Por Altamiro Borges
Na coluna Painel da Folha, a jornalista Renata Lo Prete publicou nesta semana preocupantes informações sobre o controle político na programação da emissora católica TV Canção Nova:
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Despejados da tela. A rede Canção Nova, emissora de TV e rádio ligada ao movimento católico Renovação Carismática, resolveu tirar do ar os programas comandados pelos deputados federais Gabriel Chalita (PMDB-SP) e Eros Biondini (PTB-MG), pelos estaduais Edinho Silva (PT-SP), Paulo Barbosa (PSDB-SP) e Myriam Rios (PDT-RJ), e pela primeira-dama paulista, Lu Alckmin.
Embora a decisão tenha sido tomada no atacado, o elemento precipitador foram as reações negativas de fiéis e lideranças da igreja à recente incorporação de Edinho, presidente do diretório estadual petista, ao quadro de apresentadores da Canção Nova.
Conexões "Justiça e Paz", o programa de Edinho, estreou em 3 de novembro tendo como convidado Gilberto Carvalho. Principal mentor político do deputado petista, o secretário-geral da Presidência foi também articulador da aproximação entre a campanha de Dilma Rousseff e a Canção Nova no segundo turno da eleição presidencial. Até então, a candidata vinha sendo duramente combatida por religiosos da Renovação Carismática.
Doutrina. O programa de Edinho deu origem, nas redes sociais, ao movimento #CançãoNovaSemPT. Um panfleto traz em vermelho o nome do partido e as expressões "aborto", "casamento gay" e "Teologia da Libertação".
Tenho dito. Procurado pelo Painel, o Conselho Deliberativo da Fundação João Paulo 2º, mantenedora da Canção Nova, confirmou a decisão de suspender os programas, tomada na sexta-feira passada. Em nota, agradeceu "a dedicação e o empenho" dos seis apresentadores e manifestou "respeito às suas atuações públicas".
22/11:
Genuflexório. Foi o bispo de Lorena, d. Benedito Beni, quem comunicou a Edinho Silva a decisão da TV Canção Nova de tirar do ar o programa do presidente do PT-SP, lançado em 3 de novembro. Durante a campanha eleitoral, d. Beni defendeu a divulgação de folhetos que pregavam boicote à candidata Dilma Rousseff, a quem os religiosos atribuíam posição dúbia em relação ao aborto.
“Ele disse ter sofrido pressões”, relata Edinho. Fiéis contrários à incorporação do petista ao quadro de apresentadores da Canção Nova promoveram movimento que incluiu, além de protestos, o estímulo à suspensão das doações que ajudam a financiar a emissora.
Sem-tela 1. Edinho diz ter sido convidado pela Canção Nova, em 2010, a comandar um talk-show que aproximasse as pastorais sociais da Igreja Católica e a Renovação Carismática, mais conservadora. “Lamento que esse espaço tenha sido suprimido”.
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Crimes numa concessão pública
As informações da colunista da Folha são gravíssimas. Elas confirmam que houve o veto e que ele foi político, o que já caracteriza crime numa emissora de televisão – que é concessão pública. Mais do que isso: o veto visou atingir um setor da sociedade, ligado à igreja progressista, e um partido de esquerda, o que corrobora a tese de que não qualquer pluralidade na televisão brasileira.
A programação só foi censurada após a estréia do presidente do PT. Antes, vários “políticos” usavam aquele palanque eletrônico para se projetar politicamente. Entre eles, dois pré-candidatos a prefeito – Gabriel Chalita, que deixou o PSDB, bicou no PSB e hoje é um nome forte do PMDB na capital paulista; e o tucano Paulo Barbosa, secretário de Geraldo Alckmin, cotado para a disputa em Santos.
Ausência de instâncias democráticas
Os outros três “apresentadores” também são ligados a forças conservadoras – inclusive a primeira-dama Lu Alckmin. Seu marido, o governador tucano Geraldo Alckmin, tem fortes vínculos com a seita Opus Dei, nascida durante a ditadura franquista na Espanha. Há relatos de que vários líderes da Renovação Carismática são adeptos desta corrente ultra-direitista.
A censura da TV Canção Nova poderia resultar em punições e propiciar rico debate sobre as distorções na televisão brasileira. Mas a ausência de qualquer canal de participação democrática da sociedade, como os Conselhos de Comunicação Social previstos na Constituição, impede essa reflexão. Quem manda nas concessões públicas são entes privados, como objetivos “privados”.
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