Por Davis Sena Filho
Parte 1 — O capitão, a bomba, a saudade do indesculpável
O capitão da reserva, deputado federal pelo Rio (ele é paulista), hidrófobo e sociopata Jair Bolsonaro é de uma demência sem par e de um "tirocínio" ímpar. Soube de sua existência, pela primeira vez, no ano de 1986, quando ele, acometido de hidrofobia, reivindicou aumento salarial por meio de ameaça de detonar uma bomba na Vila Militar de Deodoro, no Rio de Janeiro, onde ele era aluno da ESAO. Logo após seu jogo insano, a revista "Veja", que é a última flor do fáscio, publicou matéria com o soldado pit bull descontrolado, quando ele demonstrou seu radicalismo, extremado à direita, o que o fez ser, definitivamente, detestado pelos oficiais generais da época, que o consideravam um louco, insubordinado e por isso o colocaram, durante 15 dias, na cadeia. O ex-ministro do Exército do presidente Sarney, general Leônidas Pires Gonçalves, o considerou (palavras oficiais do general) "como um indigno de um oficial do Exército,
devido a sua postura problemática e à indisciplina na carreira". Logo depois, o fascista sem noção e insensato foi para a reserva remunerada. A seguir, ele recebeu convite para ingressar na política. Elegeu-se deputado federal por vários partidos, uns de direita, como o extinto PFL, outros de aluguel, como o PRP, com o voto, primeiramente e por muito tempo, dos militares reformados de baixo escalão (soldados, cabos, sargentos e mulheres viúvas e pensionistas humildes desses simples militares). Sei que já há algum tempo muitos militares reformados de escalões superiores e até mesmo da ativa votam nesse político medíocre e de atuação polêmica e extremada, que tem saudade dos tempos dos combates (que ele nunca participou) da década de 1970 entre os governos militares e a esquerda armada. Contudo, muitos não votam nele, porque sabem que o Bolsonaro não é sério, nunca foi e nunca será. O deputado tem saudade do que ele não participou: a época da repressão contra os grupos de esquerda (somente para ficar nisso), porque, simplesmente, não tinha idade para ter participado desse tempo. Ainda bem. E sabem por quê? Porque se ele é realmente o que aparenta e diz ser (Bolsonaro pode ser um fanfarrão), possivelmente seria integrante de órgãos como DOI-CODI, Dops, Cisa, Cenimar e Ciex. Aí, eu me pergunto: o que ele faria com os prisioneiros?
devido a sua postura problemática e à indisciplina na carreira". Logo depois, o fascista sem noção e insensato foi para a reserva remunerada. A seguir, ele recebeu convite para ingressar na política. Elegeu-se deputado federal por vários partidos, uns de direita, como o extinto PFL, outros de aluguel, como o PRP, com o voto, primeiramente e por muito tempo, dos militares reformados de baixo escalão (soldados, cabos, sargentos e mulheres viúvas e pensionistas humildes desses simples militares). Sei que já há algum tempo muitos militares reformados de escalões superiores e até mesmo da ativa votam nesse político medíocre e de atuação polêmica e extremada, que tem saudade dos tempos dos combates (que ele nunca participou) da década de 1970 entre os governos militares e a esquerda armada. Contudo, muitos não votam nele, porque sabem que o Bolsonaro não é sério, nunca foi e nunca será. O deputado tem saudade do que ele não participou: a época da repressão contra os grupos de esquerda (somente para ficar nisso), porque, simplesmente, não tinha idade para ter participado desse tempo. Ainda bem. E sabem por quê? Porque se ele é realmente o que aparenta e diz ser (Bolsonaro pode ser um fanfarrão), possivelmente seria integrante de órgãos como DOI-CODI, Dops, Cisa, Cenimar e Ciex. Aí, eu me pergunto: o que ele faria com os prisioneiros?
