sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Lobista diz ter pago propina a repórter do Uol


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À polícia, Rowles Silva, ex-assessor do governo do Mato Grosso, diz que fez oito ou nove repasses de R$ 7 mil ao jornalista Vinícius Segalla, do portal de notícias do grupo Folha; segundo seu relato, jornalista teria pedido ainda R$ 500 mil para não veicular no Uol notícias negativas sobre o projeto do VLT de Cuiabá, a principal obra de transporte de uma das cidades-sede da Copa de 2014; repórter, que antecipou resultado da licitação em anúncio cifrado, nega acusações e diz estar tranquilo

RAMON MONTEAGUDO DA REDAÇÃO, do MIDIANEWS
O ex-assessor do governo de Mato Grosso e lobista Rowles Magalhães Pereira Silva afirmou que pagou propina ao repórter Vinícius Segalla, do site UOL, para que este não publicasse notícias negativas em relação ao Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). O lobista disse, também, que foi chantageado pelo jornalista, durante contatos feitos no ano passado. As declarações de Rowles Silva estão em um depoimento prestado ao delegado Gianmarco Paccola Capoani, da Polícia Civil de Mato Grosso, no dia 24 de agosto de 2012, ao qual o MidiaNewsteve acesso com exclusividade, na semana passada. Ele foi convocado a depor depois que Segalla publicou uma reportagem afirmando que o consórcio vencedor da licitação do VLT já era conhecido um mês antes da data marcada para a divulgação (veja a reportagem abaixo). No texto, publicado em 17 de agosto do ano passado, o jornalista relata que Rowles afirmou que integrantes do governo receberam propina de R$ 80 milhões, dos três consórcios primeiros colocados na concorrência, para viabilizar o negócio. Ao delegado, em um depoimento que durou seis horas e meia, em Cuiabá, Rowles disse que ele e Vinícius tiveram o primeiro encontro em São Paulo, no Shopping Jardim Sul, no Blenz Café. Na ocasião, eles teriam trocado e-mails e Rowles falou sobre as vantagens do VLT. Vinte dias depois, houve, segundo Rowles, um novo encontro, também em São Paulo, em um café da Copenhagen. “Depois de alguns questionamentos, o Vinícius resolveu dizer a realidade dos fatos; que, na verdade, ele recebia mensalmente vantagens econômicas para manipular informações na imprensa no sentido de denegrir o projeto do VLT e apoiar o BRT”, disse o lobista. Segundo ele, na ocasião, Vinícius disse, sem revelar nomes, que quem estava por trás dessas ações era um “empresário de Cuiabá”. Rowles afirmou, então, que tinha interesses comerciais em uma Parceria Público-Privada (PPP), e que o VLT era a melhor opção para Mato Grosso. “Então, o Vinícius solicitou algumas vantagens mensais e eu disse que pagaria R$ 7 mil por mês a ele, que ficou com o único compromisso de não publicar notícias negativas no UOL em desfavor do VLT”, disse. O lobista afirmou que fez "oito ou nove" pagamentos ao jornalista. “Após um mês, nos encontramos novamente no Jardim Sul e repassei os R$ 7 mil a ele. Isso aconteceu por oito ou noves vezes, durante os meses seguintes, sendo que um pagamento foi feito, em dinheiro, por Simoni, mãe da minha filha, pois eu estava viajando e o Vinícius estava insistindo pelo repasse. Outro pagamento foi feito por meu irmão”, disse Rowles, no depoimento. O lobista afirmou que, ao longo do período, se encontrou com o repórter em vários locais, como bares, shoppings e restaurantes – fato que os aproximou. "Ele ficou puto, magoado" Entre o final de 2011 e início de 2012, Rowles disse que soube que o VLT não seria feito por meio de uma PPP, mas sim por Regime Diferenciado de Contratação (RDC). E, por isso, afirmou ao jornalista que não lhe pagaria mais os R$ 7mil mensais. “Ele ficou puto, magoado”, disse, no depoimento ao delegado. Depois de alguns dias, em março de 2012, um “último bate papo” foi marcado, segundo Rowles, em um bar na Avenida Sumaré, em São Paulo. “Chegamos por volta das 11h30 e ficamos lá até 14h30, mais ou menos. Tomamos algumas cervejas, descontraidamente, e ficamos discutindo sobre VLT e BRT, suas vantagens e outras situações. E o Vinícius sempre me questionava o que eu estava ganhando para trabalhar pela Ferconsult e insistia em saber se havia algum tipo de 'armação' na licitação. Eu disse que nunca soube de esquemas envolvendo pessoas do governo”, relatou. Segundo ele, a conversa foi ficando “mais acirrada” e Vinícius lhe mostrou um guardanapo