domingo, 12 de fevereiro de 2012

Campus Party 2012: O futuro de Michio Kaku

Digerati: Para cientista, a tecnologia subverterá tudo o que conhecemos
Por Guilherme Abati
Michio Kaku, professor de física teórica da Universidade de Nova York, fez uma palestra nesse último sábado (11) na Campus Party 2012, em São Paulo. O cientista já publicou nove livros em português e veio ao Brasil para o lançamento de seu décimo trabalho. O americano, que tem ares de Emmett Brown, o cientista louco da trilogia “De Volta para o Futuro”, foi considerado uma das 100 pessoas mais inteligentes do mundo por um periódico americano e é uma das principais referencias da física teórica da atualidade. Sobre a lista, o cientista, sempre bem humorado, disse: “Na lista está a Madonna. Então acho que ela não tem muita validade. Tenho medo que na próxima (lista) Lady Gaga me ultrapasse”.

Usando uma didática que deixaria qualquer professor de ciências com inveja, Kaku discorreu sobre o papel da tecnologia no futuro da humanidade, além de divulgar seu npvo livro, intitulado “A Física do Futuro”. No evento mais disputado da Campus Party 2012, Michio Kaku iniciou sua apresentação afirmando que os cientistas inventaram o século XX. Falou sobre a importância da ciência para o progresso humano e para a saúde e prosperidade da espécie. De economia a relações internacionais, passando por saúde, capitalismo, empregos, e até o fim do mundo, Kaku entreteve a plateia durante uma hora, discorrendo sobre um amplo leque de temas, tendo nosso futuro como base.
Em seu livro, Física do Futuro, Kaku entrevistou 300 cientistas para poder criar uma visão de como serão nossas vidas e o mundo daqui 100 anos. O físico do impossível, como é conhecido, começou sua jornada ao futuro citando o passado, mais precisamente a Revolução Industrial, no século XIX. Segundo Kaku, foi a Revolução a responsável pela´Primeira Onda de Riqueza experimentada pela humanidade, assim como foi a resónsável pela 1ª Grande Depressão Econômica, em 1850. Para Kaku, toda grande explosão de riqueza , ou bolha, como definiu, é seguida por uma Depressão, o momento em que a bolha explode. A primeira ocorreu em 1850, como resultado da geração de riqueza proveniente da Revolução. A Segunda Onda ocorreu ao fim da década de 1920, ficou conhecida como o Crash da Bolsa e foi o resultado da ampla distribuição de eletricidade, gasolina e carros. Para Kaku, a ciência cria riqueza, que consequentemente, cria bolhas. Isso se repetiu em 2008, a Terceira Onda de Riqueza, que resultou no último crash, nascido do intenso consumo de computadores, satélites, internet e tecnologia de ponta. E é o que ocorrerá em 2090, quando chegaremos à Quarta Onda De Riqueza. A atual geração é a principal agente, segundo Kaku, da próxima onda.
E é aí que Kaku se dirige à plateia: “Mas qual será a razão da Quarta Onda?".
É a pergunta que serve de introdução para sua visão sonre o nosso futuro. A pergunta consiste em: “O que nos estaremos produzindo até 2090?" Para Kaku, existem quatro pilares que sustentarão nosso futuro: Serviços de telecomunicação, Inteligência Artificial, Nanotecnologia e Biotecnologia. São essas as bases para suas teorias sobre o futuro.
O poder dos computadores

