Por Marcelo Migliaccio — Blog Rio Acima
Nos Estados Unidos, onde o dinheiro e a aparência parecem estar acima de tudo, uma menina de 11 anos morreu anteontem após ser atingida por um soco de uma coleguinha na escola. O motivo? As duas disputavam o mesmo namorado.
Nossa!, pensei, a coisa está cada vez mais preta por lá...
Mas aí eu passei em frente a uma escola pública estadual aqui de Copacabana às sete e dez da manhã e vi que a lavagem cerebral sexista sofrida pelas nossas crianças não é menor do que nos EUA, talvez seja até maior. Boa parte das garotas reunidas na porta do colégio estava com os cabelos impecavelmente feitos e aquelas unhas compridas e vermelhas de rainha de bateria. As pirralhas magricelas faziam caras e bocas para os garotos, também uniformizados e já prontos para aumentar a população brasileira a qualquer momento.
Nada contra a vaidade, mas a precocidade e a obstinação com que nossas crianças entram no mundo adulto é espantosa. Garotinhas de nove anos se portam como mulheres e parecem não ver a hora da primeira transa.
O que leva uma menina de 11 anos pintar os olhos e se emperequetar tanto às seis da manhã para ir a escola? Respondo: o fato de ela só pensar em sexo. Vai à escola apenas para aprender a ser mulher-objeto.
Certa vez, numa entrevista, depois de ouvir por três horas o blá-blá-blá acadêmico da secretária municipal de educação do Rio, perguntei-lhe como ela poderia atuar junto às crianças menores para evitar a gravidez adolescente. A resposta dela foi tão vaga que abortou-me todas as esperanças.
Sem dúvida, é o apelo sexual reinante na mídia, principalmente na TV, onde qualquer hora é hora para exibir cenas tórridas. Aliás, na TV brasileira, a meta é exibir qualquer coisa que impeça o telespectador de acinonar o controle remoto. Pode ser porrada, maledicência, intriga política, sensacionalismo policial, briga de família, humilhação travestida de pegadinha... e isso vai formando o inconsciente coletivo da massa. E a maioria dos pais, educados na mesma cartilha, acha tudo muito natural.
Eu não posso fazer sexo na rua com a minha namorada, é atentado ao pudor. Mas sexo na TV a qualquer hora do dia pode. Agredir alguém caído e sem direito de defesa, além de moralmente condenável, também é crime. Entretanto, se for num ringue de vale-tudo, pode ser atração nacional. Caluniar uma pessoa, famosa ou não, também é contra a lei. Num programa de fofocas vespertino ou num site de celebridades, porém, é entretenimento. Na nova propaganda do automóvel Peugeot, o tenista Guga dirige perigosamente em alta velocidade na cidade, quase atropela dois operários, e o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária não fala nada.
Laissez faire laissez passer le monde va de lui même (deixa fazer, deixa passar que o mundo vai por si mesmo, dizem os liberais há séculos). Vai pra onde?, pergunta-se.
Qualquer iniciativa do governo (democraticamente eleito pela sociedade) de colocar um limite nesse festival de deseducação eletrônica é combatida ferrenhamente pelos autointitulados defensores da liberdade de expressão. Outro dia, vi o presidente de uma empresa de TV por assinatura criticando a iniciativa da Ancine de controlar os horários e o conteúdo exibido pelas emissoras. Os cães de guarda desse empresariado apátrida tratam todos que se revoltam com essa lavagem cerebral odiosa como se fossem pastores retrógrados querendo tolher os direitos individuais.
Adequar a grade de cada canal a cabo estrangeiro ao fuso horário local vai sair caro para as operadoras de TV por assinatura. Então, que crianças de quatro anos continuem assistindo a agressões e sacanagem já nas primeiras horas da manhã.
Muitos argumentam que a arma do telespectador para se defender é o controle remoto. Concordo, mas não se deixa uma arma na mão de uma criança, não é mesmo?
Aqui, como nos EUA, querem liberdade total. Dane-se a cabeça das gerações que estão formando. Quanto mais imbecilizadas melhor, quanto mais cedo meninos e meninas começarem a gerar novos futuros imbecis melhor. O número de estupros e de pedófilos cresce geometricamente, mas quem se importa? E, como provou a terceira lei de Newton, a reação a toda essa ação é a onda fundamentalista evangélica que se espalha pelo país. Fizeram tanta confusão na cabeça do Hommer Simpson que o cérebro dele virou Mandiopã.
O que manda é o lucro, o balanço das contas no fim do mês tem que ser positivo. É isso que chamam de livre iniciativa. Caíram de pau no presidente do Equador porque ele deu a jornalistas mentirosos o que eles mereciam: uma condenação judicial. Fazem do venezuelano Hugo Chávez um demônio nos noticiários, mas ele está disputando, nas urnas, sua terceira reeleição.
Acho engraçado esses democratas de almanaque. Querem fazer a população crer que, na nossa bela democracia, o povo manda, porque escolhe o presidente em eleição direta. Só que a partir do momento em que um presidente vai contra os interesses econômicos, ele já não representa mais os que o elegeram e passa a ser um déspota a ser deposto. Muito, muito coerente...