de papel, com anotações de um anúncio cifrado, publicado no Diário de Cuiabá, com informações de quem seria o vencedor da licitação do VLT. “Ele continuou me perguntando o que eu achava disso, e eu estava alcoolizado, de saco cheio, e mandei ele procurar o jornal. Então, blefei e disse mais ou menos isso: ‘uma empresa me ofereceu R$ 60 milhões, vai ver que ofereceram R$ 80 milhões, vai saber’... Falei isso de modo irônico, para encerrar o assunto e dizer que o processo de licitação foi transparente”, disse. Segundo Rowles, passado algum tempo, num domingo, por volta das 13 horas, ele recebeu uma ligação de um número desconhecido. Ao atender, era Vinícius, que lhe perguntou se 'fazia tempo que não abria o e-mail criado para se comunicarem'. “Eu disse que não abri mais o e-mail e ele pediu que eu olhasse o mesmo, e depois ligasse. Eu abri o e-mail e vi a mensagem: ‘Descobri que você foi nomeado assessor especial da vice-governadoria. Nossas conversas foram gravadas, vá a um orelhão e me ligue’. Eu fiquei puto e fui até um telefone público, na Avenida Isaac Póvoas. Ele atendeu e disse que a gente precisava conversar. Eu falei: ‘Vai a puta que o pariu e faça o que quiser, não tem papo. E desliguei o telefone”, relatou o lobista. R$ 500 mil Rowles disse que horas depois, "de cabeça fria", voltou a ligar para Vinícius, de um outro “orelhão”, na Rua 24 de Outubro. “Eu falei que aquilo não era justo, pois não havia lhe concedido nenhuma entrevista e que a conversa foi informal, em bate papo de bar, tomando bebida alcoólica, e que não havia nada de ilegal naquilo que eu fiz e presenciei. Ele falou que não queria saber, e que eu teria um prazo, até segunda-feira, porque, na terça-feira, ele faria a publicação da matéria e iria ‘me fuder’”, afirmou. Depois da ligação, o lobista disse que procurou um amigo, chamado Marcos, para se aconselhar sobre o que fazer. “Ele me orientou a ligar novamente para Vinícius a fim de saber o que ele queria. Eu liguei de um orelhão, no bairro Coxipó, e ele me disse que queria R$ 500 mil, até segunda-feira, para não publicar a matéria, que seria publicada na terça. Eu falei que seria impossível arrumar esse dinheiro, e pedi a ele que aguardasse uma semana. Ele concordou”, disse. Segundo o lobista, na terça-feira, de fato, nada fora publicado. “Mas eu recebi uma ligação, na minha empresa, do Vinícius falando: ‘E aí, vai ter ou não vai ter? Você vem ou não vem?’. Eu disse que estaria em São Paulo na sexta-feira, mas acabei não indo e, nesse período, houve várias ligações ameaçadoras dele”, disse. Rowles disse que algum tempo depois, já como assessor do governo, durante uma viagem a Londres, para tratar da renegociação da dívida do Estado, viu uma notícia publicada no blog Prosa e Política, de Adriana Vandoni, em que era “francamente atacado”. "Nesse mesmo dia eu recebi várias ligações de Vinícius, sempre dizendo: 'Eu não falei que ia te foder, você já viu a Adriana Vandoni hoje?'. Eu disse que não tinha visto, e ele me disse que era para eu ver e escolher no sentido de ceder ao seu pedido de R$ 500 mil", disse Rowles, no depoimento. Segundo ele, quando retornou a Cuiabá, recebeu nova ligação de Vinícius, dizendo que também estava na cidade, e queria conversar pessoalmente. O encontro teria acontecido no Franz Café, na Praça Popular. Rowles disse que levou um amigo, chamado Geraldo, para testemunhar a conversa. “O Vinícius exigia os R$ 500 mil e eu não cedi. Neste momento, tocou o telefone do Vinícius e ele disse: ‘Estou aqui com a pessoa e amanhã está de pé a nossa viagem a Cáceres’. Depois que ele desligou o telefone, ele disse que era Aldo Locatelli, e que no dia seguinte iriam à Cáceres atrás de um processo que envolvia Eder Moraes”, disse. Ele relatou que, durante o encontro, recebeu uma ligação, de um amigo, alertando que ele estava sendo “detonado” no blog da Adriana Vandoni. “Eu acessei o blog do celular. A matéria me denegria, falando de doações do projeto do VLT, da viagem que fiz a Londres para tratar da dívida externa do Estado. Eu mostrei a matéria para o Vinícius e ele, ao ver a postagem, deu risada, dizendo que a Adriana era sua parceira”, afirmou. Na mesma conversa, segundo Rowles, Vinícius teria dito que aceitava abaixar o valor para R$ 200 mil. “Ele disse: ‘Você é quem sabe, já abaixamos o valor... Ou nós queremos algum documento, ou informação, contra Eder Moraes, pois se ele obtivesse esse