domingo, 27 de novembro de 2011

Pouco mais de 2 anos sem Mercedes Sosa @dilmabr

Breve homenagem com o intuito de que vocês senhores leitores, ouçam ainda mais a voz e a palavra desta grande artista.
Por César Antonio Martín.

No dia 4 de outubro de 2009, numa clínica do bairro de Palermo, Buenos Aires, passava para a imortalidade uma das intérpretes musicais mais significativas da América latina. Haydée Mercedes Sosa, uma professora de ensino fundamental de origem indígena nascida na Província de Tucumán, falecia com 74 anos de idade. Mercedes oferecia para a posteridade o legado duma voz cantora única, e uma carreira artística que, ao longo de 50 anos de trajetória, soube misturar a virtuosidade musical com o comprometimento político e social.

Com a partida física de Mercedes Sosa, pode dizer-se que Argentina e a América toda ficaram sem músicos daquelas gerações anteriores, que interpretavam a música popular com sentimento e respeito, alevantando suas vozes com intenções de embelecimento e mudança da vida dos ouvintes. Sosa possui renome internacional por ser talvez a mais original executante de notáveis compositores desde Cuchi Leguizamón, Manuel Castilla, Jaime Dávalos, Eduardo Falú, Atahualpa Yupanqui, Violeta Parra e Alfredo Zitarrosa, até Charly Garcia, Fito Páez e Milton Nascimento. Justamente é graças ao querido Milton que desde meados dos anos 70s a voz de Mercedes cativou boa parte do público brasileiro e lusófono.
Exilada e proibida durante a ditadura argentina dos anos 70s, Mercedes foi a primeira figura argentina contratada para gravar no importante selo erudito Deutsche Grammophon, ganhando reconhecimento internacional, cantando em eventos desde Nova York até Tokyo. Passados os anos mais escuros da nação, ela voltou imediatamente, abraçando o cancioneiro das novas gerações latinas, incluindo no seu repertório à “Nova Trova” cubana e os jovens artistas do folk-rock da América do Sul. Em 2008 apresentou-se junto com Susana Baca (peruana) e Lila Downs (mexicana) em eventos musicais pelos direitos da mulher – tive o privilégio de assistir a estes eventos, e testemunhar como o público rogava para que sua cantora de 73 anos de idade, pelo amor de Deus, não descesse do palco. A participação de Mercedes estendeu-se por mais de duas horas.
E, como desde o começo da sua trajetória, participou dos festivais tradicionais da canção folclórica argentina praticamente até o ano da sua morte. Atualmente a declaração da voz de Mercedes Sosa como patrimônio intangível da humanidade (título que obteve o clamor do grande Carlos Gardel), encontra-se em estudo e tratamento pelo setor cultural da UNESCO.
Há pouco mais de dois anos uma das maiores vozes da América eternizava-se. Um canto que, para emocionar a multidões do mundo inteiro, não precisava seguir regras do mercado discográfico. Ainda com uma idade avançada, Mercedes conseguia convocar audiências mais numerosas do que os autodenominados pseudo-“renovadores do folclore” (jovens intérpretes que atingiram a massividade misturando a música pop internacional e sem raiz, com alguns elementos tradicionais). Por tudo isso, cantora refinada e popular, que transitou palcos acadêmicos e grupos de amigos ao redor de uma fogueira, Mercedes Sosa, aqui te lembramos, agradecendo por essa tua voz que sempre acariciará nossos ouvidos.
César Antonio Martín é jornalista e apreciador cultural argentino.
Créditos fotográficos: folha.uol.br / abracadabra.weblog.com.pt

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