segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Mercado busca consenso para a TV Digital

por Fernando Paiva - Home Theater & Casa Digital
Operadoras de telefonia celular e empresas de radiodifusão parecem ter hasteado a bandeira branca na discussão sobre a adoção da TV digital móvel no Brasil. Depois de muita polêmica no passado a respeito do modelo de negócios a ser empregado, os dois setores parecem concordar em se utilizar um modelo híbrido, que comporte a oferta de conteúdo gratuito e também conteúdo pago.
Essa foi uma das conclusões do debate "Os modelos de negócio da TV digital móvel" realizado durante o 5º Tela Viva Móvel, na semana passada em São Paulo. Em palestra que precedeu o debate, o diretor de assuntos regulatórios da Claro, Marcelo Pereira, deu o sinal de que as teles não serão inflexíveis quanto ao modelo de negócios da TV móvel: "Não somos contra a TV digital móvel gratuita", afirmou. Depois, ao longo do debate, tanto ele quanto a gerente de serviços de valor agregado da Oi, Fiamma Zarife, afirmaram que entendem que um modelo híbrido é viável.
A expectativa é de que o conteúdo gratuito seja dirigido ao consumo de massa, enquanto o conteúdo pago, on demand, seja direcionado ao público de classes sociais mais altas. Roberto Franco, diretor de tecnologia do SBT e presidente da SET (Sociedade de Engenharia de Televião), concorda com a posição.
Outro ponto de convergência na opinião dos dois setores é de que o melhor canal de retorno para a interatividade com a TV será a rede das operadoras móveis. "O radiodifusor não precisa ser dono do canal de retorno. Existem redes mais capacitadas e capilarizadas para isso", disse Franco, referindo-se às operadoras celulares. E acrescentou mais um ponto em que as emissoras precisarão da ajuda das teles: "Os radiodifusores não têm a expertise para fazer billing, atendimento ao cliente etc".
Outro ponto em que os dois setores precisarão dar as mãos para lançar a TV digital móvel é a construção da rede. Pereira, da Claro, entende que não faz sentido investir em uma rede 100% nova. O executivo defende que haja um compartilhamento da atual infra-estrutura de celulares, aproveitando seus sites. Nesse ponto, contudo, Roberto Franco lembra que a rede de transmissão das emissoras de TV será a mesma dos sinais para TV fixa, e que a complementariedade virá no retorno.
O preço do terminal móvel capaz de receber sinal de TV é considerado atualmente o ponto mais crítico para o lançamento e popularização desse serviço no País. Hoje, fala-se em terminais a preços de aproximadamente US$ 1 mil. O diretor de assuntos regulatórios da Claro acredita que dentro de dois anos ainda não haverá escala suficiente para uma oferta desses aparelhos a preços acessíveis para a maioria da população.
No bloco "Os modelos de negócio da TV digital móvel" do 5º Tela Viva Móvel, Pereira deixou claro que não tem nada contra a oferta de conteúdo gratuito para a TV móvel. Porém, lembrou que o modelo japonês de TV digital (ISDB-T), que viabiliza essa oferta gratuita, pode dificultar a produção em larga escala. "No Japão não há GSM. Hoje, não há um celular que seja GSM e, ao mesmo tempo, ISDB-T", comentou.
Morris Arditti, diretor de desenvolvimento de negócios da Gradiente, pondera que o grande desafio (e oportunidade) do Brasil será desenvolver aparelhos híbridos GSM/ISDB-T. "Isso ainda não existe e podemos ser os primeiros a desenvolver a tecnologia". Já o diretor de tecnologia do SBT, Roberto Franco, lembrou que os celulares não serão os únicos receptores de TV móvel. "Vários tipos de dispositivos conviverão juntos: laptops, celulares, PDAs, receptores portáteis", previu o executivo.
Arditti é um dos mais otimistas. Ele acredita que, no futuro, a TV móvel será quase tão indispensável quanto o celular é hoje. Por conta disso, conforme ganha escala a produção desses aparelhos, Arditti prevê que não será essencial que as operadoras banquem subsídios para a popularização dos terminais.
Modelo de produção
Qual será o modelo de produção de conteúdo para a TV digital móvel? Essa foi outra das questões debatidas. Enquanto uns apostam na produção prévia do conteúdo, outros acreditam que os produtores (tanto os independentes quanto as próprias emissoras) só começarão a investir em conteúdo quando a distribuição do mesmo estiver garantida.
"Não vejo desenvolvimento de produtos novos aqui. Há poucas alternativas para a incubação de conteúdo no Brasil, e esse modelo terá de ser revisto para que se pense em TV digital móvel", diz Adalberto Vianna, consultor de empresas de telecomunicações e ex-executivo da Globo, da Americel e do SBT, após lembrar a experiência com a TV por assinatura, que teve seu início exatamente no sentido inverso, o de produzir primeiro e encontrar canais para a distribuição depois.
Por um lado, a produção de conteúdo demanda tempo e investimento, e as produtoras e empresas de radiodifusão podem não estar dispostas a assumir o risco de produzir e não ter canais para a distribuição dos produtos. "As operadoras não vão investir na viabilização enquanto não houver garantia de conteúdo. Por outro lado, os produtores não vão gastar cerca de seis meses desenvolvendo o projeto de um programa sem garantias de que terão os meios para distribui-lo", afirma Franco, do SBT.
