Por Sandra Mieko Kudeken
Para: À Excelentíssima Senhora Presidente Dilma Roussef
Esta petição visa reescrevermos a história da Educação no Japão.
Pela continuidade do aprimoramento dos profissionais da Educação no Japão, com vistas à Multiculturalidade.
Pelo olhar sensível às crianças brasileiras tanto de escolas brasileiras quanto de escolas japonesas por parte dos governos brasileiros e japoneses através de um acordo bilateral.
Meu pedido é que você una-se à nossa causa, seja de que país for, em prol das muitas crianças que vivem hoje no Japão.
Meus sinceros agradecimentos por sua sensibilidade e cooperação.
Escrevo-lhe com o único objetivo de solicitar seu olhar à nossa causa, pois assim como eu, és mãe e como tal, compreende que muitas vezes a aparente causa isolada é também o anseio de muitas outras famílias.
Sou residente no Japão, entre indas e vindas, como toda dekassegui que ainda não aceitava sua condição de imigrante, há mais de 15 anos. Sou divorciada, mãe de dois filhos adolescentes, fui educadora em duas escolas brasileiras no Japão (talvez as maiores do ramo) e atualmente cumpro o mandato, seguindo para seu último ano, como Primeira Conselheira Suplente da Região 4 pelo Conselho de Representantes de Brasileiros no Exterior, o CRBE, instituído pelo então Senhor Presidente Luís Inácio Lula da Silva, pelo decreto 7.214 de 15 de Junho de 2.010.
Tenho o privilégio de fazer parte dos graduandos do Acordo Brasil- Japão UFMT e Universidade de Tokai através da Licenciatura em Pedagogia que atualmente capacita docentes, antes exclusivo das escolas brasileiras, até começo do curso com mais de cem escolas brasileiras espalhadas no Japão, hoje tendo seu número bem reduzido devido às grandes crises sofridas desde 2009.
A bem da verdade, um curso que à princípio seria concorridíssimo e restrito, mas devido ao retorno no começo do ano de 2009, como é de vosso conhecimento, de várias famílias, acabou por estender-se às pessoas que, à princípio, não teriam o direito de participar de tal projeto, como é o caso de tradutores e intérpretes de crianças brasileiras nas escolas públicas japonesas. E, que bom que pudemos ter o contato com esses profissionais, pois assim tivemos acesso às mais diversas informações, não fatos isolados, mas experiências trocadas entre os profissionais das escolas brasileiras e profissionais de escolas japonesas atuando diretamente com nossas crianças brasileiras. Fatos estes que podem ser comprovados através dos inúmeros trabalhos produzidos por graduandos do curso, todos em posse da Universidade Federal do Mato Grosso, especialmente em Cuiabá, cuja reitora é a senhora Maria Lúcia Cavalli Neder.
Segundo a própria AEBJ (Associação das Escolas Brasileiras no Japão) que com todo respeito ao trabalho desta Instituição, trata-se de uma associação de escolas e não uma representante oficial de todas as escolas no Japão, num Seminário apresentado em 2 de Setembro de 2.010 no Evento Focus Brazil, tendo a presença, entre outros, do então Subsecretário da SGEB, senhor Embaixador Eduardo Gradilone, existem hoje, segundo sua atual Presidente Senhora Maria Shizuko Yoshida, cerca de 5 mil crianças nas instituições brasileiras.
É bem verdade que este número já chegou à expressões maiores, e tem, a tendência de diminuir gradativamente, uma vez que as famílias brasileiras que dantes denominavam-se dekasseguis, hoje imigrantes, tomaram conhecimento de que se quisessem oferecer oportunidades reais de ascenção social e intelectual dentro da sociedade japonesa, necessitam optar pelas escolas japonesas e oferecer aos seus filhos, muitos trazidos desde tenra idade, outros nascidos no arquipélago, o direito de "ir e vir", seja se optarem viver como cidadãos japoneses, seja retornando ao país de seus pais, não os privando de oportunidades devido a barreira linguística, como ocorre à maioria de nossos alunos das escolas brasileiras.
Se temos hoje, cerca de cinco mil crianças nas escolas brasileiras, estima-se que, três vezes esse número, ou mais, estejam nas escolas públicas japonesas, pois numa reportagem recente da mídia brasileira no Japão, traz o relato de que, pelo menos, nove mil crianças brasileiras nas escolas japonesas necessitam de aulas particulares para a aprendizagem do japonês, sim, pasme, do japonês.
E, é aqui, exatamente que entra minha petição: um acordo bilateral que propicie a melhora da educação das crianças brasileiras no Japão, propiciando-as a oportunidade do bilínguismo, o direito de preservação de sua língua pátria e a língua adquirida. Algo que já foi solicitado por mim ao Senhor Excelentíssimo Ministro Antônio Patriota durante sua visita às autoridades brasileiras em 16 de Abril de 2010, tendo, naquela ocasião então, seu pleno apoio.
Sim, porque se não houver uma intervenção governamental, a condição de nossas crianças não mudará. Por mais que entrem no Shogakko ( Escola Primária) desde os seis anos de idade, nossas crianças já entram em condições desiguais de desvantagens linguísticas e culturais em relação às crianças japonesas, problemas que se estendem mesmo quando adentram ao Kooko (Ensino Médio) por não serem assistidas de forma gradual e constante, pois nem mesmo nas estatísticas anuais da educação pelo Ministério da Educação do Japão, fazem constar nossas crianças. São, em sua maioria, vistas como "filhos de dekasseguis que logo irão embora", não dispensando as atenções necessárias para que se desenvolvam.
Talvez a culpa seja dessa inconstante vida dekassegui que levamos até agora, motivando esse pensar japonês sobre a presença da comunidade brasileira no arquipélago, contudo, é possível identificarmos um novo movimento surgindo, quando os próprios japoneses, atentos á mudança de posição política e econômica de nosso país, o Brasil, demonstram o interesse crescente no aprendizado do português com vistas ao Gigante adormecido que se levanta para o mundo.
É nesse sentido que solicito sua sensibilidade para que nos permita prosseguir no aprimoramento de nossas qualidades docentes num Curso de Especialização, seja Lato Sensu ou quiçá, Strictu Sensu com vistas á Multiculturalidade, à fim de que tenhamos o preparo necessário para assistirmos nossas crianças, bem como, a possibilidade de termos o acesso, com o devido apoio, tanto do governo brasileiro quanto do japonês, das reais condições de nossas crianças, sejam nas escolas brasileiras, sejam nas escolas japonesas, onde estão, como já dito anteriormente, estima-se, pelo menos 20 mil crianças brasileiras. Pois somente os dados concretos nos possibilitarão diretrizes para uma educação eficaz! O que entendo ser o esforço não de um, mas de vários profissionais ligados e preocupados com a Educação.
O que temos vivido é o fruto dos vinte anos do Movimento Dekassegui. Não podemos mais viver à mercê de nossa própria sorte, mas precisamos e merecemos reescrever a história de uma nova comunidade brasileira que surge, especialmente ás crianças, não mais vivendo à mercê, seja de exploradores da Educação, que nada comprometidos com a mesma, veem essas crianças como meros números contábeis, limitando-as, ora de suportes pedagógicos, espaços físicos e reais condições de ascenção.
Solicito encarecidamente seu olhar à Educação das crianças brasileiras no Japão, futura comunidade que representará o Brasil, brasileirinhos que necessitam que façamos hoje, possibilitando-lhes um futuro melhor!
Com minhas melhores saudações, cordialmente.
Sandra Mieko Kudeken
Mãe, Educadora e uma simples Conselheira.
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