Parte 2 - O capitão vira deputado, observações do repórter
Estou a falar do deputado Jair Bolsonaro porque ele deu uma entrevista ao CQC que foi lamentável em todos os sentidos, principalmente no fim do, digamos, colóquio. Porém, quero lhes dizer uma coisa: logo após saber da existência do Bolsonaro, em 1986, fui para Brasília em 1988 e fiquei a morar naquela cidade por longos 20 anos. Retornei ao Rio de Janeiro em 2009. Em Brasília, trabalhei como jornalista na imprensa privada (privada nos dois sentidos, tá?) e no setor público (Câmara dos Deputados por quase 10 anos, Câmara Distrital por dois anos, Ministério da Saúde, Funasa e Radiobrás, dentre outros), sempre na área de política. Como se vê, não tinha como não conhecer, pessoalmente, o capitão e deputado Jair Bolsonaro. Fui responsável por uma coluna militar que era publicada no jornal diário "BSB Brasília". Deram-me a coluna. Não a pedi. O nome da coluna era "Vida Militar". Tinha outra coluna, no mesmo jornal, que era dedicada aos servidores civis. Outro colega a escrevia. Eram os idos de 1990. Como a minha coluna era para os servidores militares, obviamente que um dia eu iria conhecer e escutar, infelizmente, o Jair Bolsonaro — o Capitão Bomba! Fui ao gabinete dele para falar de sua luta pelos reformados, viúvas e pensionistas no âmbito militar. Ele quando fala e fica nervoso engole as sílabas. Mesmo quando se acalma, não fica, aparentemente, calmo. É como se, de repente, pudesse acontecer algo inusitado. Suas mãos são (sempre) inquietas e seu olhar direto e agudo. Xingava o Collor, o Governo Collor, o ex-presidente Sarney e toda a esquerda. Estava iniciando seu primeiro dos seus seis mandatos e ainda estava a conhecer a Casa. Bolsonaro também xingava os generais e dizia, para mim (em off), que eles eram uns borra-botas, uns covardes, que entregaram o governo aos civis e que, portanto, não os respeitava. A minha coluna era sobre a vida militar (reivindicações, aposentadoria, aumento de soldos, eventos, estratégias para aprovar projetos etc). Comentei com o meu editor sobre as palavras do Bolsonaro, e ele me disse, e com razão: "Davis, o que ele afirmou para você é o que ele fala em público, inclusive na tribuna do plenário". Era verdade. Bolsonaro sempre xingou, desde quando ameaçou detonar uma bomba na Vila Militar no já longínquo ano de 1986. Ele sempre se mostrou racista (como prova o vídeo da entrevista para o CQC), se mostrou contra os índios, as cotas, as esquerdas, a democracia, as mulheres, os pobres, os sem terra, os trabalhadores sindicalizados ou não, os gays e todo e qualquer grupo social que reivindica visibilidade, igualdade de direitos, inclusão social, proteção contra as agressões, ou seja, cidadania.
Parte 3 — Truculência como atividade política
Depois de quase 30 anos das primeiras eleições para governadores (1982) após a queda da ditadura militar, o mezzo-fascista Jair Bolsonaro continua a "guerrear" na Guerra Fria, tal qual um dinossauro fora de seu tempo ou como um general ou coronel aposentado do Grupo Guararapes, a destilar ódios quixotescos e a destratar grupos sociais da maneira mais sórdida, pérfida e cruel possível. Poder-se-ia dizer que Jair Bolsonaro é um homem mau. Tenho motivos para considerá-lo assim. Em maio de 2008, se não me engano, na Comissão de Relações Exteriores, Jair Bolsonaro, de forma abrupta e mal-educada interrompeu a audiência pública que tratava das terras indígenas da reserva Raposa-Serra do Sol, em Roraima. Estava presente à reunião o ministro da Justiça e hoje governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, o governador de Roraima, deputados, policiais da PF, os arrozeiros (fazendeiros) que queriam continuar nas terras dos índios, bem como, evidentemente, jornalistas e os maiores interessados: os índios. Era uma reunião tensa, por causa dos diferentes interesses e protagonistas. Fui designado pelo deputado Urzeni Rocha (PSDB/Roraima), que defendia os interesses do "homem branco" na região, para cobrir a sessão.Trabalhei para o deputado pelo tempo de dois meses. Foi difícil trabalhar para ele esse tempo, mesmo curto ou pouco. A radicalização estava no ar. Sentei-me na última fila das cadeiras da Comissão, que estava muito cheia, porque a briga em Roraima estava feroz, e, além disso, o governador de Roraima era do DEM — ex-PFL (UDN/Lacerda) —, o pior partido do mundo, o que, sobremaneira, contava muito para que a situação no estado amazônico estivesse em pé de guerra. Como todo mundo sabe, mesmo os desavisados, onde o DEM (ex-UDN, Arena, PDS, PFL) pisa não nasce grama. É mais ou menos como a cavalaria de Átila, o rei dos unos. Os tucanos estão a trilhar o mesmo caminho (vide Yeda Crusius e a cúpula paulista). Que glória, não? Bem, voltemos ao