Luiz Gustavo Pacete - Portal Imprensa
Polêmico e criticado por correntes políticas opostas ao "Movimento de Blogueiros" ou também conhecido como "Blogueiros Progressistas", o jornalista Alberto Perdigão ganhou corpo e visibilidade quando passou a defender, publicamente, a candidatura da presidente Dilma Rousseff, em 2010. O grupo alegava que a candidata teria sido vítima de inverdades e manipulações por uma parte da imprensa, que, declaradamente, apoiava o então candidato José Serra.
Independente do termo ou da linha ideológica atribuída ao grupo, o foco do jornalista, que também é pesquisador de comunicação e mídia digitais, é discutir a comunicação pública. Atualmente, ele é um dos articuladores do movimento em Fortaleza (CE) e defensor da teoria da Comunicação Pública, que, segundo ele, é uma comunicação que vai do lado oposto ao que se entende atualmente por 'público'. "Uma comunicação pública ideal só será efetiva quando estiver nas mãos do povo e não for representada por formatos institucionalizados".
Perdigão também é é autor do livro "Comunicação Pública e TV Digital", uma pesquisa sobre a TV pública no advento das mídias digitais. Em entrevista à IMPRENSA, Perdigão fala sobre o conceito de comunicação pública, o papel das emissoras públicas e sobre o "Movimento Blogueiro" no país. Além de criticar a falta de entendimento por parte dos empresários de radiodifusão, com relação ao Marco Regulatório da Mídia.
Qual a correta definição de comunicação pública?
A discussão sobre a comunicação pública ainda é um tema muito novo nos governos municipais, estaduais e até mesmo no Federal. A própria academia ainda vê o assunto como novidade. Mas o que preocupa é que a sociedade está distante de se apropriar das práticas relacionadas à comunicação pública.
O que exatamente é esse conceito?
É um novo parâmetro que surge para sepultar de vez o formato de comunicação institucional instituído por governos militares, que os Estados Unidos propuseram para a América Latina na década de 1960. Esse movimento de comunicação pública prima por uma comunicação dialógica entre os poderes públicos e o cidadão.
As emissoras públicas de TV se enquadram neste modelo?
Tevês, como a Fundação Padre Anchieta, mesmo com seus altos e baixos, e a própria TV Brasil, são experiências importantes. Vejo que precisam evoluir, mas representam a saída da inércia. O que em minha opinião é condenável e perigoso é que a TV Brasil tente estabelecer uma rede com as outras emissoras públicas estaduais sem se preocupar em exigir que elas criem conselhos curadores. Eu não vejo sentido no fato de o Governo Federal se preocupar em oferecer programação para televisões estatais onde uma meia dúzia de políticos e o governador local ficam mandando.
Mas esse mundo ideal está próximo de tornar-se realidade?
Ainda não, é algo que não está em debate. Quero conversar com o Nelson Breve (atual presidente da Empresa Brasil de Comunicação) para dizer isso a ele, mesmo que eu seja o primeiro.
Explique melhor o papel da TV pública neste conceito. Não existe certa confusão de termos?
A TV pública no Brasil ainda é algo a ser construído... Acredito que é possível que nossa TV pública construa um projeto político, mas isso leva tempo. O importante é que já saímos da inércia. Várias coisas precisam ser pensadas, um projeto de financiamento... A EBC, por exemplo, acaba sendo contaminada em relação à expectativa do governo pelo fato de receber verba pública. Isso pode continuar assim? Talvez. Mas é possível que existam outras maneiras? Não sei. Uma cobrança de taxa na compra de televisores, como se faz na Inglaterra, ou outras maneiras de financiamento... Outra questão é a tecnologia, não só da EBC, mas de toda a rede que ela estabeleça no país. Muitas vezes, você moderniza uma emissora que regionalmente continua vivendo sobre contaminação política. Enquanto esses projetos não forem reconstruídos, nossa TV continua a ser desinteressante.
As redes sociais representam um marco nessa comunicação pública que você defende?
Ela caminha juntamente; é complementar. Por que a cultura digital é horizontal e destrói por completo as velhas formas de comunicação. Ela promove a circulação do poder. O que esses fenômenos trazem de novo é que a informação circula; com isso, o poder circula e é este o anseio da sociedade atual.
Qual seria o papel do governo nesse movimento?
É muito bom que esse movimento comece pelo Governo Federal. Ele pode servir de inspiração para que estados e municípios façam o mesmo. Mas a comunicação pública só vai existir efetivamente quando o público se apoderar dela. É necessário que todos se mobilizem; também é muito importante que exista um movimento de baixo para cima.
Está acontecendo na velocidade necessária?
Está muito atrasado. Essa mobilização é lenta porque hoje quem está com o poder não quer entregá-lo ao povo de forma efetiva. Os poderosos sabem que quando o poder entra em uma roldana de comunicação pública, a informação vai ser compartilhada.
Mas, justamente pelo fato de ter medo de ficar descoberto, o governo não dificultaria a democratização da comunicação?
Me preocupa se não vamos conseguir avançar nessa discussão. O governo da Dilma e do Paulo Bernardo (Ministro das Comunicações) me parece tímido em relação a um projeto de comunicação efetivo.
Você quer dizer regulação?
Sim. No momento em que o governo não assume seu papel de protagonista em relação ao novo marco regulatório, não avançaremos. Acho um equívoco o governo não se pronunciar claramente sobre esse assunto. Ele é dúbio neste aspecto e não está contribuindo em nada com o debate. Ele deveria assumir a posição que lhe cabe e dizer à sociedade de forma clara o que ele pensa.
A sociedade brasileira tem dificuldade em entender o conceito de regulação da mídia?
Eu sempre faço uma comparação com a Argentina. Lá, o governo sentou com as partes interessadas e chegou a um consenso. Não fizeram a melhor do mundo, mas fizeram a lei que era possível. Equador avançou, Venezuela avançou. E nós?
Mas são contextos diferentes do Brasil. Você quer dizer que concorda com a posição desses governos em relação à imprensa?
A comparação que eu faço não é com o conteúdo dessas leis e sim com a atitude do governo de ter feito algo.
Não lhe parece que essa discussão está carregada de ideologia?
Eu acho que as empresas confundem liberalismo com liberdade. O liberalismo no Brasil está resguardado, as empresas todas vão continuar atuando e fazendo dinheiro. Os empresários de radiodifusão poderão fazer fortuna. Mas a liberdade de empresa não pode ser confundida com a liberdade de imprensa. A liberdade de imprensa tem uma função social e tem que ser muito maior do que a questão econômica. Eu acho muito maldoso misturar regulação com censura.
Você é um dos articuladores do chamado "Movimento dos Blogueiros" ou "Blogueiros Progressistas". Acredita que o grupo está disposto a discutir questões importantes para o país ou quer exercer um papel político partidário defendo um governo ou outro?
A eleição da Dilma foi um marco fundamental para o "Movimento de Blogueiros". Os meios de comunicação, de maneira em geral, fizeram uma opção pelo Serra e esse grupo surgiu para desmentir mentiras e distorções publicadas pela mídia à época da eleição. Com isso, surgiu uma rede de contra-informação ou contrapoder. O movimento não tem uma intenção partidária ou eleitoral e nem CNPJ, ele tem, apenas, uma identidade política que é virtual e colaborativa. Se somos chamados de progressistas ou não, pouco importa. O que importa é que não vamos abandonar a luta.
Alberto Perdigão, jornalista, editor do Blog da Dilma em Fortaleza e um dos organizadores do II WebFor - Comunicadores Digitais do Nordeste - dias 14 e 15 de abril de 2012.
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