segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Ironias e tragédias da crise #blogmundofoz #ForçaLula #TeimaLula

Dep. Fed. Emiliano José(PT/BA)
A crise econômica mundial vai revelando coisas aparentemente surpreendentes. Todos acompanharam a saga grega. O primeiro-ministro George Papandreou, diante da gravidade da crise, resolveu propor uma consulta pública para saber o que o povo pensava das medidas de austeridade propostas. Foi um deus-nos-acuda, um terremoto que assustou os dirigentes europeus e todo o centro capitalista. E Papandreou caiu. E um banqueiro, Lucas Papademos, assumiu. Simples assim.

curioso seja a Grécia, seja o país fundador da democracia a negar os princípios democráticos. Acuada, é obrigada a ceder, apesar das sucessivas manifestações populares contra as medidas de austeridade. Vamos falar sério: medidas de austeridade querem dizer arrocho contra os mais pobres. Sempre. Inevitavelmente. Essas medidas eram exigidas, impostas pelos banqueiros, que não podem admitir uma moratória, e os porta-vozes da banca são Sarkozy e Angela Merkel. Cômico, não fosse trágico, que a crise tenha que resolver o problema de seus causadores.
Afinal, ninguém tem dúvidas de que a crise econômica mundial repousa na ciranda desenfreada do capital financeiro, na loucura da atual fase da acumulação capitalista, que lida mais com os papéis do que com a produção, ou não relaciona uma e outra. O dinheiro sobrevoa o mundo sem qualquer necessidade de se relacionar com o mundo real. E de repente, o mundo real se apresenta. E a crise se instala, como instalada está desde 2008, e não parece ser de curta duração.
Não é que isso seja propriamente novidade. O predomínio do capital financeiro é antigo. Só que agora, no mundo, chegou ao paroxismo, à obscenidade, e não há mais nenhuma preocupação em relacionar os papéis com a produção, como os EUA não tiveram a preocupação de relacionar o boom imobiliário com a capacidade de pagamento dos compradores. O mundo, não. Corrijo-me. Os EUA e a Europa, que constituem o centro antigo do capitalismo mundial. Um e outro estão embaraçados, sem saber o que fazer para solucionar a crise. Ou, o que é pior, na linha tucana, querendo mais do mesmo.
Todos os esforços são feitos no sentido de preservar o capital financeiro, de não permitir a quebra dos banqueiros, de não admitir que haja qualquer prejuízo dos grandes capitais, dos que transformaram países em verdadeiros cassinos. Seria cômico, não fosse trágico, que os banqueiros sempre acabam ganhando nas crises. Qualquer medida de natureza democrática é repudiada, como o caso da consulta pública grega, sumariamente descartada, com ameaças e tudo.
A Grécia sairia da União Européia se levasse à frente a consulta - e os maiores países europeus - Alemanha e França - não tiveram qualquer prurido em atacar, repudiar a proposta democrática, afinal não consumada. Logo depois foi a Itália, enfrentando os mesmos problemas, só que numa dimensão maior ainda, ao menos quanto aos valores. Oitava economia do planeta, com uma dívida astronômica, se quebrar cria uma quebradeira em série.
Deu queda de primeiro-ministro, Berlusconi, quem sabe para felicidade geral da nação. Mas, não sem antes se aprovar as chamadas medidas de austeridade. Ou seja, para insistir, medidas contra a população, especialmente contra os trabalhadores. Sempre, sempre, nessas crises, pretende-se socializar os prejuízos, e de fato são socializados. Quem nunca perde são os causadores da crise, aqui os banqueiros, outra vez.
Cabe insistir que nós, no Brasil, temos que estar atentos para que a crise seja enfrentada, como está sendo pela presidenta Dilma, com políticas de estímulo ao emprego, fortalecimento do parque industrial, continuidade das políticas de distribuição de renda, diminuição de juros para que continuemos a crescer. São os países emergentes que tem condições de orientar o mundo. Não mais as nações desenvolvidas, que se deixaram levar pela banca, envolvidas pela lógica do capital financeiro.
A crise também nos atinge, de uma forma ou de outra. Mas, temos que cada vez mais insistir na política que iniciamos em 2003, quando o presidente Lula assumiu, de prosseguir distribuindo renda para continuar a crescer. Este é o caminho a seguir.
Emiliano José é jornalista, escritor, deputado federal (PT/Bahia)

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