Davis Sena Filho
Por mais que percebamos que a situação do Brasil é cada vez melhor, a imprensa burguesa brasileira, cooptada pelos bancos internacionais, e testa de ferro dos interesses da globalização e, portanto, do colonialismo e da exploração dos povos pobres pelos países industrializados, à frente os Estados Unidos, insiste, com maior eloqüência nos jornais televisivos e programas de debates, em pintar um quadro de crise, insatisfatório e negativo para a economia nacional.
Além disso, a imprensa comercial e privada ilustra, sem pudor algum, um desenvolvimento social e econômico que, pelo que vejo, é fruto da imaginação, digamos, extremamente criativa dos proprietários dos meios de comunicação, bem como de seus cooperantes: os editores e diretores do sistema midiático muito bem pagos para defender os interesses do mercado financeiro e das classes sociais hegemônicas que controlaram o Brasil e prejudicaram seu povo por quase 50 anos, a partir do golpe civil-militar, que implantou políticas públicas que, estrategicamente, beneficiaram o capital.
Quanto mais é visível o combate à violência — como acontece no Rio de Janeiro —, à miséria e à ignorância de grande parte de nossa população, mais a imprensa mostra outra realidade, por intermédio da manipulação e de argumentos pontuais retirados, propositalmente, do contexto das notícias, dos fatos. Outro método posto em prática pelos barões da imprensa e seus sabujos para que as conquistas econômicas e sociais não sejam repercutidas é a autocensura, que até hoje perdura nas grandes redações, quando em momentos de crise ou de questionamentos de setores politizados da sociedade quanto aos rumos do Brasil, bem como quanto à conduta dos meios de comunicação privados.
Os barões de comunicação são os mais atrasados do mundo empresarial e detestam dar voz aos adversários de seus pensamentos. Corporativos, conservadores e reacionários, consideram que liberdade de expressão é a liberdade da expressão deles. E se entenderem que tal “liberdade” está a ser questionada, acusam, a quem quer que seja, de tentar impor a censura. É a forma esperta e que cria confusão e polêmica em parte da sociedade que, despolitizada, é capaz de participar de movimentos de direita como o “Cansei”, que aconteceu em 2007 em São Paulo, ou como o acontecido na Cinelândia, no Rio de Janeiro, e na Esplanada dos Ministérios no ano passado, em Brasília.
São os inocentes úteis que leem revistas e jornais de péssima qualidade editorial, exemplificados na “Veja”, no “O Globo”, na Folha de S. Paulo”, no “Estadão”, na “Época” e em quase todos os jornais televisivos, apresentados por âncoras comprados a peso de ouro e por repórteres que não questionam nem o porquê de eles serem repórteres. Os patrões da imprensa e seus empregados ‘mauricinhos e patricinhas’ que, ridiculamente, os chamam de “colegas”, não aceitaram até hoje as três derrotas eleitorais para os presidentes trabalhistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Vana Rousseff.
Esses patrões do setor midiático privado que se tonaram multimilionários são autoritários e se recusam a pensar o Brasil e por isso combatem o seu desenvolvimento, a sua independência e autonomia. Boicotam e se recusam a participar de qualquer fórum que discuta o marco regulatório para os meios de comunicação, bem como qualquer assunto ou realidade que eles consideram que podem prejudicar os privilégios e o bem viver das classes abastadas, aquelas que os barões da imprensa e das mídias em geral representam, com ardor e sem sentimento de culpa, de nacionalidade e de boa vontade para que o Brasil deixe de ser um País onde existem muitas pessoas pobres e passe a ser um lugar que cria oportunidades a todos o brasileiros.
É inquestionável que a imprensa esteve e está sempre ao lado da burguesia nacional e, por conseguinte, da internacional. Um exemplo é o apoio que os jornalões e televisões brasileiros deram aos adversários golpistas de Hugo Chávez e Manuel Zelaya, presidentes da Venezuela e de Honduras. No caso Chávez, a imprensa brasileira corrupta somente mudou de postura porque, tardiamente, percebeu que o golpe empresarial e militar foi derrotado, pois nem mesmo o governo tirano e fascista de George Walker Bush conseguiu segurar as condições políticas para manter o golpe patrocinado pela CIA, juntamente com a burguesia venezuelana, que queria e quer mamar na mamadeira do petróleo eternamente, o que, sobremaneira, não será mais possível. A tentativa de golpe foi um absurdo, uma baixaria e trapaça, com a conivência, mais uma vez, dos EUA, país interventor e useiro e vezeiro em quebrar as regras do jogo democrático em todo o planeta.
Quanto a Honduras, a atuação e conduta da imprensa comercial e privada (privada nos dois sentidos, tá?) foi lamentável. Os jornalistas daqui, a mando de seus patrões e por serem simplesmente subservientes, esmeraram-se. Em pleno continente americano que foi vítima de ditaduras sanguinárias, os jornalistas da imprensa hegemônica defenderam a queda do presidente trabalhista eleito, Manuel Zelaya. Apoiaram o golpe. Mais do que isso: justificaram o que é injustificável, por ser ilegal, e deram conotações cínicas e mentirosas ao disseminar pelos veículos de comunicação as ações armadas dos direitistas hondurenhos contra um presidente constitucional, pois eleito pelo povo daquele país da América Central.
