quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Fortaleza: Quando a política perde para o poder econômico

Escrito por Íris Tavares - iristavaresce@yahoo.com.br
Nas duas últimas semanas, houve muitas indagações, por exemplo: “Com quantas mãos?”; “Com quanto dinheiro?”; “Quanto vale a contrainformação na disputa eleitoral?”.
Fortaleza foi palco e cenário de muito barulho nesses últimos quatro meses, culminando com o dia 28 de outubro.
A onda vermelha foi atingida pela onda amarela. Da Aldeota ao Bom Jardim, o amarelo dominou ruas, praças, esquinas. O mapeamento amarelo enquadrou até os vendedores de picolé, os carrinhos de pipoca, os ambulantes vendedores de churrasquinho e de outras miudezas. Nas esquinas, estava montado, estrategicamente, algo similar à banca do Totolec, coberta com a bandeira do candidato 40, na companhia de mais de três pessoas que empunhavam as bandeiras e gritavam palavras de ordem para os pedestres ou para os motoristas.
Foi um domingo tumultuado, em que as pessoas insultavam umas as outras; não parecia ser suficiente chegar à sua seção e votar, alguns gritavam e expressavam críticas. Para muitos, foi imperativo apagar o desenho da cidade que se estabeleceu com o governo da Participação Popular do PT em Fortaleza. O PSB e os 19 partidos aliados tinham o objetivo de derrotar o PT e apostaram numa campanha que alimentou ressentimentos e um ódio velado à figura da prefeita Luizianne.
E por causa da indecisão de muitos, optou-se por apelar pelo poder econômico. A boca de urna, a compra de voto e a intimidação de pessoas foi apenas uma pá de cal que se jogou em cima da lei que coíbe o crime eleitoral. Nos locais do crime, estavam a PM, a PF e o TRE. Testemunharam-se prisões que duraram, no máximo, meia hora, até a fiança ser paga. Enquanto o candidato 40 elogiava a presidente Dilma do PT, o seu exército amarelo anunciava, aos quatro cantos de Fortaleza, que o mensalão era do PT.
Foram situações complexas e confusas para os analistas políticos (imaginem para o simples eleitor!); um exemplo dessas situações atípicas foram os três secretários petistas que ocupam pastas importantes no governo do Cid Gomes, o qual lançou a candidatura do Roberto Cláudio e se licenciou no segundo turno, para cuidar pessoalmente da campanha.
Haveremos de pensar em episódios como esse e de nos preocupar com eles, porque a política é reduzida na forma, no conteúdo e na sua qualidade e perde espaço para os conchavos e alinhamentos de interesses voltados para os negócios montados, acordados com quem vai estar no comando político.
Será que a marca do capital que carimbou a campanha do Roberto Cláudio será capaz de continuar as grandes obras sociais comprometidas com a dignidade, a cidadania, que preservam e recuperam ambientes e comunidades inteiras, historicamente, alijadas do processo de inclusão, banidas pelo poder avassalador do capital, dos detentores das riquezas, pela exploração secular da classe pobre por outra classe, a elite?
O resultado do segundo turno das eleições em Fortaleza, com a maioria em prol do Roberto Cláudio, garantiu as bases e os pilares que ultrapassam o ápice da hegemonia do período do Tasso Jereissati (PSDB). O próprio governador já anunciou: Uma nova elite vai estar no comando de Fortaleza a partir do dia 1º. de janeiro de 2013.
Mesmo assim, é fundamental que se reconheça a história de luta e de resistência do povo de Fortaleza. Foi e continua sendo mérito do povo guerreiro e lutador de Fortaleza a parceria com o governo do PT, o qual, em dois mandatos, mudou a vida de milhares de pessoas das áreas de risco, dos grotões e de uma beira-mar chamada Vila do Mar, que hoje é o cartão postal que retrata a dignidade dos netos e filhos de pescadores.
A expressão de 46,98% dos votos a favor de Elmano de Freitas, sinalizam a provação dos eleitores de Fortaleza ao governo do PT e a confiança de milhares de pessoas ao legado que representa essa gestão. O voto consciente representa o amadurecimento e a solidez da democracia que não deve e nem pode sucumbir ao golpe e a transgressão da lei. Fechar olhos e se aliar as práticas antidemocráticas e antirrepublicanas não condiz com a coerência e com a ética necessárias para se garantir civilidade, humanismo e o respeito aqueles que defendem e debatem a política como uma ciência capaz exercitar o pensamento e as ideias.
Íris Tavares
Historiadora
Mestre em Políticas Públicas e Gestão da Educação Superior
Membro Diretório Estadual do PT.

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