Mudanças climáticas: hora de recobrar o bom senso
sábado, 19 de maio de 2012
postado por Richard Jakubaszko
Exma. Sra.
Dilma Vana Rousseff
Presidente da República Federativa do Brasil
Excelentíssima Senhora Presidente:
Em uma recente reunião do Fórum Brasileiro de Mudanças
Climáticas, a senhora afirmou que a fantasia não tem lugar nas discussões sobre
um novo paradigma de crescimento – do qual a humanidade necessita, com
urgência, para proporcionar a extensão dos benefícios do conhecimento a todas
as sociedades do planeta. Na mesma ocasião, a senhora assinalou que o debate
sobre o desenvolvimento sustentado precisa ser pautado pelo direito dos povos
ao progresso, com o devido fundamento científico.
Assim sendo, permita-nos complementar tais formulações,
destacando o fato de que as discussões sobre o tema central da agenda
ambiental, as mudanças climáticas, têm sido pautadas, predominantemente, por
motivações ideológicas, políticas, acadêmicas e econômicas restritas. Isto as
têm afastado, não apenas dos princípios basilares da prática científica, como
também dos interesses maiores das sociedades de todo o mundo, inclusive a
brasileira. Por isso, apresentamos-lhe as considerações a seguir.
1) Não há evidências físicas da influência humana no clima
global:
A despeito de todo o sensacionalismo a respeito, não existe
qualquer evidência física observada no mundo real que permita demonstrar que as
mudanças climáticas globais, ocorridas desde a revolução industrial do século
XVIII, sejam anômalas em relação às ocorridas anteriormente, no passado
histórico e geológico – anomalias que, se ocorressem, caracterizariam a
influência humana.
Todos os prognósticos que indicam elevações exageradas das
temperaturas e dos níveis do mar, nas décadas vindouras, além de outros efeitos
negativos atribuídos ao lançamento de compostos de carbono de origem humana
(antropogênicos) na atmosfera, baseiam-se em projeções de modelos matemáticos,
que constituem apenas simplificações limitadas do sistema climático – e,
portanto, não deveriam ser usados para fundamentar políticas públicas e
estratégias de longo alcance e com grandes impactos socioeconômicos de âmbito
global.
A influência humana no clima restringe-se às cidades e seus
entornos, em situações específicas de calmarias, sendo estes efeitos bastante
conhecidos, mas sem influência em escala planetária. Para que a ação humana no
clima global ficasse demonstrada, seria preciso que, nos últimos dois séculos,
estivessem ocorrendo níveis inusitadamente altos de temperaturas e níveis do
mar e, principalmente, que as suas taxas de variação (gradientes) fossem
superiores às verificadas anteriormente.
O relatório de 2007 do Painel Intergovernamental de Mudanças
Climáticas (IPCC) registra que, no período 1850-2000, as temperaturas
aumentaram 0,74°C, e que, entre 1870 e 2000, os níveis do mar subiram 0,2 m.
Ora, ao longo do Holoceno, a época geológica correspondente
aos últimos 12.000 anos em que a civilização tem existido, houve diversos
períodos com temperaturas mais altas que as atuais. No Holoceno Médio, há
5.000-6.000 anos, as temperaturas médias chegaram a ser 2-3°C superiores às
atuais, enquanto os níveis do mar atingiam até 3 metros acima do atual.
Igualmente, nos períodos quentes conhecidos como Minoano (1500-1200 a.C.),
Romano (séc. VI a.C.-V d.C.) e Medieval (séc. X-XIII d.C.), as temperaturas
atingiram mais de 1°C acima das atuais.
Quanto às taxas de variação desses indicadores, não se
observa qualquer aceleração anormal delas nos últimos dois séculos. Ao
contrário, nos últimos 20.000 anos, desde o início do degelo da última
glaciação, houve períodos em que as variações de temperaturas e níveis do mar
chegaram a ser uma ordem de grandeza mais rápidas que as verificadas desde o
século XIX.
Entre 12.900 e 11.600 anos atrás, no período frio denominado
Dryas Recente, as temperaturas caíram cerca de 8°C em menos de 50 anos e, ao
término dele, voltaram a subir na mesma proporção, em pouco mais de meio
século.
Quanto ao nível do mar, ele subiu cerca de 120 metros, entre
18.000 e 6.000 anos atrás, o que equivale a uma taxa média de 1 metro por
século, suficiente para impactar visualmente as gerações sucessivas das
populações que habitavam as margens continentais. No período entre 14.650 e
14.300 anos atrás, a elevação foi ainda mais rápida, atingindo cerca de 14
metros em apenas 350 anos – equivalente a 4 m por século.