documento, acertaria o valor diretamente com Aldo Localtelli, e eu não precisaria pagar mais nada, e teria meu nome preservado'”, afirmou. Segundo o lobista, após o encontro no Franz Café, o jornalista o teria procurado, por várias vezes, nos dias seguintes. Ao delegado Gianmarco Paccola Capoani, Rowles disse que não o atendeu. Dias depois, porém, ele disse que recebeu uma ligação de Vinícius, e foi ao seu encontro no Hotel Mangabeiras, na Avenida da FEB, em Várzea Grande, acompanhado de Geraldo. “Ele me disse que conversou com Maurício Guimarães (presidente da Secopa), que falou mal de mim e queria me envolver em ‘rolos’. Eu falei que estava cansado desta história e ia procurar o Fantástico, a Folha de S.Paulo, e provoquei o Vinícius a publicar as gravações na íntegra”, disse. Segundo ele, após esse dia ambos não se encontraram mais, embora o jornalista tenha lhe enviado vários e-mails na tentativa de outro contato, inclusive dizendo: "Não vai me atender, então boa sorte”. De acordo com Rowles, depois de duas semanas, o UOL publicou a reportagem envolvendo seu nome, “insinuando o recebimento de propinas”, o que motivou o seu afastamento imediato do cargo de assessor especial do governo. Outro lado Em entrevista ao MidiaNews, por telefone, o repórter Vinícius Segalla confirmou ter se encontrado, algumas vezes, com Rowles Magalhães Pereira da Silva. Ele admitiu que o primeiro encontro foi, de fato, em um café, no shopping Jardim Sul, em São Paulo. Ele também confirmou que se comunicou com o lobista, via e-mail. O jornalista negou que tenha cobrado propina. “É mentira dele. Eu nunca pedi nenhum tipo de propina a ele, nem de R$ 7 mil, nem de R$ 500 mil. O que ele falou é completamente desprovido de qualquer ligação com a realidade, com os fatos”, disse. O jornalista também negou que tenha se encontrado com a pessoa identificada por Rowles como Simoni, ou com o irmão dele. “Me encontrei novamente com ele, sim. Isso é verdade. Mas não houve nenhum tipo de pagamento. Não conheço Simoni, nem o irmão dele. Não houve pagamento nenhum”, disse. Vinícius também confirmou o encontro com o lobista na Avenida Sumaré. “Eu me lembro desse encontro. Inclusive, na reportagem que o UOL publicou, tem uma foto minha com ele, nesse lugar. Mas não é um bar. Foi no Franz Café. Era de manhã, não tomamos cerveja, não consumimos bebida alcoólica. Ele, inclusive, levou a filha. Nós conversamos; foi onde ele deu as declarações, publicadas pelo UOL”, disse. Ele também disse que Rowles não parecia estar embriagado, como afirmara à polícia. “A não ser que ele tivesse consumido bebida antes, mas ele não me pareceu alcoolizado. Dá para ouvir a voz dele nessas falas, isso também foi publicado. Não falamos sobre o anúncio do Diário de Cuiabá, não é verdade. Essa informação, sobre o anúncio, me foi passada pelo Ministério Público semanas, ou meses, depois, conforme também publicamos. Eu não tinha essa informação à época”, afirmou. Segalla confirmou outro encontro com Rowles, em Cuiabá. “Nos encontramos para que ele me entregasse um vídeo, supostamente com informações sobre propina na Secopa. Ele não entregou o vídeo e não publicamos nada sobre o assunto. Nosso encontro foi para isso, jamais pedi propina”, afirmou. O jornalista disse que Adriana Vandoni trabalhou com ele na apuração da matéria. “Ela assina a matéria como colaboradora. Esse contato com ela jamais foi secreto. Houve troca de informações durante apuração. Nunca a usei como ameaça”, disse. Ele também admitiu que se encontrou com o empresário Aldo Locatelli. “Conheço o Aldo. Me encontrei com ele. Fiz uma apuração intensa e extensa, e ele foi uma das pessoas que ouvi, entre muitas outras, como promotores, conselheiros do Tribunal de Contas e empresários”, disse. Vinícius Segalla, quem também prestou depoimento ao delegado Gianmarco Paccola Capoani, em São Paulo, afirmou que "está tranquilo" em relação ao assunto. “Não fiz nada de comprometedor. Se ele gravou os encontros, acho bom, para poderem saber o que a gente conversou. Não tem nada a ver com o que ele alegou na polícia”, disse. A blogueira Adriana Vandoni foi contatada pela reportagem e disse que retornaria a ligação, pois estava em consulta médica. O empresário Aldo Locatelli enviou uma nota sucinta à redação. "Afirmo que já forneci os esclarecimentos necessários a quem compete investigar as fantasias citadas", disse.

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