Gabriel Bonis, via CartaCapital
De um lado, três gigantes midiáticos em negociação (ou em disputa) para fechar um acordo. Do outro, cerca de 13 milhões de domicílios brasileiros na espera de ter acesso à programação do Fox Sports na grade de seus pacotes de televisão a cabo.
Em meio à disputa para entrar nos pacotes de NET e SKY, operadoras que concentram cerca de 70% do mercado de televisão por assinatura no Brasil, o Fox Sports, ligado ao conglomerado News Corporation, do empresário Rupert Murdoch, estreou no domingo, dia 5, para apenas 33 mil assinantes. Segundo o Pay TV, site ligado a uma empresa especializada em análise do setor no País, a única operadora a disponibilizar o canal é a Nossa TV (DTH).
Para reverter a situação, a companhia apelou ao público e lançou em seu site a campanha “Eu quero Fox Sports” para que assinantes de operadoras sem o canal (SKY, GVT, Via Embratel, NET e CTBC) pressionem pela sua inclusão na grade das empresas.
“As operadoras estão sendo crucificadas, mas o Fox Sports não é coitadinho. Faz parte de um conglomerado de mídia gigante”, destaca André Mermelstein, editor do Tela Viva, publicação especializada na análise do setor. “Uma negociação depende de concessões de ambos os lados”, completa.
Segundo Mermelstein, a dificuldade de inserção do canal na NET e SKY não tem relação com a quebra da exclusividade do SportTV, da Rede Globo, na transmissão dos jogos da Copa Libertadores da América na televisão fechada. A emissora carioca, que possui cotas em torno de 30% e 5% das operadoras acima, respectivamente, detém os direitos para veiculação de dois jogos do campeonato por semana entre os canais abertos.
“Quando um canal é lançado, dificilmente consegue uma boa distribuição imediatamente. O canal não está sendo barrado”, explica.
Os problemas para se chegar a um acordo, diz, estão no preço a ser recebido pelo canal e no pacote de assinatura do qual faria parte. O Fox Sports, indica, pede um valor elevado, cerca de R$1,50 por assinante/mês, e a entrada no pacote básico. “Nesta opção, os canais costumam receber valores mais baixos que em uma seleção premium.”
O analista afirma que, no Brasil, cerca de 8 milhões de assinantes possuem o pacote básico. Caso todas as operadoras aceitassem pagar o valor pedido pela Fox Sports, seria gerado um custo mensal de R$12 milhões, cerca de R$5 milhões a cargo apenas da NET, a maior das operadoras. “É um embate negocial, as operadoras querem que o canal baixe o preço e fique em pacotes mais elevados, ou um misto disso.”
Outro aspecto a ser considerado é que as operadoras não ganhariam nada com a adesão, porque não podem repartir o custo da entrada da Fox Sports na programação com os assinantes. “No pacote mais avançado, porém, seria possível cobrar dos que desejam o canal. Mesmo assim, não seria suficiente para pagar a adesão.”
Mas a guerra pela opinião pública continua e o Fox Sports tenta conquistar a simpatia dos assinantes das operadoras com estratégias de marketing. Um exemplo disso, aponta o analista, foi a transmissão da estreia do Fluminense na Libertadores na quarta-feira, dia 8, realizada pelo canal Speed – também do grupo Fox – na qual o narrador do jogo inflou os espectadores a pedirem o canal em suas grades. “É um jogo de morde e assopra. O canal mostrou uma partida para trazer o espectador para seu lado. Mas não fará mais isso, porque perderia poder de negociação.”
A campanha parece, no entanto, não estar surtindo o efeito desejado. Nos fóruns do site da Fox Sports, é possível ler diversos comentários de torcedores criticando a demora nas negociações e a atitude do canal em transmitir o jogo do time carioca e não fazer o mesmo com outras equipes brasileiras no campeonato.
Procurada pela reportagem para esclarecer detalhes da negociação, incluindo o valor a ser pago pela exibição do Fox Sports e o pacote em que o canal seria inserido, a NET informou, via assessoria de imprensa, que suas negociações são sigilosas.
A operadora SKY foi procurada, mas não respondeu aos questionamentos da reportagem.
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