segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Privataria Tucana - Inimigos do Estado

por Antonio Nahas Jr. (*) - Diário Popular
Se você atrasou em dar seu presente de Natal a alguém e quer matar esta pessoa de raiva, presenteie-o com o livro A Privataria Tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Junior, editado pela Geração Editorial. O livro não é ruim, pelo contrário. O título não faz jus ao seu conteúdo, pois confere ao livro certo ar de vulgaridade. O autor joga com as palavras, comparando privataria à pirataria pura e simples.
Mas, é bem escrito, muito bem documentado e assustador. O que dá raiva são as revelações que ele traz. Para quem não se lembra, as privatizações assolaram o Brasil nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso, transferindo do setor público ao setor privado empresas, bens, concessões, direitos de lavra e exploração de petróleo.

A economia mineira e o Vale do Aço em particular foram muitos atingidos: A Vale do Rio Doce; a Cenibra, propriedade da Vale; a Ferrovia Vitória Minas, a ACESITA e a Usiminas mudaram de mãos. Tudo isso aconteceu sob a influencia do desmoronamento da economia soviética e a afirmação da supremacia da ordem capitalista no cenário econômico mundial. A então primeira ministra britânica Margareth Thatcher simbolizava este momento.
Pelo lado de cá, boa parte dos economistas realçava que o Brasil deveria se abrir mais ao mercado mundial; ser mais competitivo; atrair capitais estrangeiros; abrir mais espaço à iniciativa privada, já que setores fundamentais da economia ainda eram dominados pelo Estado.
E aí tudo começou pelo setor siderúrgico, a Usiminas em particular.
Olhando a história pelo retrovisor, é forçoso reconhecer que o Brasil mudou; as telecomunicações se modernizaram brutalmente; a indústria ganhou novo fôlego. O Estado brasileiro tinha que mudar e tem que continuar mudando.
Isto não nos impede de ter uma visão crítica daquele momento e é aí que entra o livro do Amaury. O autor procura detalhar como alguns setores ligados aos tucanos se articularam para tirar o maior proveito econômico possível das privatizações. Basicamente, com informações privilegiadas, contando com o apoio do Banco do Brasil e do BNDES, um pequeno grupo se articulava contando com o apoio dos poderosíssimos fundos de pensão das estatais e arrematava nos leilões bens de grande potencial econômico. Os lances feitos nos leilões eram, por sua vez, financiados pelo próprio governo, através do BNDES.
O autor demonstra a intencionalidade dos gestos, mas preserva cuidadosamente o então presidente Fernando Henrique Cardoso.
Só para a gente ter um exemplo, a Vale do Rio Doce foi arrematada no final dos anos 90 por cerca de 2,2 bilhões de dólares. A Mina de Conceição em Itabira era considerada já esgotada e a jazida de Brucutu não teve seu valor econômico adicionado ao valor daquela Companhia.
O resultado: hoje a Vale é avaliada em mais de U$ 200 bilhões de dólares. É uma Companhia que litiga sistematicamente contra o Governo, utilizando de todos os meios para diminuir seu recolhimento fiscal.
Os números do MDIC demonstram o peso do, digamos, erro dos avaliadores. Só no ano passado, Itabira foi o segundo maior município exportador de Minas Gerais, contribuindo com 3,4 bilhões de dólares para a nossa balança comercial. Já São Gonçalo foi o quinto, exportando 1,9 bilhões de dólares. Isso só no ano de 2011.
De toda maneira, deve ter uma razão muito forte para este livro estar vindo à tona só agora. O autor é um jornalista renomado, um investigador incansável, com capacidade de superar todos os obstáculos. Ao longo do livro, proclama sua independência partidária e não deixa de dar umas bordoadas em Marcos Valério, o principal personagem do mensalão.
Porém, perto do que ele esclarece, o mensalão, que parte da mídia considera o maior escândalo de corrupção já descoberto no Brasil, surge como um jogo infantil feito para divertir crianças de colo.
Talvez por estarmos às vésperas do julgamento dos réus daquele caso, as denuncias contra a ação dos tucanos no processo de privatização venham à tona.
Mas, isto não importa. Independente das fontes, notícia é notícia e as denuncias devem ser investigadas. (*) Antônio Nahas Jr. é economista

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