segunda-feira, 3 de setembro de 2012

PT X PSB: limites da campanha e da gestão

Fernando Cartaxo de Arruda, sociólogo - fcartaxoarruda@gmail.com
A eleição municipal de Fortaleza simboliza uma disputa que definirá os rumos da política no Ceará. O que está em jogo é quem dará as cartas políticas nos próximos embates que definirão a nova arquitetura de poder no Brasil, além de quem comandará a máquina pública municipal e a geografia do poder local.
As pesquisas dos institutos Voz Populi, Ibope e Datafolha captaram os primeiros efeitos e tendências das intenções de voto já sob a égide inicial da fase eletrônica e das parafernálias dos carros de sons, alegorias das bandeiras, caminhadas e minicomícios. É certo que o poder da mídia concentra a maior força de impacto sobre o eleitor, pois invade sua intimidade com programas elaborados com arte cinematográfica e apelos depurados pela ciência do marketing eleitoral.
Os candidatos com melhores estruturas financeiras e tempo de televisão e rádio, como era esperado, colhem os melhores frutos nas disputas por votos do eleitor. Dessa forma, não é de se estranhar o salto de Elmano Freitas, candidato do PT; e a ascensão de Roberto Claudio, erguido sob as bênçãos dos Ferreira Gomes. Ainda que o candidato do DEM, Moroni Torgan, tenha ocupado nas prévias da campanha eleitoral e ainda se mantenha em primeiro lugar nas intenções de voto, já se observa o seu processo de declínio. A pesquisa do Ibope capta uma queda acentuada de 7 pontos percentuais e a persistência de elevada rejeição junto ao eleitorado. A mesma tendência sendo registrada na pesquisa Datafolha.
Ainda que seja precoce qualquer diagnóstico definitivo da vontade do eleitor, pois a dinâmica da disputa eleitoral ainda não mostrou todas as suas facetas e efeitos surpresas, já não é de todo improvável se especular um embate no segundo turno que confronte o PT e o PSB. Nesse caso, os laboratórios eleitorais de ambas as candidaturas devem considerar, pelo menos preventivamente, a delicadeza no trato com os demais adversários visando seduzi-los para a eventualidade da polarização PT-PSB. Numa eleição fragmentada e com vários candidatos dotados de consistência eleitoral, apoios políticos no segundo turno podem ser essenciais para a pavimentação da vitória nas urnas.
Um dado interessante é que os postulantes que se definem como oposição de esquerda aos esquemas do PT e PSB, como são os casos do PSOL do Roseno e do PDT de Heitor, não sofreram abalos nas intenções de voto, permanecendo num patamar de estabilidade. É certo que as dificuldades estruturais de contarem com poucos recursos financeiros e minguado tempo na televisão e no rádio representa uma adversidade objetiva diante da lógica cartesiana eleitoral. Além é claro que o nicho eleitoral que lhes fornecem sustentabilidade faça parte de um mesmo filão de eleitores, o que dificulta a agregação de votos em um só nome que o torne competitivo para enfrentar o segundo turno. Até mesmo porque a questão do voto útil ainda não faz parte da paisagem desse segmento eleitoral.
A queda significativa da intenção de votos do candidato Inácio, em parte pode ser explicada pela falta de logística e espaço na mídia. Por outro lado, revela que sua identidade não conseguiu se desvencilhar dos seus antigos aliados do PSB e PT. Dessa forma, o seu eleitor tem maior facilidade de migrar para ambos os campos, principalmente quando estes dispõem de melhores forças de persuasão e viabilidade eleitoral.
Os resultados das pesquisas eleitorais tem como efeito imediato a injeção de ânimo nas campanhas de Elmano Freitas e Roberto Claudio, acirrando a disputa entre os antigos partidos aliados, pois ambos aparecem tecnicamente empatados no segundo lugar. Alguns indícios apontam que o clima poderá esquentar na troca de farpas e críticas, o que poderemos averiguar nos próximos programas eleitorais. Até o momento a presença de Lula e Luizianne tem surtido os efeitos esperados no processo de conquista da confiança eleitoral, fazendo alavancar a candidatura de Elmano. Da mesma forma, os irmãos Ferreira Gomes (Cid e Ciro) tem conseguido turbinar a escalada de Roberto Claudio.
As identidades dos candidatos Elmano e Roberto começam a ser decifradas pelos eleitores, que antes os desconheciam. No caso de Elmano, é nítida a vinculação com a gestão de Luizianne Lins, que vem melhorando gradativamente sua avaliação perante o eleitor. Há um efeito casado, pois quanto mais cresce a aceitação positiva da gestão municipal, maiores são os índices de intenção de votos do candidato do PT. O candidato Roberto Claudio tem sua imagem construída a partir do governador Cid Gomes e do líder político Ciro Gomes, ambos tendo um forte potencial eleitoral. O diferencial do PT é a utilização de Lula como âncora para abordagens das realizações da atual gestão e das ideias a serem implantadas; enquanto o candidato do PSB busca fazer críticas ao desempenho da administração e se lançar como gestor competente e capaz de realizar mais.
Um dos traços dessa campanha eleitoral é o enfoque na capacidade de gestão. A questão ideológica é sutilmente dada pelo PT, que se traduz em realizar mais para quem mais precisa. O restante é similar a todos os candidatos, dando ênfase para aos pilares priorizados pelos eleitores: saúde, segurança, educação e mobilidade urbana.
É uma eleição sem debates aprofundados, onde não salta aos olhos as limitações do nosso sistema socioeconômico. Reduz-se a tentativa de melhor administrar o caos das nossas contradições estruturais. A nossa saúde pública tem um modelo revolucionário, pois universalizou o atendimento e o direito à saúde, mas padece de baixo financiamento para atender com qualidade a escalada crescente das demandas sociais; a educação também sofre as dores de um financiamento insuficiente para atender com padrão de qualidade as populações mais necessitadas, pois a classe média migrou para o ensino pago; a violência urbana tem razões diversificas que vão das desigualdades sociais, do comércio das drogas e armas e da promiscuidade com o crime dos próprios agentes de segurança, além de não depender do município as políticas repressivas e de superação das causas da violência; e por fim, a questão da mobilidade urbana, que é uma tragédia de toda metrópole brasileira que privilegiou o meio de transporte individualista, requerendo uma verdadeira revolução na mudança de hábitos e na opção por transporte coletivo de qualidade, rapidez, conforto e segurança.
Esse é o retrato da eleição municipal: a busca de um gerente para administrar as profundas contradições socioeconômicas e culturais da sociedade brasileira; sem mexer em suas essências, mas apaziguar a desordem e alentar o sonho feliz de cidade.

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