O presidente Zelaya, para não morrer ou ficar nas mãos dos golpistas que assumiram o poder à força, pediu asilo na Embaixada do Brasil, em Tegucigalpa. A imprensa tupiniquim começou imediatamente a bombardear o Governo Lula e a desqualificar o presidente hondurenho vítima de um golpe violento, que o humilhou, pois que foi retirado da cama, à noite, em sua casa por homens a serviço dos fazendeiros e militares hondurenhos, com o apoio e a cumplicidade da CIA e do Departamento de Estado dos EUA, país yankee que tem a clava e o porrete como fundamentos principais de sua diplomacia.
Foi esse papel indecente que coube à imprensa brasileira. Por causa disso e de muitas outras coisas, percebe-se, realmente, que ela é capaz de qualquer ação jornalística e empresarial para manter os status quo das classes privilegiadas, bem como para defender os interesses econômicos e geopolíticos de países como os EUA. A imprensa burguesa é alienígena. Não tem pátria e nem cultura. Ela pertence aos mercados das bolsas, aos mercados financeiros e, inegavelmente, porta-voz oficial, ao ponto de se transformar em um partido — o Partido da Imprensa —, que nunca se avalia e jamais reconhece seus erros do passado, porque se recusa a ter memória. Por esses motivos elencados é que o Brasil precisa, urgentemente, ter um marco regulatório.
O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, tem de, na minha opinião, realizar a II Confecom e fazer propaganda na televisão aberta sobre o evento, com o objetivo de chamar a sociedade organizada para debater os meios de comunicação e as diferentes mídias. Afinal de contas, como queremos que esses meios sejam, atuem e disseminem educação, informação, lazer e entretenimento? Quais são as regras que a sociedade brasileira quer e aprova? Por que os barões das mídias se recusam a debater? Quais seriam as leis, as normas, as regras que defenderiam o cidadão dos interesses de um empresariado que, mesmo a ser concessionário do estado e, portanto, do povo, declara-se contra as mudanças sociais e se recusa, terminantemente, a aceitar que haja a democratização da comunicação e da informação no Brasil?
Seguramente, a quebra do monopólio de um negócio de bilhões de reais, que é controlado por uma dezena de famílias é tudo o que esse segmento econômico não quer. Monopólio é poder, só que um poder ilegal, como consta nos códigos de Direito e normas da Organização Mundial do Comércio (OMC) e igualmente constante nas leis da maior parte dos países. Se é para sermos capitalistas, que sejamos de verdade, a começar pela obediência às regras do mercado. Não é isso que os capitalistas apregoam, caro leitor? Só que tudo é mentira, é falso. Os empresários de comunicação cantam loas e boas ao livre mercado, à iniciativa privada, mas quando se trata do negócio deles querem, na verdade, reserva de mercado, como eles demonstraram nas questões da televisão fechada e da banda larga. É o cinismo em toda sua plenitude e a mentira em forma de oportunismo.
Quem avisa amigo é! A presidenta Dilma Rousseff e o ministro Bernardo não podem tergiversar sobre essas realidades. É perigoso. Os barões da imprensa são cúmplices ativos em um passado recente de golpes contra os governos trabalhistas de Getúlio Vargas, de João Goulart, bem como infernizaram e perseguiram Leonel Brizola e quase derrubaram Lula em 2005. O Governo Dilma tem de democratizar os meios de comunicação, pois é um governo que tem maioria no Congresso, que vai sofrer pressão, mas a Casa do Povo existe para administrar pressões, além de discutir os problemas e apontar as soluções. Não vai faltar coragem.
Entretanto, se o Paulo Bernardo se eximir de suas responsabilidades, que se troque o ministro, de preferência que tenha o perfil do ex-ministro Franklin Martins. A vida é muito curta para nos faltar coragem. Não tê-la é contraprudecente para uma autoridade de Estado. Então é melhor ficar em casa a ver televisão. O leão ruge forte e alto e grosso, mas isso não quer dizer que ele não possa se submeter ao domador, que é a sociedade brasileira. O Governo não pode vacilar e muito menos enfiar a cabeça em um buraco para não ver o que acontece no Brasil quando se trata dos empresários que peitam governos trabalhistas e fomentam até golpes de estado. A presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, com o apoio do Congresso, elaborou e aprovou a Ley dos Medios. É um exemplo para o Brasil. A presidenta Dilma foi eleita também para dar ao País um marco regulatório para os meios de comunicação. Que isto fique claro. Não vale à pena ser presidenta sem ser também estadista. Então, mãos à obra.
Existem muitos jornalistas que deveriam mudar de profissão e abraçar o “ofício” de arrivista. O papel da imprensa burguesa, especificamente na América do Sul, é de ruborizar qualquer canalha. Homens como Getúlio Vargas, Leonel Brizola, João Goulart e Lula, além de muitos outros cidadãos das diversas atividades humanas, foram duramente combatidos pela imprensa comercial e privada (privada nos dois sentidos, tá?), que se aproveitou de subterfúgios os mais mentirosos e caluniadores para colocar no lugar dos políticos eleitos constitucionalmente aventureiros golpistas que a permitisse concretizar seus sonhos e devaneios de riqueza e poder, mesmo que para isso a população brasileira fosse prejudicada em todos sentidos e em todos segmentos.
Além de os proprietários dos meios de comunicação pertencerem à elite econômica, boa parte de seus cooperantes (diretores, editores, colunistas e editorialistas), apesar de ocupar cargos de chefia, não tem a compreensão política e histórica dos interesses daqueles que lutam por um País melhor, mais humano e justo. Sabem que a imprensa é importante mas não dimensionam, de forma lúcida, a importância que é ser um jornalista profissional antenado com as causas populares e com os interesses do Brasil institucional.
A outra parte simplesmente se vende ao establishment para preservar salário, emprego, poder fictício e, o tendão de Aquiles da humanidade: a vaidade. Vi pouca gente talentosa subir na hierarquia das redações. E vi muita gente mediana ocupar cargos de relevância, porém considerados de “confiança”. Isto acontece sempre e sempre acontecerá em todas as atividades profissionais, porque é assim que o sistema de poder em geral e de cargos hierarquizados funciona. É assim que as elites econômicas mantêm seu poder. Por isso que somos tão atrasados socialmente.
É muito difícil edificar um País democrático e um povo politizado com uma imprensa que defende, em primeiro lugar, os interesses de uma minoria nacional e estrangeira, porque o segmento midiático faz parte de uma “elite” internacional, que se preocupa em apenas manter seus privilégios financeiros, manter o status quo e com isso usufruir das benesses que um capitalismo capenga, mercantilista e selvagem, fruto de rapinagem e de regras desleais e inconstitucionais, pode proporcionar a poucos nababos. Um modelo econômico exportador imposto ao povo brasileiro há cinco séculos, especificamente desde 1964, que somente atende à meia dúzia de empresários e à meia dúzia de governantes, que se encastelam nos palácios, de forma covarde e leviana, sem se preocuparem com o destino da população pobre e também de classe média, expostas, em seu dia a dia, a todo tipo de humilhação e vergonha, retratadas nos baixos salários, no desemprego, na escola de baixa qualidade, na saúde corrompida, nas altas taxas de juros, nas dívidas públicas externa e interna, na falta de reforma agrária, saneamento básico, moradia, pavimentação das rodovias e, principalmente, na violência, que ceifa a vida de milhares de jovens e pais de família todo ano.
São uma vergonha nacional a nossa elite, os nossos burgueses, que querem perpetuar esse estado de coisas e por causa disso combatem os governos trabalhistas no decorrer da nossa história. Uma desfaçatez e irresponsabilidade dos governantes conservadores e neoliberais como o do ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso, que vendeu o Brasil e mesmo assim foi ao Fundo Monetário Internacional (FMI) três vezes, com o pires na mão e nenhuma vergonha no que diz respeito à situação do Brasil naquele momento. Subserviência e humilhação total. Inesquecível, pois governou para os ricos e não trabalhou para o bem-estar dos brasileiros.
Os homens e mulheres de mando da “grande” imprensa, dos meios de comunicação, juntamente com os militares generais e o grupo político que assumiu ilegalmente os destinos do Brasil em 1964 (UDN, Arena, PDS, PFL e finalmente DEM) têm uma enorme dívida com a sociedade brasileira, talvez impagável. Apesar de tudo, os democratas e verdadeiros nacionalistas sabiam que essa gente tomou o poder à força para atender os interesses do capital internacional e da burguesia nacional.
Agora, convenhamos, para partido político como o PSDB realmente não haverá perdão. Sua dívida com o povo brasileiro nunca será paga. A maioria de seus integrantes veio da esquerda democrática, do socialismo democrático, da social democracia e muitos eram marxistas. Fernando Henrique Cardoso (e seu governo entreguista) deveria se envergonhar quando se olha no espelho. Deveria rememorar suas palavras, seus ideários, seus programas de governo discutidos antes de assumir o poder e suas lutas pela redemocratização do País e perceber que ter sido presidente não foi somente colocar a faixa presidencial no peito. Ser presidente requer coragem. Ser presidente não basta. Tem de ser estadista. Tem que ser muita corajoso para enfrentar os que não querem o desenvolvimento da civilização brasileira, a mais diversificada e plural do planeta. FHC deveria ter como fé a palavra Verdade, bem como os meios de comunicação, sempre a serviço dos bancos internacionais e da burguesia tupiniquim frívola, egoísta, fútil e sem caráter nacional. É isso aí.
Davis Sena Filho
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