Jornalista Messias Pontes - messiaspontes@gmail.com
O clima em Fortaleza, com a greve dos policiais e bombeiros militares, foi de pânico durante todo o dia 3 de janeiro: anúncios de arrastões em vários bairros e até no centro da cidade que teve o comércio praticamente fechado. Com essa greve todos saíram perdendo, notadamente a sociedade que se sentiu refém da bandidagem. E a situação poderia ter piorado com a adesão de outras categorias, como os profissionais do SAMU, da AMC, professores e motoristas de ônibus que declaram não ter condições de trabalhar, justamente por falta de segurança.
Não é nenhuma novidade que o salário pago aos policiais em todos os estados do País, com exceção do Distrito Federal, é muito baixo, para não dizer vergonhoso; também é do conhecimento de todos que a carga horária dos policiais é exagerada para quem precisa de tranqüilidade para bem exercer o seu mister. Mas os profissionais da segurança têm de estar conscientes de que, para o movimento reivindicatório ter êxito, precisava contar com a simpatia e apoio da sociedade. Depredar o patrimônio público e impedir o funcionamento de serviços essenciais como o dos rabecões levam à perda de apoio popular. Mas aos poucos os grevistas foram ganhando a solidariedade e até ajuda material de muitas pessoas e entidades como associações, sindicatos e as cinco centrais sindicais que atuam em Fortaleza.
O quadro piorou na medida em que a onda de boatos se propagou, principalmente através das redes sociais, e cresceram como bola de neve. O centro da cidade, na tarde de ontem, lembrava um dia de domingo, tal a inexistência de pessoas. Muitas imagens mostradas eram de ocorrências em outros estados ou em anos anteriores. Lembrou a campanha midiática contra o governo bolivariano de Hugo Chaves, quando principalmente a Rede Globo mostrava manifestações na Cidade do México dizendo que era em Caracas, contra o “ditador” Hugo Cháves. Lamentável que soldados do RAIO tenham contribuído para o pânico no Centro da cidade, anunciando arrastões e aconselhando os comerciantes a fecharem as lojas.
Todas as lideranças políticas, sindicais e comunitárias que se posicionaram a respeito do movimento dos policiais e bombeiros e da posição do Governo do Estado foram unânimes em afirmar que a única saída para debelar o caos era o diálogo, pois neste momento a intransigência conspirava contra todos e só favorecia aos oportunistas que estavam se aproveitando da situação. Governo e grevistas deveriam ceder e levar em conta que somente o bom senso poderia os levar a um porto seguro. É oportuno lembrar que aqueles que apostaram no quanto pior, melhor, tiveram os momentos de felicidade com a pânico causado, mas acabaram quebrando a cara, pois o bom senso acabou prevalecendo..
As cinco centrais sindicais, reunidas no dia 3 de janeiro, marcaram para o dia 4 uma caminhada em solidariedade aos profissionais da segurança pública e ameaçaram uma paralisação geral dos setores público e privado a partir de sexta-feira próxima. O movimento sindical no Ceará em poucas ocasiões esteve tão uníssono.
Vale ressaltar, para o fim exitoso das negociações, o papel desempenhado pela Dra. Socorro França, procuradora-geral de Justiça do Estado – que às 19 horas desta quarta-feira passa o cargo para o promotor Alfredo Ricardo de Holanda, o seguindo mais votado pela categoria; dom Edmilson Cruz que, com os seus 85 anos de idade, esteve sempre junto aos demais tentando uma saída em que todos ganhassem; a jovem Andréa Coelho, defensora pública geral do Estado; presidente da seccional da OAB, Valdetário Andrade, e o deputado federal Chico Lopes, do PCdoB, que esteve desde o início até o fim tentando a negociação.
Depois de longa reunião que terminou já na madrugada desta quarta-feira, o acordo foi fechado garantindo a anistia a todos os policiais e bombeiros militares que participaram do movimento, livrando-os de qualquer processo disciplinar e administrativo ; a incorporação definitiva aos salários de toda a tropa da PM e dos Bombeiros da gratificação de R$ 920,18 que era pago somente aos que trabalhavam das 22 às seis da manhã. Com isso o salário de um soldado será de R$ 2.634,00, retroativo a 1º de janeiro deste ano.
Outra conquista foi o reajustamento no valor do vale-refeição para policiais e bombeiros que passou para R$ 224,00 por mês. Os ganhos vencimentais acordados serão estendidos aos inativos e pensionistas das duas unidades. Outra grande conquista foi o estabelecimento da redução de 44 para 40 horas semanais de trabalho , podendo, de acordo com as necessidades, serem fixadas horas-extras.
Por fim foi estabelecido a criação, no prazo de 30 dias, de uma comissão paritária entre os representantes do governo estadual e das quatro associações que congregam os policiais militares e os bombeiros, para formular, em 90 dias, novas regras sobre a tabela salarial, discussão de horas-extras, implantação de novo modelo para promoção, e reforma no Código de Ética e Disciplina da PM, para evitar casos de assédio moral, já que eles denunciam os constantes abusos por parte de seus superiores. Com o acordo firmado, o policial militar do Ceará passará a ter o segundo maior salário do Nordeste, perdendo somente para os colegas do estado de Sergipe.
Quem também saiu ganhando foi o movimento sindical cearense que conseguiu uma unidade nem sempre observada. O irrestrito apoio das cinco centrais sindicais foi muito importante para o êxito do movimento grevista dos policiais e bombeiros militares, e também e principalmente porque a partir de agora os policiais militares pensarão duas vezes antes de agir com truculência contra trabalhadores em greve, notadamente os do serviço público como eles. Essa questão foi observada por vários sindicalistas.
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