assunto. Estou na última fila a acompanhar a sessão. Quando olho para a fila da frente, vejo o capitão Jair Bolsonaro, irriquieto deputado, a balançar a cabeça e a olhar ferozmente para o ministro da Justiça, Tarso Genro. Pensei: "vai dar merda! O boçal está presente"... Dito e feito. O capitão, ou melhor, o ex-capitão considerado indigno para o Exército, eleito com a maioria dos votos do segmento da família militar mais humilde, começa a bramir, a vociferar, a brandir... Voz altissonante que rasga o espaço e interrompe o falar do ministro Tarso Genro, que, apesar de estupefato, mantém-se calmo, e ouve a seguinte provocação do ex-militar: "Terrorista!... Você participou de grupos terroristas"... Começou o bate-boca. Tarso Genro disse que os fazendeiros (arrozeiros) atacaram os índios e o posto da Polícia Federal. Ele argumentou: "Isto é terrorismo!" Bolsonaro replicou: "Terroristas são os que invadem terras!" (É a direita sempre a favor do establishment). Chegou a turma do deixa-disso e a discussão acabou, por enquanto... Um índio de Roraima muito revoltado, que estava em pé, atrás da última fila de cadeiras onde eu estava sentado, jogou um copo d'água nas costas do Bolsonaro. O deputado partiu para cima do índio, completamente atordoado e alucinado e a espinafrá-lo. A Polícia Legislativa o segurou e pediu para que o trepidante parlamentar se acalmasse. Eu olhei para o deputado (estava muito perto dele e do índio) e percebi que ele estava muito suado e ofegante. Ele rapidamente se retirou do recinto. Tinha conseguido o que queria: ofender o Tarso Genro, defender os fazendeiros (os verdadeiros invasores) e talvez adiar o processo de retomada das terras pelos indígenas, o que não aconteceu. O Governo Lula não deixou. É assim que a banda toca na política. Na Câmara não há espaço para inocentes. Os grupos econômicos são poderosíssimos e têm o apoio, irrestrito, da imprensa comercial e privada (privada nos dois sentidos, tá?). A luta política é árdua, cruel e cansativa. Todos, na Comissão, por alguns minutos se calaram. Aconteceu uma pausa e a sessão foi reiniciada.
Parte 4 — Confusão ideológica, a direita raivosa
Jair Bolsonaro é recorrente quando se trata de agredir seus adversários ou as pessoas que ele acha que são contrárias aos seus valores ou ideologia, coisa que eu acho que ele não sabe o que é. Sua conduta é essa. Ele é nitidamente confuso. Trata-se de um brucutu. Conheci militares educadíssimos, alguns muito tímidos em sociedade, além de serem liberais no que concerne à educação dos filhos e à visão de mundo. Existem civis brucutus tão ou mais que o Bolsonaro. Se eu fizesse uma lista desses civis não terminaria hoje. Acontece que o ex-militar é o fim da picada. Tem a sensibilidade de um elefante dentro de uma loja que vende cristais. Entretanto, o pior nele é a burrice. Não que ele seja o burro tradicional. É outro tipo de burrice: a da falta de percepção e abstração — também conhecida como inteligência espacial. É a burrice de não perceber que o Brasil mudou, que a sociedade é outra, que os tempos são outros e que não cabe mais neste País, a sétima economia do mundo, fazer política com truculência, ameaças, xingamentos e intimidações, principalmente contra os diferentes grupos étnicos e sociais que vicejam no Brasil. Bolsonaro não entende que o Brasil é uma das três maiores (Estados Unidos, Índia e Brasil) e estáveis democracias do mundo. Tanto não compreende que vou dizer a vocês, meus prezados, o que ele afirmou após o burlesco episódio com o índio. "É um índio que está a soldo aqui em Brasília, veio de avião, vai agora comer uma costelinha de porco, tomar um chope, provavelmente um uísque, e quem sabe telefonar para alguém para a noite sua ser mais agradável. Esse é o índio que vem falar aqui de reserva indígena. Ele devia ir comer um capim ali fora para manter as suas origens". Não é preciso dizer nada, não é meus prezados? Ele age também com esse mesmíssimo desprezo contra outros grupos étnicos. É recorrente o nosso pequeno Mussolini.
Enfim chego à conclusão que o Bolsonaro conseguiu o queria. Depois de se mostrar intolerante com todo mundo na entrevista dada ao CQC, o deputado vai ter sérios problemas para enfrentar. A Comissão de Ética da Câmara e a OAB vão pedir sua cassação. Ele percebeu a seriedade do seu caso, tanto que solicitou ao Conselho de Ética que o ouça sobre os fatos.
Finalmente, faço as seguintes perguntas a vocês, meus prezadíssimos: E o índio?... O que aconteceu com ele? Juntamente com alguns repórteres fui ao encontro dele. Sem combinarmos, perguntamos: "Por que jogou água no deputado?" O intrépido índio respondeu: "Peguei um copo de água e joguei nele porque não tinha flecha".
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