Para Kaku, os computadores estarão em todos os lugares. Serão uma força onipresente. Entretanto, os computadores conforme conhecemos serão transformados – eles estarão presentes principalmente em óculos ou lentes de contato. Como resultado das 300 entrevistas com cientistas, Kaku afirma que é uma visão compartilhada entre muito deles essa de que as funcionalidades que hoje encontramos em computadores, notebooks e tablets, estarão presentes nas lentes de óculos, ou conectados diretamente na retina dos usuários. Kaku, e isto já é uma de suas marcas, recorre muitas vezes a exemplos populares para ilustrar suas imagens do futuro. Ao citar a transferência dos computadores para os olhos humanos, o cientista lembra que isso já foi ilustrado no filme “O Exterminador do Futuro 2 – O Dia do Julgamento”, na cena em que o cyborg interpretado por Arnold Schwarzenegger entra em um bar repleto de motoqueiros à caça de uma roupa que lhe sirva. Kaku disse que a chamada realidade aumentada (quando o virtual sobrepõe-se ao real) terá impacto em ramos diversos, mas principalmente no turismo, no militarismo e no lazer.
Para ele, no futuro, ao invés de observarmos os restos do Coliseu, os turistas, munidos de óculos com realidade aumentada, poderão vislumbrar presencialmente a opulência do Coliseu em sua época áurea. Já os soldados, dotados de informações projetadas em suas próprias retinas, terão acesso a informações sobre clima, geografia dos campos de batalha e infra-estrutura de cidades inimigas. Quanto ao lazer, o impacto parece ser mais intenso. Para Kaku, em um futuro próximo, essa tecnologia mudará a forma como a humanidade festa e interage – nosso quartos serão equipados com projetores em 360 graus e em 3D, os quais possibilitaram que uma pessoa possa ir à uma festa e interagir com outros humanos sem jamais precisar sair de sua residência. Essa última transformação faz parte de um processo que Kaku chamou de mudança de gênero da Internet. Para o cientista, a Internet nasceu homem, mas hoje é mulher, pois hoje tudo nela é sobre o toque, o contato e o calor das interações.
A forma como vemos televisão também mudará drasticamente em breve. Nada mais de óculos 3D, as próprias televisões, equipadas por telas transparentes, darão uma imagem em três dimensões ao usuário.
O transporte, um dos graves problemas atuais, também deverá se tornar automatizado e seguro, segundo Kaku. Carros auto dirigíveis, que hoje são realidade, cuidarão de toda a mobilização diária da população. Kaku chamou a atenção para a ascensão do Capitalismo Perfeito, que daria às pessoas o poder de customizar qualquer produto possível (algo que ele chamou de Customização em Massa). Sai o capitalismo de commodities e entra o capitalismo intelectual. Para o cientista, tudo combina no futuro, momento no qual, todas as informações sobre o produto, sejam elas, por exemplo, histórico, classificação e opinião de outros consumidores, convergiriam para um único local: os olhos do homem do futuro.
A Revolução da Biotecnologia

A Biotecnologia tem espaço cativo no futuro delineado por Kaku em seu novo livro. Para ele, um dos principais momentos desse futuro será o fim do câncer. Algo que será possibilitado pela nanotecnologia, que matará célula por célula do câncer em formação. Para o americano, a palavra tumor não constará em nenhum dicionário do futuro. E mais: eles poderão ser previstos com décadas de antecedência, graças ao uso de privadas inteligentes, que analisarão os fluídos corporais do usuário e poderão fazer diagnósticos precisos e imediatos.
Para Kaku, algo ainda mais incrível está em vias de acontecer no campo da medicina dentro dos próximos 100 anos: a Loja Humana (Human Body Shop), que seria a capacidade da ciência em reconstruir e vender órgãos humanos, os quais cresceriam a partir de células manipuladas. Ou seja, ossos, artérias, pele, etc, seriam reconstruídos para substituir e remodelar partes do corpo em franco declínio. As operações e cirurgias serão completamente alteradas no futuro imaginado por Kaku. Os médicos não mais tocarão os pacientes durante uma operação, uma vez que os médicos manipularam um modelo 3D do paciente, enquanto robôs farão as incisões necessárias no corpo. A medicina será transformada em uma ciência computacional.
O Futuro do Trabalho
Para Kaku, a robótica mudará a forma como a sociedade se organiza em relação ao trabalho. Não haverá mais empregos em áreas cujas atividades são consideradas repetitivas e mecânicas. Os robôs serão empregados nessas funções, deixando aos humanos as áreas relativas à criatividade, imaginação e experiência. Kaku afirma que a riqueza das nações residirá em seu capital intelectual, área em que as máquinas não têm capacidade de atuar. Os empregos estarão onde os robôs não estarão.

Nenhum comentário: