sábado, 25 de fevereiro de 2012

A NOVA CLASSE MÉDIA


Delúbio Soares (*)
"Na última década, o progresso alcançado pelo povo brasileiro inspirou o mundo.
 Mais da metade desta nação é hoje considerada de classe média.
Milhões saíram da pobreza.
A esperança está voltando aos lugares em que o medo prevaleceu"

Barack Obama, em discurso no Rio de Janeiro (2011)
O Brasil assistiu o surgimento de uma nova classe média, embalada pelos programas sociais do governo do presidente Lula e retirando 40 milhões de brasileiros da pobreza. Não só se fez redistribuição de renda, como se redesenhou o mapa econômico-social do Brasil.
Reduzimos fortemente as desigualdades e solidificamos as bases de um país democrático, competitivo e que assumiu definitivamente suas responsabilidade sociais.
Programas como o Bolsa Família, o Pro-Uni, o Pronaf, o Minha Casa, Minha Vida, dentre outros, foram combatidos de forma radical por setores atrasados da oposição e da imprensa, mas promoveram a mais profunda transformação social já vista na história brasileira.
A nova classe média é uma das melhores facetas do Brasil atual, tendo sido a grande responsável pelo sucesso de nossa economia e já tendo alcançado 46,6% do poder de compra dos brasileiros em 2011, superando a abastada classe A e a poderosa classe B.
Um dos mais talentosos economistas brasileiros, o renomado professor Marcelo Neri, lançou recentemente um dos mais interessantes livros da atualidade, "A Nova Classe Média - O lado brilhante da base da pirâmide" (Ed. Saraiva, 312 páginas), onde Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais (CPS) da Fundação Getúlio Vargas, analisa com competência e comprova com vasto material, autêntico fenômeno de um novo país que se alicerça numa classe emergente e fortíssima.

Marcelo Neri, conseguiu compatibilizar sua sólida formação acadêmica com visão lúcida dos problemas nacionais e aguda sensibilidade social, gerando um excelente e respeitável trabalho de análise indispensável para o conhecimento e debate de um país que, definitivamente, deixou o círculo da pobreza endêmica que nos atrasava secularmente. Após viajar pelos países parceiros do Brasil no BRICS, Neri atesta que aprendeu, como economista social brasileiro, que "o Brasil vai melhor para os brasileiros do que para os economistas".
Em sua indispensável obra, Marcelo Neri revela dados auspiciosos, que por sí só atestam a força da verdadeira revolução social que mudou a face do Brasil e o transformou em país mais justo e equânime. A renda dos analfabetos, por exemplo, cresceu 47%; o Brasil se tornou "investment grade" nas avaliações das importantíssimas agências internacionais de avaliação e risco; a ONU nos reclassificou e agora o Brasil é "IDH alto", ou seja, nossos indicadores de desenvolvimento humano nunca foram tão bons; os pobres países do BRICS (aí incluídos os do Brasil) são mais da metade dos pobres do mundo, mas eles multiplicarão por sete, até 2050, sua relação de renda gerada pelos países ricos do G7!

O desemprego caiu de forma definitiva, com a absorção da mão-de-obra em praticamente todos os setores da economia brasileira. De 2003, com a chegada ao poder de Lula, do PT e das forças de sua base aliada, os programas sociais, com a distribuição de renda para os pobres, gerou um ciclo virtuoso em nossa economia, favorecendo a indústria, o comércio, a construção, os serviços e, por conseguinte, a forte diminuição das taxas de desemprego. Se nos anos duros da ditadura militar, o próprio general Garrastazu Médici comprovou, de forma surpreendente, que "a economia vai bem, mas o povo vai mal", com o estadista Lula o Brasil passou a ser um país onde a economia vai bem e o seu povo, idem.

Para Marcelo Neri, existem poucos símbolos mais fortes do surgimento da nova classe média brasileira do que a multiplicação das carteiras de trabalho, observada desde 2004. Milhões de trabalhadores foram absorvidos pelo mercado de trabalho de uma economia que voltou a crescer, que não foi sequer arranhada pela crise norte-americana de 2008 e as posteriores crises que debilitaram ricos países europeus. Enquanto verdadeiras ilhas de calmaria econômica, como a Islândia e a Irlanda, além de integrantes da zona do Euro, como Portugal, Espanha e Grécia, mergulham em cenários de forte depressão econômica, com sérios reflexos em sua tessitura social, o Brasil e o continente latino-americano dão mostras de superação de pobreza e considerável subida nos indicadores econômicos e sociais.

O Brasil de Lula fez escola: no Chile, a então presidenta socialista Michele Bachelet implementou vigorosos programas sociais baseados no experimento brasileiro. E o seu sucessor, o mega-empresário Sebastián Piñera, elegeu-se com o apoio forças de direita, mas assumindo o compromisso de continuar tais programas e "ampliá-los ainda mais". No Perú, Allan Garcia deixou uma economia em ascenção para nosso companheiro Ollanta Humala, que não só tem mantido as políticas econômicas como iniciou programas de distribuição de renda e de apoio às classes populares baseados nos que Lula, vitoriosamente, consagrou em seus dois excelentes mandatos presidenciais e no governo de Dilma, que os tem aprimorado e estendido a mais brasileiros.

Em 13 dos 17 países do continente houve acentuada redução das desigualdades sociais, como nunca dantes. Em todos eles, sem sombra de dúvida, a marca inequívoca da influência do sucesso das políticas sociais do Brasil de Lula e Dilma. Se nos anos de chumbo a ditadura militar exportava torturadores e métodos de suplício na tristemente célebre "Operação Condor", e se FHC e seu governo neoliberal atrasaram a queda do ditador Fujimori ao forçarem a OEA na aceitação da fraude eleitoral de sua reeleição, agora o Brasil de Lula e Dilma exporta a vitoriosa receita de transformar pobres em cidadãos de classe média, dando um rosto mais humano e feliz ao sacrificado continente.

O sonho de reduzir a desigualdade de renda, de forjar uma sociedade mais justa e solidária, de unir o continente por laços sólidos de atividades econômicas sustentáveis, tem sido conseguido com evidente êxito. O Brasil capitaneou essa mudança para melhor. A América Latina, como também os nossos parceiro no BRICS, vivem um momento excepcional, praticamente alheios à debacle do velho mundo, onde consagrados modelos de economias pretensamente sólidas caem de forma inapelável.

Não há dúvidas de que a base desse Brasil moderno e vitorioso, com as desigualdades reduzidas e com as melhores chances de firmar-se entre as quatro maiores economias mundiais em poucos anos (já somos a sexta, tendo ultrapassado a sólida Inglaterra), é sua classe média. E ela foi acrescida de mais 40 milhões de homens e mulheres, jovens e idosos, brancos e negros, do interior e das capitais, de sul à norte de nosso imenso território continental, analfabetos e nordestinos, justamente os mais marginalizados, os que mais sofreram nos anos em que a coalização PSDB/DEM tentou parir um país para uma elite de apenas cerca de 30 milhões de brasileiros, com uma Bélgica no topo da pirâmide e uma Biafra na base.

Somos hoje um país que, ainda, se debate com vários problemas, mas superamos o mais vergonhoso deles: a miséria. Há um compromisso com a distribuição de renda, a estabilidade democrática e o desenvolvimento econômico e social. O Brasil ocupou o lugar que lhe cabia no cenário internacional, recuperando a respeitabilidade perdida, conquistando novos mercados, merecendo a admiração dos demais países, mostrando ao mundo o seu imenso valor.


(*) Delúbio Soares é professor

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