Ele afirma que, além da necessidade de meios para a distribuição, também é necessária uma auto-regulação do mercado, na qual operadoras e radiodifusoras encontrem o seu papel na TV digital móvel. "Os participantes dessa cadeia precisam ter garantias de que quando esse mercado nascer e se desenvolver, todos eles terão acesso a ele de forma isonômica".
A definição do padrão de TV digital vai permitir que os radiodifusores ofereçam serviços móveis a inúmeros dispositivos, com ou sem serviços interativos. "A previsão é que os celulares representem apenas 50% desses aparelhos", afirma Franco, que não vê antagonismo entre as redes das operadoras e radiodifusores, mas um trabalho conjunto. "Hoje a legislação já permite a retransmissão de TV aberta em dispositivos móveis, o que a rede digital vai viabilizar assim que o padrão for definido".
SBT, TVA e Universidade Mackenzie testam, há um ano, a transmissão de TV aberta para dispositivos móveis com o padrão japonês ISDB, com bons resultados, segundo Franco. "O sistema usa apenas um retransmissor para cobrir toda a cidade com a necessidade de poucos repetidores, o que torna o custo da tecnologia mais acessível", diz o executivo. "Hoje o telespectador médio gasta em torno de 4 horas por dia vendo TV. A partir de um dispositivo móvel é possível maximizar esse tempo, já que uma pessoa pode gastar até 3 horas em deslocamentos pela cidade", diz Franco.
Resta saber quem vai bancar o custo do terminal, já que o telespectador que usa transporte público não vai querer pagar em torno de R$ 1 mil por um terminal que pode receber vídeo. "A discussão sobre os custos do terminal (mais simples ou integrado com celular) e qual público vai ser o alvo da nova tecnologia (classes A e B ou C e D) ainda está na ordem do dia", completa.
Coréia
Um dos exemplos citados é o da KTF, segunda maior operadora de telecomunicações da Coréia, com 12,5 milhões de assinantes, que experimenta a convivência entre dois modelos de TV móvel: a terrestre e por satélite. A primeira, uma iniciativa do governo e radiodifusores, oferece conteúdo da TV aberta e é gratuita; a segunda, operada pelas teles móveis, tem a melhor cobertura e oferece conteúdos pagos, mas debate-se com a dificuldade de retransmitir conteúdo da TV aberta, que tem a maior demanda dos consumidores.
O DMB-S (por satélite) foi o primeiro a ser lançado, impulsionado pelo setor privado e pelas operadoras móveis que enfrentavam o problema de desenvolvimento lento desse mercado. "Os serviços móveis chegaram a 80% de penetração, por isso as operadoras tiveram que buscar fontes extras de receita", disse Young Sin An, diretor de desenvolvimento e estratégias da KTF, presente ao 5o. Tela Viva Móvel.
O outro modelo, o DMB-T (terrestre), começou pouco depois, a partir de uma iniciativa do governo para o estabelecimento de padrões do serviço móvel e para desenvolver esse mercado com mais rapidez. O resultado, por ser um serviço gratuito, foi a adesão de 600 mil assinantes, enquanto o DMB-S, mais antigo, mas pago, parou nos 540 mil assinantes.
A TV móvel por satélite usa a freqüência de 2,5GHz, enquanto o terrestre as faixas abertas de UHF, com velocidades maiores. Em janeiro de 2005, a Coréia resolveu seus problemas regulatórios com a nova tecnologia, licenciando 39 canais, sendo 12 de vídeo, 26 de áudio e 1 canal de dados. Em 2004, o Ministério das Comunicações já havia promulgado novas leis limitando os territórios dos radiodifusores e das operadoras nesse novo mercado, diz Sin An.
Na Coréia, o DMB-S custa US$ 30 para instalação mais uma taxa mensal, enquanto o DMB-T é gratuito mas vive o paradoxo de arrecadar pouco em publicidade: US$ 100 mil mensais que não cobrem as necessidades do serviço. "A meta, para que o serviço pague os investimentos na rede para ter cobertura, seriam US$ 50 milhões por ano", diz Sin An.
No DMB-S, as teles recebem 25% de participação dos provedores de serviços, mais a receita complementar dos canais de dados e serviços interativos. A cobertura entre os dois sistemas também é bastante diferente: o DMB-T opera apenas na região metropolitana de Seul e deve estender-se até o final do ano para outras cidades. Já o DMB-S cobre todo o país.
A previsão da KTF é contar com 8 milhões de assinantes de TV móvel até 2010, com conteúdos diferenciados e fazendo uso de novas tecnologias de redes para transmissão de vídeo, como MediaFLO e DVB-H, prevê Sin An. Por conviver com dois serviços, existe uma disputa acirrada por assinantes e por conteúdo. As teles, segundo ele, não conseguem ter acesso às transmissões de TV aberta, regulada pelos radiodifusores, limitando o oferecimento de conteúdo. Um obstáculo adicional é a limitação na oferta de aparelhos. "A Samsung desenvolveu um handset dual mode (para DMB-S e DMB-T) que foi recusado pelas operadoras por medo de perderem assinantes", completa o executivo da KTF. Empresas de telecomunicações e radiodifusores também travaram uma disputa no que diz respeito à distribuição dos sinais das redes abertas. "As pessoas querem ver o mesmo sinal da TV convencional, mas as emissoras não cedem seus sinais para o sistema pago", diz o executivo da KTF.
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