sábado, 18 de fevereiro de 2012

Os desafios estratégicos do PT

Ao completar 32 anos de existência e serviços prestados ao país na forma da defesa de uma sociedade mais igual e menos opressora, o Partido dos Trabalhadores recebeu da presidenta, Dilma Rousseff, duas missões estratégicas, apresentadas em seu discurso aos militantes.
A primeira tarefa é fazer uma reflexão sobre o processo de emergência de uma nova classe trabalhadora, que se forma a partir da ascensão de milhões de pessoas à chamada classe C, na esteira das políticas de esquerda que o PT levou ao governo federal e implantou em conjunto com os demais partidos da base aliada —primeiro no governo Lula, agora na gestão Dilma.
O êxito dessas políticas, cujo objetivo maior é combater a desigualdade historicamente enraizada no Brasil, obriga nosso partido a buscar maneiras de dialogar mais proximamente com essa classe em formação.
Em segundo lugar, o PT tem o desafio de ampliar o alcance das políticas de crescimento com distribuição de renda e geração de empregos para outras esferas, quer dizer, atender à necessidade de o país implementar mudanças sociais e culturais, não apenas econômicas.
Essas duas tarefas estratégicas apontadas pela presidenta Dilma se inserem no exercício constante que o partido faz — e deve seguir fazendo — de deflagrar um debate público sobre o futuro do Brasil e sobre o papel do próprio partido.
Avalio que o discurso de Dilma como histórico, especialmente porque terá desdobramentos substanciais no futuro próximo, à medida que desencadear uma ampla discussão sobre os pontos abordados. Tais repercussões serão tão mais profundas quanto melhor o partido compreender os desafios que lhe são colocados para os próximos anos.
Uma das condições importantes para essa reflexão é entender que o governo Dilma, assim como foi o governo do ex-presidente Lula, deve ser apoiado e abraçado pelo PT, mas compreendido como um governo de uma coalizão ampla.
Portanto, cabe ao PT o duro papel de defender o governo e ao mesmo tempo de criticá-lo e apontar caminhos, disputando no interior da base partidária os destinos do governo.
Os desafios propostos por Dilma passam por uma aproximação com a nova classe trabalhadora, numa espécie de reedição do papel que o PT exerceu na década de 1970. Na época, a classe trabalhadora expressa no novo sindicalismo da região do ABC (SP) e na liderança do então sindicalista Lula deu origem ao PT — e, posteriormente, à CUT (Central Única dos Trabalhadores).
O que se espera é que consigamos como partido representar essa classe em ascensão, identificando seus anseios e debatendo propostas para solucionar os problemas a ela inerentes.
Trata-se de passo necessário para concretizar o segundo desafio estratégico, o de fazer as mudanças de acesso a condições básicas de cidadania se transformar em um conjunto mais amplo de direitos sociais.
Um dos temas cruciais nesse novo ambiente socioeconômico é a questão da Educação. “Temos no nosso partido um compromisso fundamental e estratégico com a Educação como forma de garantir oportunidades iguais a todos”, sintetizou Dilma. De fato, a razão da existência do PT está em introduzir na pauta política nacional o debate sobre como ampliar as oportunidades de acesso à Educação, Cultura, cidadania política e aos avanços sociais.
O momento internacional é um complicador ao cumprimento dessas tarefas. Afinal, precisamos repensar o Brasil no contexto do novo mundo que surge. Um mundo com a China cada vez mais atropelando as demais potências econômicas, a caminho de se tornar a número 1, e com o impacto cada vez maior da revolução tecnológica, particularmente nos meios de comunicação com a convergência das novas tecnologias.
Ademais, o quadro é de profunda crise do capitalismo, de ascensão dos emergentes e de dar importância à intensificação da integração sul-americana como pré-requisito para combatermos as desigualdades regionais, fortalecer as relações com nossos vizinhos e encontrarmos saídas próprias para os problemas do nosso continente.
Para tanto, faz-se necessário discutir e enfrentar também a “nova-velha” hegemonia diplomática, militar e comercial das potências nucleares e econômicas, que vêm se expressando na forma de intervenções militares — na Líbia e, agora, na Síria, para citar apenas alguns.
Não são desafios pequenos, tampouco simples. Mas a história do PT é de sonhar alto e criar condições para realizar os sonhos. Junto com os trabalhadores, o PT tem sido um importante ator político no processo de transformação para melhor de nosso país.
Compreender e avançar nos desafios colocados pela presidenta é fundamental para que o partido continue liderando as mudanças que iniciou há 32 anos.
José Dirceu, 65, é advogado, ex-ministro da Casa Civil e membro do Diretório Nacional do PT.

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