Por conseguinte, as variações observadas no período da
industrialização se enquadram, com muita folga, dentro da faixa de oscilações
naturais do clima e, portanto, não podem ser atribuídas ao uso dos combustíveis
fósseis ou a qualquer outro tipo de atividade vinculada ao desenvolvimento
humano.
Tais dados representam apenas uma ínfima fração das
evidências proporcionadas por, literalmente, milhares de estudos realizados em
todos os continentes, por cientistas de dezenas de países, devidamente
publicados na literatura científica internacional. Desafortunadamente, é raro
que algum destes estudos ganhe repercussão na mídia, quase sempre mais
inclinada à promoção de um alarmismo sensacionalista e desorientador.
2) A hipótese “antropogênica” é um desserviço à ciência:
A boa prática científica pressupõe a busca permanente de uma
convergência entre hipóteses e evidências. Como a hipótese do aquecimento
global antropogênico (AGA) não se fundamenta em evidências físicas observadas,
a insistência na sua preservação representa um grande desserviço à ciência e à
sua necessária colocação a serviço do progresso da humanidade.
A história registra numerosos exemplos dos efeitos nefastos
do atrelamento da ciência a ideologias e outros interesses restritos. Nos
países da antiga URSS, as ciências biológicas e agrícolas ainda se ressentem
das consequências do atraso de décadas provocado pela sua subordinação aos
ditames e à truculência de Trofim D. Lysenko, apoiado pelo ditador Josef Stálin
e seus sucessores imediatos, que rejeitava a genética, mesmo diante dos avanços
obtidos por cientistas de todo o mundo, inclusive na própria URSS, por
considerá-la uma ciência “burguesa e antirrevolucionária”. O empenho na
imposição do AGA, sem as devidas evidências, equivale a uma versão atual do
“lysenkoísmo”, que tem custado caro à humanidade, em recursos humanos, técnicos
e econômicos desperdiçados com um problema inexistente.
Ademais, ao conferir ao dióxido de carbono (CO2) e outros
gases produzidos pelas atividades humanas o papel de principais protagonistas
da dinâmica climática, a hipótese do AGA simplifica e distorce um processo
extremamente complexo, no qual interagem fatores astrofísicos, atmosféricos,
geológicos, geomorfológicos, oceânicos e biológicos, que a ciência apenas
começa a entender em sua abrangência.
Um exemplo dos riscos dessa simplificação é a possibilidade
real de que o período até a década de 2030 experimente um considerável
resfriamento, em vez de aquecimento, devido ao efeito combinado de um período
de baixa atividade solar e de uma fase de resfriamento do oceano Pacífico
(Oscilação Decadal do Pacífico, ODP), em um cenário semelhante ao verificado
entre 1947-1976. Vale observar que, naquele intervalo, o Brasil experimentou
uma redução de 10-30% nas chuvas, o que acarretou problemas de abastecimento de
água e geração elétrica, além de um aumento das geadas fortes, que muito
contribuíram para erradicar o café no Paraná. Se tais condições se repetirem, o
País poderá ter sérios problemas, inclusive, nas áreas de expansão da fronteira
agrícola das regiões Centro-Oeste e Norte e na geração hidrelétrica
(particularmente, considerando a proliferação de reservatórios “a fio d’água”,
impostos pelas restrições ambientais).
A propósito, o decantado limite de 2°C para a elevação das
temperaturas, que, supostamente, não poderia ser superado e tem justificado
todas as restrições propostas para os combustíveis fósseis, também não tem
qualquer base científica: trata-se de uma criação “política” do físico
Hans-Joachim Schellnhuber, assessor científico do governo alemão, como admitido
por ele próprio, em uma entrevista à revista Der Spiegel (17/10/2010).
3) O alarmismo climático é contraproducente:
O alarmismo que tem caracterizado as discussões sobre as
mudanças climáticas é extremamente prejudicial à atitude correta necessária
frente a elas, que deve ser orientada pelo bom senso e pelo conceito de
resiliência, em lugar de submeter as sociedades a restrições tecnológicas e
econômicas absolutamente desnecessárias.
No caso, resiliência significa a flexibilidade das condições
físicas de sobrevivência e funcionamento das sociedades, além da capacidade de
resposta às emergências, permitindo-lhes reduzir a sua vulnerabilidade às
oscilações climáticas e outros fenômenos naturais potencialmente perigosos.
