Alberto Perdigão – jornalista, editor do Blog da Dilma - aperdigao@terra.com.br
A cidadania ativa e a democracia participativa voltam à pauta de discussão na tarde de hoje (25), em Porto Alegre. A cidade é a capital brasileira que protagonizou de forma pioneira o orçamento participativo, o Fórum Mundial Social e onde governos e sociedade dialogam ampla e intensamente, cumprindo de forma exemplar os preceitos constitucionais e o direito humano fundamental à comunicação. O palco dos debates é o Conexões Globais 2.0 – festival internacional de cultura livre*, que ocorre até sábado (28), como evento paralelo ao Fórum Social Temático – tudo a ver. Estes encontros que ocorrem no entorno de grandes eventos sempre deixam a impressão de serem muito produtivos na construção e renovação do capital social, esta grande riqueza dos governos republicanos e democráticos. Por isso, dedico-lhe um artigo.
Assim pretendo registrar o primeiro encontro do gênero promovido por um governo estadual. A essência do encontro está explicitada no nome, Conexões Globais 2.0, que sugere a possibilidade do estabelecimento de redes virtuais de relacionamento cobrindo todo o planeta, mas também em qualquer território real deste planeta. A clareza da intenção do evento está revelada no slogan Mobilização social na internet - a democracia precisa da participação de todos. A realização do Rio Grande do Sul pode servir de exemplo às demais unidades da Federação e aos municípios, onde o avanço tecnológico da internet não corresponde a um avanço político, onde as redes sociais ainda não são utilizadas para o ativismo político fundamentado no diálogo.
No espaço de discussão intitulado painéis, grandes temas da atualidade são discutidos entre representantes do governo e da sociedade. Como As perspectivas da democracia e da participação popular em um ambiente desintermediado e hiperconectado ou O desafio de transformar o Estado em um espaço de gestão compartilhada. São exatamente os temas que tenho levado ao interior do estado do Ceará, na palestras que faço para públicos diferenciados. Cidadãos que, na mão inversa do Estado solitário e da cidadania muda patrocinados por governos fechados, autoritários, unívocos, estão interessados em se apropriar das mídias digitais, especialmente das redes sociais. Eles estão mais ou menos conscientes de que esta apropriação pode levá-los ao empoderamento de que precisam para atuar como agentes políticos.
Em Iguatu, por exemplo, falei para jornalistas e radialistas reunidos num congresso de profissionais da comunicação do interior cearense. Sobre o uso de blogs como ferramentas da verdadeira comunicação social - ou como instrumento de contra-informação e de contrapoder. Os colegas, a maioria deles com pouco letramento digital, reclamavam de que estavam na mão do prefeito, ou da rádio que estava na mão do prefeito ou de opositores do prefeito – políticos detentores de poder econômico nos municípios onde atuam. Impressionante os relatos de emissoras comunitárias patrimonializadas por políticos. Os poucos que já tinham blog no ar contavam as ameaças de morte e todo tipo de agressão que sofrem, por veicular notícias que contrariam os poderosos.
Esta é uma realidade que se repete em todo o Brasil mais pobre e menos escolarizado, onde o Estado é pouco presente e os governos têm pouco ou nenhum compromisso com dos diretos humanos e a comunicação pública. São milhares de cidades sem canais de televisão, sem jornais, com uma ou nenhuma estação de rádio local. São milhões de brasileiros invisíveis para a mídia tradicional e privada, que só são notícias quando sofrem desastres naturas, acidentes de trânsito, quando protagonizam tragédias familiares e escândalos políticos. Vivem em territórios sem informação, sem problematização, sem discussão, sem deliberação, sem uma esfera pública política viva e atuante. Cidadãos com tradições e saberes, com desejos e necessidades, mas sem consciência política e sem atitudes de protagonismo.
Se o caro leitor mora numa cidade pequena, sabe muito bem do que estou tratando neste artigo. Mas, voltemos à notícia. Na sexta-feira (27) o Conexões Globais 2.0, leia-se Gabinete Digital, promove a assinatura do termo de cooperação técnica entre acadêmicos, sociedade civil e o Governo do Estado do Rio Grande do Sul para o desenvolvimento da participação digital. Ganham o cidadão e o governo, que passam a atuar não só mais proximamente, mas sobretudo juntos. Ganham os direitos humanos e o Estado democrático de direito. A assinatura, o protocolo, é só um sinal, é verdade. Mas é um primeiro passo, que pode ser decisivo. É, desde já, uma boa notícia, que espero um dia ver publicada em mídias públicas, livres ou alternativas, físicas ou digitais, de todo o País.
O evento acontecerá entre os dias 25 e 28 de janeiro, na Casa de Cultura Mário Quintana, em Porto Alegre, numa promoção do Gabinete Digital, do Governo Estado do Rio Grande do Sul e a parceria de outras entidades públicas e privadas. Informações e link para transmissão ao vivo pelo http://conexoesglobais.com.br.
Um comentário:
Boa reflexão, nao podemos apenas esquecer que a "ferramenta" digital é apenas um instrumento ou nao de uma decisão política de democratizar a gestão do Estado.
Em Fortaleza o orçamento participativo como instrumento permanente de gestão dos recursos públicos é um bom exemplo.
Temos ainda o Programa de Habitação da Cidade de Fortaleza como outro bom exemplo de participação e gestão publica.
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