Nossa!, pensei, a coisa está cada vez mais preta por lá...
Mas aí eu passei em frente a uma escola pública estadual aqui de Copacabana às sete e dez da manhã e vi que a lavagem cerebral sexista sofrida pelas nossas crianças não é menor do que nos EUA, talvez seja até maior. Boa parte das garotas reunidas na porta do colégio estava com os cabelos impecavelmente feitos e aquelas unhas compridas e vermelhas de rainha de bateria. As pirralhas magricelas faziam caras e bocas para os garotos, também uniformizados e já prontos para aumentar a população brasileira a qualquer momento.
Nada contra a vaidade, mas a precocidade e a obstinação com que nossas crianças entram no mundo adulto é espantosa. Garotinhas de nove anos se portam como mulheres e parecem não ver a hora da primeira transa.
O que leva uma menina de 11 anos pintar os olhos e se emperequetar tanto às seis da manhã para ir a escola? Respondo: o fato de ela só pensar em sexo. Vai à escola apenas para aprender a ser mulher-objeto.
Certa vez, numa entrevista, depois de ouvir por três horas o blá-blá-blá acadêmico da secretária municipal de educação do Rio, perguntei-lhe como ela poderia atuar junto às crianças menores para evitar a gravidez adolescente. A resposta dela foi tão vaga que abortou-me todas as esperanças.
Sem dúvida, é o apelo sexual reinante na mídia, principalmente na TV, onde qualquer hora é hora para exibir cenas tórridas. Aliás, na TV brasileira, a meta é exibir qualquer coisa que impeça o telespectador de acinonar o controle remoto. Pode ser porrada, maledicência, intriga política, sensacionalismo policial, briga de família, humilhação travestida de pegadinha... e isso vai formando o inconsciente coletivo da massa. E a maioria dos pais, educados na mesma cartilha, acha tudo muito natural.
Eu não posso fazer sexo na rua com a minha namorada, é atentado ao pudor. Mas sexo na TV a qualquer hora do dia pode. Agredir alguém caído e sem direito de defesa, além de moralmente condenável, também é crime. Entretanto, se for num ringue de vale-tudo, pode ser atração nacional. Caluniar uma pessoa, famosa ou não, também é contra a lei. Num programa de fofocas vespertino ou num site de celebridades, porém, é entretenimento. Na nova propaganda do automóvel Peugeot, o tenista Guga dirige perigosamente em alta velocidade na cidade, quase atropela dois operários, e o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária não fala nada.
Laissez faire laissez passer le monde va de lui même (deixa fazer, deixa passar que o mundo vai por si mesmo, dizem os liberais há séculos). Vai pra onde?, pergunta-se.
Qualquer iniciativa do governo (democraticamente eleito pela sociedade) de colocar um limite nesse festival de deseducação eletrônica é combatida ferrenhamente pelos autointitulados defensores da liberdade de expressão. Outro dia, vi o presidente de uma empresa de TV por assinatura criticando a iniciativa da Ancine de controlar os horários e o conteúdo exibido pelas emissoras. Os cães de guarda desse empresariado apátrida tratam todos que se revoltam com essa lavagem cerebral odiosa como se fossem pastores retrógrados querendo tolher os direitos individuais.
Adequar a grade de cada canal a cabo estrangeiro ao fuso horário local vai sair caro para as operadoras de TV por assinatura. Então, que crianças de quatro anos continuem assistindo a agressões e sacanagem já nas primeiras horas da manhã.
Muitos argumentam que a arma do telespectador para se defender é o controle remoto. Concordo, mas não se deixa uma arma na mão de uma criança, não é mesmo?
Aqui, como nos EUA, querem liberdade total. Dane-se a cabeça das gerações que estão formando. Quanto mais imbecilizadas melhor, quanto mais cedo meninos e meninas começarem a gerar novos futuros imbecis melhor. O número de estupros e de pedófilos cresce geometricamente, mas quem se importa? E, como provou a terceira lei de Newton, a reação a toda essa ação é a onda fundamentalista evangélica que se espalha pelo país. Fizeram tanta confusão na cabeça do Hommer Simpson que o cérebro dele virou Mandiopã.
O que manda é o lucro, o balanço das contas no fim do mês tem que ser positivo. É isso que chamam de livre iniciativa. Caíram de pau no presidente do Equador porque ele deu a jornalistas mentirosos o que eles mereciam: uma condenação judicial. Fazem do venezuelano Hugo Chávez um demônio nos noticiários, mas ele está disputando, nas urnas, sua terceira reeleição.
Acho engraçado esses democratas de almanaque. Querem fazer a população crer que, na nossa bela democracia, o povo manda, porque escolhe o presidente em eleição direta. Só que a partir do momento em que um presidente vai contra os interesses econômicos, ele já não representa mais os que o elegeram e passa a ser um déspota a ser deposto. Muito, muito coerente...
Não somos uma Nação, somos um mercado consumidor, como nosso modelo maior, os Estados Unidos, onde, por sinal, esta semana, mais um garoto entrou no colégio e matou a tiros três coleguinhas...PS:
Um comentário:
Perfeito esse post! Sintetiza o que está acontecendo neste país, com clareza. É preciso demolir o império da Globo!
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