Tais requisitos incluem, por exemplo, a redundância de fontes alimentícias
(inclusive a disponibilidade de sementes geneticamente modificadas para todas
as condições climáticas), capacidade de armazenamento de alimentos,
infraestrutura de transportes, energia e comunicações e outros fatores.
Portanto, o caminho mais racional e eficiente para aumentar
a resiliência da humanidade, diante das mudanças climáticas inevitáveis, é a
elevação geral dos seus níveis de desenvolvimento e progresso aos patamares
permitidos pela ciência e pela tecnologia modernas.
Além disso, o alarmismo desvia as atenções das emergências e
prioridades reais. Um exemplo é a indisponibilidade de sistemas de saneamento
básico para mais da metade da população mundial, cujas consequências
constituem, de longe, o principal problema ambiental do planeta. Outro é a
falta de acesso à eletricidade, que atinge mais de 1,5 bilhão de pessoas,
principalmente, na Ásia, África e América Latina.
No Brasil, sem mencionar o déficit de saneamento, grande
parte dos recursos que têm sido alocados a programas vinculados às mudanças
climáticas, segundo o enfoque da redução das emissões de carbono, teria uma
destinação mais útil à sociedade se fossem empregados na correção de
deficiências reais, como: a falta de um satélite meteorológico próprio (de que
dispõem países como a China e a Índia); a ampliação e melhor distribuição
territorial da rede de estações meteorológicas, inferior aos padrões
recomendados pela Organização Meteorológica Mundial, para um território com as
dimensões do brasileiro; o aumento do número de radares meteorológicos e a sua
interligação aos sistemas de defesa civil; a consolidação de uma base nacional
de dados climatológicos, agrupando os dados de todas as estações meteorológicas
do País, muitos dos quais sequer foram digitalizados.
4) A “descarbonização” da economia é desnecessária e
economicamente deletéria:
Uma vez que as emissões antropogênicas de carbono não
provocam impactos verificáveis no clima global, toda a agenda da
“descarbonização” da economia, ou “economia de baixo carbono”, se torna
desnecessária e contraproducente – sendo, na verdade, uma pseudo-solução para
um problema inexistente. A insistência na sua preservação, por força da inércia
do status quo, não implicará em qualquer efeito sobre o clima, mas tenderá a
aprofundar os seus numerosos impactos negativos.
O principal deles é o encarecimento desnecessário das
tarifas de energia e de uma série de atividades econômicas, em razão de: a) os
pesados subsídios concedidos à exploração de fontes energéticas de baixa
eficiência, como a eólica e solar – ademais, inaptas para a geração elétrica de
base (e já em retração na União Europeia, que investiu fortemente nelas); b) a
imposição de cotas e taxas vinculadas às emissões de carbono, como fizeram a
Austrália, sob grande rejeição popular, e a União Europeia, para viabilizar o
seu mercado de créditos de carbono; c) a imposição de medidas de captura e
sequestro de carbono (CCS) a várias atividades.
Os principais beneficiários de tais medidas têm sido os
fornecedores de equipamentos e serviços de CCS e os participantes dos
intrinsecamente inúteis mercados de carbono, que não têm qualquer fundamento
econômico real e se sustentam tão somente em uma demanda artificial criada
sobre uma necessidade inexistente. Vale acrescentar que tais mercados têm se
prestado a toda sorte de atividades fraudulentas, inclusive, no Brasil, onde
autoridades federais investigam contratos de carbono ilegais envolvendo tribos
indígenas, na Amazônia, e a criação irregular de áreas de proteção ambiental
para tais finalidades escusas, no estado de São Paulo.
5) É preciso uma guinada para o futuro:
Pela primeira vez na história, a humanidade detém um acervo
de conhecimentos e recursos físicos, técnicos e humanos, para prover a virtual
totalidade das necessidades materiais de uma população ainda maior que a atual.
Esta perspectiva viabiliza a possibilidade de se universalizar – de uma forma
inteiramente sustentável – os níveis gerais de bem-estar usufruídos pelos
países mais avançados, em termos de infraestrutura de água, saneamento,
energia, transportes, comunicações, serviços de saúde e educação e outras
conquistas da vida civilizada moderna. A despeito dos falaciosos argumentos
contrários a tal perspectiva, os principais obstáculos à sua concretização, em
menos de duas gerações, são mentais e políticos, e não físicos e ambientais.
Para tanto, o alarmismo ambientalista, em geral, e
climático, em particular, terá que ser apeado do seu atual pedestal de
privilégios imerecidos e substituído por uma estratégia que privilegie os
princípios científicos, o bem comum e o bom senso.
