sábado, 10 de dezembro de 2011

Musa das privatizações tucanas volta a ameaçar o Brasil

Os tucanos anunciam que a “musa das privatizações”, a economista Elena Landau, vai coordenar a formulação de um diagnóstico do país e elaborar uma nova agenda de proposições que servirão de base ao programa partidário em futuras eleições. Em entrevista ao jornal Valor Econômico, ela disse que “as privatizações foram muito boas para o país” e que tem “orgulho de ter participado delas".
Falseia a realidade ao citar como exemplo os “avanços obtidos em setores como o de telecomunicações e o elétrico”, um desdastre se comparado à evolução em outros países. Mesmo onde o Estado controla esses setores, os avançoes são superiores aos do Brasil. Landau, como tucana bem adestrada, repete a farsa de que o privado sempre vai bem e tudo que é estatal vai mal. "A influência política é deletéria às empresas [estatais]", disse, como se interesses muito mais escusos não influenciassem os grupos privados.
Elena Landau ficou conhecida por suas ligações explícitas com o banqueiro tucano Daniel Dantas, figura central da confraria demolidora que se formou no Brasil com o surgimento do PSDB. Quem conhece bem o tucanato sabe do que ele é capaz. É o caso do jornalista Bob Fernandes, ex-redator-chefe da CartaCapital e atualmente à frente da Terra Magazine, que, segundo o jornalista do O Globo Ricardo Noblat, recebeu um documento que era "dinamite pura". "Se divulgado, comprometerá o futuro político de alguns dos mais emplumados tucanos", escreveu Noblat.
Na ocasião, a revista disse que por não ter provas suficientes da autenticidade do documento decidiu, "por ora", não publicá-lo. Mas CartaCapital levantou algumas questões a respeito — por serem "públicas e internacionalmente notórias". Uma delas saiu no Wall Street Journal, na época, e definiu as relações de Dantas com o tucanato com essas palavras: "A decisão do Citigroup (de afastar Dantas de seus negócios) reflete o declínio na sorte (do banqueiro brasileiro) desde que o esquerdista Partido dos Trabalhadores venceu as eleições em 2002. Seus negócios prosperaram durante o governo anterior, com quem mantinha relações próximas."
Manobras de FHC
O jornal referia-se ao fato de Dantas ter se tornado o controlador ou sócio de algumas das principais empresas privatizadas durante o governo Fernando Henrique Cardoso (FHC). Segundo CartaCapital, o repórter do Wall Street Journal deve ter se baseado em informações da imprensa brasileira. A revista lembra que no dia 15 de maio de 2002, por exemplo, o jornalista Fernando Rodrigues relatou em sua coluna na Folha de S. Paulo — informação reproduzida outras vezes pelo mesmo jornal — um encontro entre Dantas e o então presidente da República, FHC.
A pauta era um pedido do banqueiro para que o governo o apoiasse na briga contra os fundos de pensão, liderados pela Previ, pelo controle das empresas de telefonia privatizadas. "À época, diretores da Previ eleitos pelos pensionistas e ligados ao PT queriam fazer uma devassa para entender os motivos que levaram o fundo a investir tanto dinheiro em uma sociedade na qual só Dantas dava as cartas", escreveu CartaCapital.
Logo depois, sob a justificativa de enquadrar a Previ às normas de pagamento de Imposto de Renda, o governo FHC anunciou uma intervenção na fundação, só encerrada após a posse de Lula seis meses depois. Algum tempo depois, começaram a circular boatos de que havia um dossiê contra o prefeito paulistano e concorrente de Lula à Presidência da República em 2002, o tucano José Serra. Seriam novas revelações sobre a sociedade entre Verônica Serra, filha do prefeito, e a irmã de Dantas, também chamada Verônica. CartaCapital revela que no fim dos anos 1990 as duas foram sócias no portal Decidir.com, sediado em Miami.
Confraria demolidora
As peripécias da confraria demolidora tucana são bem conhecidas. Mas elas se destacam mesmo nas privatizações. (Um caso pouco falado é o da privatização do Banespa, uma autêntica patifaria. Serra liderou uma revoada de tucanos para o governo de Luiz Antônio Fleury com a única finalidade de tomar posse do banco paulista.) Talvez por isso Dantas avisou que se fosse convocado a depor em algunas daquelas extravagantes CPIs que surgiram no rastro da manipulção midiática do “mensalão” seria capaz de "derrubar a República".
Há na CPI dos Correios documentos que teriam revelado o repasse de cerca de R$ 150 milhões (estima-se muito mais) das empresas controladas por Dantas a agências de Marcos Valério, no esquema de “caixa-dois” criado pelos tucanos. "A digitais do Dantas surgiram na lista de depositantes", disse na ocasião a então senadora Ideli Salvati (PT-SC). Para ela, deixara de ser mera suposição a possibilidade de Dantas estar na gênese daquela crise política. Valério teria dito que o banqueiro pediu-lhe para intermediar encontros com representantes do PT.
Quando Dantas depôs na CPI, sequer tocou em algo que sustenta a República. A bancada do ex-PFL, atualmente DEM, se apresentou afiada para fazer a defesa do banqueiro. O PSDB também ficou na miúda. Isso porque, se não bastassem os altos interesses investidos nos negócios administrados por Dantas, havia uma nítida ligação ideológica entre eles. O banqueiro era tido por Mário Henrique Simonsen — ícone do liberalismo brasileiro — como um de seus três melhores alunos na Fundação Getúlio Vargas.
Dantas como referência
Quando Elena Landau comandou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Dantas era uma de suas referências. Tanto que a “musa das privatizações” mal deixou o cargo e passou a prestar consultoria, em tempo quase integral, ao banco de Dantas. Ela pertence àquele grupo que marcou época no reinado de FHC, formado por figuras como Pérsio Arida, André Lara Rezende, Edmar Bacha, Eduardo Modiano, Armínio Fraga, Gustavo Franco, Edward Amadeo e o ex-ministro da Fazenda, Pedro Malan.
Era a "turma dourada" do Departamento de Economia da PUC do Rio de Janeiro do final da década de 1970 e início dos anos 1980, neoliberal à raiz do cabelo. Alguns fanáticos, muitos inescrupulosos. Eles comandaram aquele processo pelo qual os interessados em comprar empresas do Estado iam buscar dinheiro no BNDES. Na crise, a mídia inflou as denúncias contra os aliados do governo e ignorou as tramas tucanas operadas por Landau e Dantas. A volta dela à cena como vértice da construção de um projeto tucano é um claro sinal de que o tucanato não cansa de tentar levar o país a voltar a andar de marcha-ré.

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