Intenção seria provocar atrito entre Dirceu e Palocci, que estava ameaçado no cargo
A transcrição de um áudio da Operação Monte Carlo, que prendeu o bicheiro Carlinhos Cachoeira em fevereiro acusado de chefiar a máfia do jogo do bicho e de fraudar licitações, revela que um araponga de Cachoeira invadiu o quarto de hotel do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu para recolher material e abastecer a revista Veja.
A informação é do blog do jornalista Mino Pedrosa.
Nos grampos da PF (Polícia Federal) revelados pelo blog, aparece uma conversa entre Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (sem partido–GO) na qual o contraventor confidencia ao político que financiou o araponga Jairo Martins de Souza para fazer filmagens clandestinas no apartamento de José Dirceu no Hotel Naoum, em Brasília.A gravação surge dois dias depois de o programa Domingo Espetacular, da Rede Record, veicular reportagem que mostra esquema em que o contraventor controlava o que seria publicado na principal revista da editora Abril. Documentos a que o programa teve acesso trazem provas de que as informações trocadas entre Cachoeira e o diretor da Veja resultaram ao menos em cinco capas da revista de maior circulação do País.
As gravações registram ainda que a influência esbarra em outras esferas do poder, como na pressão para demissão da cúpula do Ministério dos Transportes, que havia se desentendido com um dos aliados do contraventor, a construtora Delta. Por meio do que Cachoeira passava para ser publicado na Veja, vários funcionários do ministério foram afastados.As imagens reveladas nesta terça por Pedrosa, nas quais Dirceu aparece recebendo integrantes do alto escalão do PT, foram utilizadas pela revista Veja em matéria de capa de agosto de 2011 intitulada “O Poderoso Chefão”.Na ocasião, a reportagem sustentava que Dirceu mantinha um “bunker” no hotel e que tramava pela queda de Antônio Palocci, então ministro da Fazenda e envolvido em escândalos de corrupção.
Cachoeira diz no áudio publicado pelo blog que o jornalista Policarpo Junior, de Veja, procurou Jairo, fonte da revista em diversas matérias, e pediu a fita para publicar o furo. Cachoeira explica ao senador Demóstenes que recomendou ao araponga dizer a Policarpo que ele teria que pegar a fita com o próprio bicheiro. A intenção seria estreitar uma relação de fonte com o jornalista.
O bicheiro comenta ainda com o senador que a matéria só seria veiculada duas semanas após a entrega da fita e isto “seria ótimo para a oposição”. Demóstenes concorda e ambos falam do golpe de Dirceu sobre Palocci e comentam ainda que Dirceu está sempre envolvido nas grandes questões nacionais.
O araponga
Segundo o blog, o conhecido araponga da ABIN (Agência Brasileira de Inteligência), denunciado pelo ex-deputado Roberto Jefferson (PDT-RJ) em 2005 no escândalo dos Correios — que culminou com o mensalão — Jairo sempre foi financiado por Cachoeira, que manteria o esquema para se cacifar junto às autoridades fazendo chantagens.
O espião entrou no quarto de José Dirceu no Hotel Naoum e mexeu na pasta pessoal do ex-ministro. Não se tem notícias se algum documento ou objeto foi subtraído ou se o araponga plantou alguma escuta ambiente.
CPI
Parlamentares defendem a convocação de Roberto Civita, diretor de Veja, a prestar esclarecimentos na CPI do Cachoeira. Nos grampos efetuados pela PF, aparecem telefonemas de Cachoeira para Policarpo Júnior. As gravações levantam suspeitas de que o bicheiro encomendava matérias de seu interesse para lhe favorecer os negócios ou então prejudicar seus inimigos.
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