Luis Nassif: A crise europeia é tipicamente fruto da falta de estadistas no continente. Nos anos 60, a Europa do pós-guerra emergia com gigantes à frente de seus países, criando o Mercado Comum Europeu, base da futura integração econômica do continente.
Mais tarde, nos anos 90, o Acordo de Lisboa consolidou as bases da União Europeia. Haveria moeda única. Para tal, seria preciso regimes fiscais e desenvolvimento homogêneos. Criou-se, então, um fundo destinado a estimular o desenvolvimento das regiões mais atrasadas.
O vandalismo financeiro dos últimos anos levou a um vórtice de endividamento que, agora, vem cobrar a conta. É aí que se entra nas características atuais da crise.
No fundo, toda a discussão é sobre quem paga a conta. O sistema bancário pretende que sejam aportes de países mais desenvolvidos e o sacrifício dos países endividados. Fazem parte dessa frente os presidentes do Banco Central Europeu, do Banco Mundial e parte do FMI.
Já os países – especialmente França e Alemanha – querem uma divisão da conta, na forma de perdão de parte da dívida grega – procedimento mais que usual nas negociações bancárias. Os bancos resistem, com receio de criar precedentes quando tiverem que renegociar dívidas de economias maiores, como Itália e Espanha.
É fato claro, óbvio, indiscutível que a Grécia não tem condições de bancar as condições exigidas pelo FMI e pelos países da União Europeia. São condições leoninas, politicamente inexequíveis e economicamente ineficientes.
A meta a ser perseguida por todos é a relação dívida/PIB grego.
Vamos a alguns pequenos exemplos sobre o que pode acontecer .
1. Imagine que a dívida grega seja de 150 e o PIB grego de 100. A relação dívida/PIB é de 150%.
2. O PIB cai 5% e a dívida sobe 8% (como efeito do custo da rolagem.). O PIB cai para 95 e a dívida sobe para 151,2. Só nesse movimento (quase inercial) a relação aumenta para 159%.
3. Mais: a queda da arrecadação sempre é maior que a queda efetiva do PIB. Suponha que a arrecadação caia 10%. Significaria 10% a mais no montante da dívida (caso conseguisse empréstimos adicionais). E aí a relação dívida/PIB saltaria para 175%.
Estou apresentando grandes números – não especificamente os números da Grécia – para demonstrar a impossibilidade de qualquer ajuste fiscal recessivo, ou qualquer saída que não contemple um imenso deságio na dívida grega.
Vai acabar saindo, seja pela constatação da impossibilidade da Grécia pagar sua dívida, seja pelo fato de que não interessa a nenhum dos países líderes da União Europeia romper os laços de solidariedade continental. A Alemanha tem uma economia sólida. Mas sem a União Europeia, sem nenhuma chance de competir com os Estados Unidos ou os gigantes asiáticos.
É aí que se nota a ausência do estadista.
A solução é óbvia: desconto forte nas dívidas dos países; força-tarefa para impedir a quebra dos bancos; enquadramento fiscal dos países devedores, mas em bases realistas. Principalmente: prestação e contas aos cidadãos europeus e culpabilização das lideranças – nacionais ou europeias – que fecharam os olhos para essa orgia financeira.
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