profissão. E, esses “Rafinhas” têm que compreender que não estão acima dos direitos dos seres viventes, mesmo dos que ainda gestando. Afinal, que valores poderemos representar como formadores de opinião? A que apologia estaremos incentivando? Muito cômodo lamentar, desculpar(se)... Necessário que a sociedade exija mais. Se todos e todas, que podemos expressar nossa vontade, calarmos diante desse absurdo, que geração estaremos apoiando e ajudando a formar com a nossa conivência ou omissão, para não dizer covardia? E aos que não podem se defender, se a sociedade calar?
Quero terminar com um apelo: Educação! Instrução é o que falta aos (nossos) esses “formadores de opinião”, e não disse escolaridade, pois muita gente instruída pode ser equivocada e desumana, não agem com o coração... E é por todos os excluídos, oprimidos, que temos que voltar nosso olhar e atenção. Por fim, dizer a vocês, “Rafinhas”: sempre há tempo de melhorar, e, conforme comecei, termino citando Paulo Freire, pois “não há vida sem correção, sem retificação”.
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