segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Gleisi: "Dilma é gestora, cobra resultados"

Em meio a assessores estressados com a recepção do presidente da França, François Hollande, a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, transpira tranquilidade. Pontualmente às 10h30min, abre a porta do florido gabinete no quarto andar do Planalto, trajando vestido, casaquinho de tweed e escarpim de verniz. Os cabelos presos destacam brincos de pérolas. Na mesa principal, uma pilha depostas.
Gleisi, 48 anos, prefere conversar na mesa de reuniões, com as fotos dos filhos, João Augusto e Gabriela Sofia. Em nada lembra a "dama de ferro" ou o "pitbull", como a chamavam nos tempos de Senado por conta de sua defesa ao governo do PT.
Agora, às vésperas de deixar o cargo, Gleisi deve concorrer ao governo do Paraná contra o governador Beto Richa (PSDB). Ela esconde ojogo sobre o futuro político, mas tentará viabilizara candidatura retomando ao Senado. Pretende dedicar mais tempo à paróquia.
Desde 2011, quando recebeu o convite de Dilma Rousseff para ocupar o antigo posto da presidente, a rotina de Gleisi mudou. Chega cedo e quase nunca deixa o Planalto antes das 22h. Nem levar os filhos no colégio, atividade que esperava manter, ela consegue.
- Eles estão indo de van - lamenta. Casada com o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, Gleisi se destacou na equipe de transição para o govemo Lula, em 2002.
Foi convidada pelo então presidente para ser diretora da Itaipu Binacional. A ZH, fez um balanço dos dois anos e meio em que comandou uma das principais pastas da Esplanada e falou ainda sobre mensalão e vida pessoal ao longo de cerca de 40 minutos de conversa, só interrompida pelo chamado de Dilma para recepcionar Hollande.
Zero Hora - A senhora vai deixar a Casa Civil para concorrer ao governo do Paraná?
Gleisi Hoffmann - Isso só será definido em 2014. Existe a possibilidade de eu deixar a Casa Civil no início do ano para avaliar.
ZH - Como é a experiência de ser a Dilma da Dilma?
Gleisi - Não sou a Dilma da Dilma. A presidenta tem outra característica. Tentei suprir uma demanda que a própria presidenta passou, de ter a atenção voltada para organização interna do governo, monitorando os programas, coordenando as ações para buscar resultados à população. Jamais pretendi substituí-la.
ZH - Como a senhora vê as prisões do mensalão?
Gleisi - É um caso que pertence ao Judiciário. Só espero que o rigor com que esse julgamento aconteceu seja o rigor que permeie todos os demais julgamentos daqui para frente em relação a casos semelhantes.
ZH - A senhora se refere ao mensalão do PSDB?
Gleisi - Me refiro a todos os casos.
ZH - O empresário Jorge Gerdau elogiou as concessões recentemente, mas disse que há defasagem de 20 anos na logística do Brasil. Quando o atraso será superado?
Gleisi - Ele tem razão. Esta falta era tão presente que, em 2007, Lula lançou o PAC. Como fazia muito tempo que o Estado não investia, faltavam projetos de engenharia. Como diz a Miriam Belchior (ministra do Planejamento), tivemos de trocar o pneu e melhorar o motor com o carro andando.
ZH - Mas persistem as queixas do empresariado sobre o governo, sobre a falta de diálogo.
Gleisi - Há muita fofoca. Minha avaliação se dá muito em relação ao que é prático. A melhor forma de avaliar são as parcerias. E as concessões de aeroportos, portos e rodovias, o leilão de Libra, as futuras concessões de ferrovia dão uma resposta positiFizemos um chamado para a iniciativa privada participar de forma mais incisiva com as concessões. Vamos dar resposta à demanda.
ZH - Com a rotina atual, do que a senhora mais sente falta?
Gleisi - Do tempo livre, de ler mais, de sair mais e passear. A demanda é muito grande, o país é muito grande.
ZH - A senhora é mulher do ministro Paulo Bernardo. Conseguem tempo para namorar?
Gleisi - A gente trabalha muito em casa, de vez em quando vamos ao cinema. Leio muitas coisas. Comecei a ler o 1889, do Laurentino Gomes.
ZH - O PIB teve a maior queda em quase cinco anos. Isso é normal na economia, ou, como diz a oposição, o Brasil vive uma crise de expectativas?
