Em encontro para 80 mulheres, a candidata a primeira-dama expõe plataforma do candidato tucano, faz ironias com Patrícia Pillar e é aplaudida por senhoras da elite paulistana. Gisele Vitória
Segunda-feira 9, quando o PSDB festejava o segundo lugar de José Serra nas pesquisas de intenção de voto, a casa da psicanalista Maria Cecília Parasmo no Morumbi, em São Paulo, foi transformada num auditório. A bancada do bar de estilo tradicional na sala ganhou ares de palanque em frente a uma platéia de 80 senhoras elegantes e cuidadosamente penteadas. Tudo preparado para a chegada da psicoterapeuta Monica Serra, mulher do candidato do governo à Presidência da República. O objetivo: multiplicar votos para o tucano. Servidas com taças de prosecco e canapés de shitake, entre outros do buffet Márcia Faccio, todas se apresentavam entre si. Eram socialites, médicas, psicanalistas, donas de escola, advogadas, decoradoras e esposas de empresários. A elas foi distribuída a letra do Hino Nacional, que não chegou a ser cantada.
A primeira-dama do Estado de São Paulo, Lu Alckmin, e a vice de Serra, Rita Camata, eram esperadas, mas horas antes avisaram que não iriam. “A Rita deu o cano, heim?”, queixava-se uma das convidadas, puxando o assunto em sua fileira. Marcada para as 18h, a reunião começou depois das 20h, com a chegada de Monica. “Em 20 minutos receberemos a futura primeira-dama do País”, anunciava no microfone a anfitriã, preocupada com a sutil impaciência das convidadas.
Com seus inconfundíveis óculos de armação vermelha, Monica chegou sorridente, abraçou a anfitriã, que conhece há 20 anos, e esperou Silvinha Portugal Gouveia, diretora do Colégio Lourenço Castanho, terminar um discurso sobre educação. Vestida num terninho marrom com botões dourados, a candidata a primeira-dama estava à vontade. Logo magnetizou as convidadas. “Vou ficar assim, andando. Ficar parada amarra o corpo e amarra as idéias”, brincou a psicoterapeuta, especializada em análise do movimento expressivo. Arrancou sorrisos das simpatizantes ao confundir-se sobre seu tempo de casada. “Minha filha tem 33, então tenho 34 de casada”, reparou, bem-humorada. Com sotaque chileno, Monica Allende Serra, 58 anos, começou seu discurso narrando a história do marido e defendendo as razões para se votar nele: “O Zé sempre foi preocupado com o bem comum”. Monica falou sobre os genéricos, sobre cirurgias gratuitas para catarata pelo SUS, explicou a matemática dos oito milhões de empregos prometidos e defendeu os últimos 4 anos do governo FHC.
Após a explanação, a psicoterapeuta foi elogiada pela psicanalista Elza Soares de Macedo por sua fibra e liderança na área acadêmica – ela é professora licenciada da Universidade de São Paulo. Do meio da platéia, uma convidada citou que atrás de um grande homem, havia uma grande mulher. Nessa hora, Monica retrucou. “Digo sempre ‘ao lado’, senão pode tropeçar”, riu, forjando um tropeção. Ao responder o que ouvia nas ruas em suas investidas para pedir votos para Serra, Monica entrou no tema Ciro Gomes: “Tem gente que me diz que vai votar na Patrícia Pillar. Aí digo: é uma excelente atriz mas precisamos de realidade”.
Dali em diante, criticou a postura de Ciro, dizendo que o candidato da Frente Trabalhista usa a tática de inverter fatos, como acusar seu marido de mentiroso. “A Patrícia Pillar tem dito que ele é espontâneo porque é humano. Mas e os outros? São marcianos?” A platéia riu.
Monica elogiou a candidata a vice Rita Camata. Perguntou quantas pessoas sabiam o que era a Lei Camata – de responsabilidade fiscal, que impede os Estados de gastarem mais do que arrecadam. “Quase ninguém sabe. E antes eu pensava que era do marido da Rita (Gerson Camata). Vejam minha porção machista”, sorriu. Ao final, Monica foi aplaudida e efusivamente abordada por correligionárias. O encontro terminou às 21h30, com café e biscoitinhos na saída.
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