A conferência Rio+20 poderá ser uma oportuna plataforma para
essa necessária reorientação.
Kenitiro Suguio
Geólogo, Doutor em Geologia Professor Emérito do Instituto
de Geociências da Universidade de São Paulo (USP)
Membro titular da Academia Brasileira de Ciências
Luiz Carlos Baldicero Molion
Físico, Doutor em Meteorologia e Pós-doutor em Hidrologia de
Florestas Pesquisador Sênior (aposentado) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE)
Professor Associado da Universidade Federal de Alagoas
(UFAL)
Fernando de Mello Gomide
Físico, Professor Titular (aposentado) do Instituto
Tecnológico da Aeronáutica (ITA)
Co-autor do livro Philosophy of Science: Brief History
(Amazon Books, 2010, com Marcelo Samuel Berman)
José Bueno Conti
Geógrafo, Doutor em Geografia Física e Livre-docente em
Climatologia
Professor Titular do Departamento de Geografia da
Universidade de São Paulo (USP)
Autor do livro Clima e Meio Ambiente (Atual, 2011)
José Carlos Parente de Oliveira
Físico, Doutor em Física e Pós-doutor em Física da Atmosfera
Professor Associado (aposentado) da Universidade Federal do Ceará (UFC)
Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Ceará (IFCE)
Francisco Arthur Silva Vecchia
Engenheiro de Produção, Mestre em Arquitetura e Doutor em
Geografia Professor Associado do Departamento de Hidráulica e Saneamento da
Escola de Engenharia de São Carlos (USP)
Diretor do Centro de Recursos Hídricos e Ecologia Aplicada
(CRHEA)
Ricardo Augusto Felicio
Meteorologista, Mestre e Doutor em Climatologia
Professor do Departamento de Geografia da Universidade de
São Paulo (USP)
Antonio Jaschke Machado
Meteorologista, Mestre e Doutor em Climatologia
Professor do Departamento de Geografia da Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP)
João Wagner Alencar Castro
Geólogo, Mestre em Sedimentologia e Doutor em Geomorfologia
Professor Adjunto do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ)
Chefe do Departamento de Geologia e Paleontologia do Museu
Nacional / UFRJ
Helena Polivanov
Geóloga, Mestra em Geologia de Engenharia e Doutora em
Geologia de Engenharia e Ambiental
Professora Associada do Departamento de Geologia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Gustavo Macedo de Mello Baptista
Geógrafo, Mestre em Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos
e Doutor em Geologia
Professor Adjunto do Instituto de Geociências da
Universidade de Brasília (UnB)
Autor do livro Aquecimento Global: ciência ou religião?
(Hinterlândia, 2009)
Paulo Cesar Soares Geólogo,
Doutor em Ciências e Livre-docente em Estratigrafia
Professor Titular da Universidade Federal do Paraná (UFPR)
Gildo Magalhães dos Santos Filho
Engenheiro Eletrônico, Doutor em História Social e
Livre-docente em História da Ciência e Tecnologia
Professor Associado do Departamento de História da
Universidade de São Paulo (USP)
Paulo Cesar Martins Pereira de Azevedo Branco
Geólogo, Pesquisador em Geociências (B-Sênior) do Serviço
Geológico do Brasil – CPRM
Especialista em Geoprocessamento e Modelagem Espacial de
Dados em Geociências
Daniela de Souza Onça
Geógrafa, Mestra e Doutora em Climatologia
Professora da Universidade do Estado de Santa Catarina
(UDESC)
Marcos José de Oliveira
Engenheiro Ambiental, Mestre em Engenharia Ambiental e
Climatologia Aplicada
Doutorando em Geociências Aplicadas na Universidade de
Brasília (UnB)
Geraldo Luís Saraiva Lino
Geólogo, coeditor do sítio Alerta em Rede
Autor do livro A fraude do aquecimento global: como um
fenômeno natural foi convertido numa falsa emergência mundial (Capax Dei, 2009)
Maria Angélica Barreto Ramos
Geóloga, Pesquisadora em Geociências (Senior) do Serviço
Geológico do Brasil – CPRM
Mestre em Geociências – Opção Geoquímica Ambiental e
Especialista em Geoprocessamento e Modelagem Espacial de Dados em Geociências
Publicado no blog “Terrorismo climático”, de Maurício Porto:
http://terrorismoclimatico.blogspot.com.br/2012/05/0236-carta-aberta-presidente-dilma.html
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