Gleisi - O Brasil faz parte do mundo, que está em uma crise que coloca os países desenvolvidos em grandes dificuldades. É natural termos impactos. Agora, é importante analisar a vida do povo. O Brasil conseguiu manter qualidade de vida, temos o menor índice de desemprego dos últimos tempos, não deixamos a renda cair, a inflação e a dívida em relação ao PIB estão controladas, mantivemos programas de inclusão.
ZH - A presidente distribui muitas broncas?
Gleisi - A presidenta cobra muito, e isso é muito positivo. Tem um mito sobre as broncas, mas isso acontece porque as pessoas na política ou na gestão pública não estão acostumadas a cobranças de resultados mais efetivos. E a presidenta é uma gestora, ela cobra resultados.
ZH - Existe um conflito no país sobre a demarcação de terras indígenas e quilombolas. Como equacionar a situação?
Gleisi - Precisamos mediar a relação. Não adianta fazer uma demarcação porque ali há direito de terra indígena, sem considerar o pequeno agricultor ou os quilombolas. Se não dá para demarcar como gostaríamos, vamos fazer uma mediação, uma demarcação que atenda às expectativas de todos. Temos de buscar o equilíbrio, ter procedimentos sobre as demarcações e ouvir todos os envolvidos, não apenas a Funai. Temos de ouvir o Incra, os ministérios da Cidade e Desenvolvimento Agrário, a Secretaria de Direitos Humanos, ouvir todos.
ZH - E a situação da compra de terras por estrangeiros no Brasil, o governo estuda rever o parecer que limita a aquisição?
Gleisi - Por enquanto, o assunto não é prioridade. Temos de ter cuidado, é questão de soberania nacional. Queremos que este país produza essencialmente para o povo brasileiro e, de preferência, por brasileiros.
ZH - Mas as limitações atrapalham investimentos, como o da celulose no Rio Grande do SuL
Gleisi - Há questões específicas que precisam de respostas, como a celulose. A AGU (Advocacia-Geral da União) estuda soluções pontuais.
ZH - O projeto de lei do novo in-dexador da dívida dos Estados está no Congresso e deveria ser votado este ano, mas deve ficar para 2014. Qual a posição real do governo?
Gleisi - É uma posição de cautela, coordenada pela Fazenda.
ZH - Mas o projeto será votado no ano que vem?
Gleisi - O Congresso tem autonomia para fazer sua parte, mas, como existe uma situação econômica externa adversa, temos de trabalhar com cautela todas as medidas com impacto fiscal e na macroeconomia.
ZH - As manifestações de junho mudaram a rotina do governo?
Gleisi - A presidenta foi muito ativa nas ações para responder à população. Focamos em temas que avaliamos que as mobilizações colocavam como prioritárias para o governo. Além das atividades e dos desafios cotidianos com a gestão da máquina, houve foco nos pactos anunciados pela presidenta.
ZH - Preocupa a possibilidade de manifestações na Copa?
Gleisi - O país é livre e democrático, e a manifestação pacífica é bem-vinda. Queremos evitar as manifestações violentas, que não contribuem com a democracia. O governo vai estar preparado para o enfrentamento.
ZH - Falando em Copa, permanecem os gargalos de inffaestrutura.Eles ameaçam o Mundial?
Gleisi - Não ameaçam. Estamos com o que é essencial para realizar a Copa sob controle, tanto nos aeroportos e na mobilidade como nos estádios. Vamos realizar uma boa Copa.
ZH - Congresso e governo discutem a PEC do orçamento impositivo. As emendas influenciam tanto na relação com os parlamentares?
Gleisi - A emenda é um direito do parlamentar. Particularmente, sou contra o orçamento impositivo. É sempre um risco impor uma despesa sem saber se aquela receita vai se efetivar. O parlamento entendeu que deveria ser assegurada a emenda, mas achamos que deveria ser negociado, mediamos para que uma parte substancial do dinheiro vá para saúde. A proposta é razoável e equilibrada, é passível de ser executada.
ZH - A senhora é uma mulher bonita. Rrecebe muitas cantadas, toma cuidados com a beleza?
Gleisi - Nunca recebi cantadas e sou vaidosa como toda mulher. Procuro caminhar todas as manhãs, mas não consigo ir à academia.
Fonte: reprodução Zero Hora.
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