sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

A Alckmin o que é de Alckmin

Por Renato Rovai, em seu blog:
Ingenuidade é algo que tem limite. O governo do estado tem sido informado de todos os passos da prefeitura em relação à Operação Braços Abertos, que a partir do diálogo e da inclusão social tenta criar uma nova condição de vida para os usuários da região da Cracolândia. Aqueles que moravam nas ruas da região foram convidados a morar em hotéis pagos pela administração municipal, a fazer refeições no Bom Prato e a trabalhar em serviços de zeladoria de praças e ruas. Os que aceitaram passaram a receber 15 reais por dia, além dos outros benefícios. De cara, 300 se inscreveram.
O programa foi lançado com honras e pompas pelo governo Haddad. Participaram da coletiva de imprensa vários secretários e à imprensa foi oferecido todo tipo de esclarecimento. A principal preocupação era a de que as polícias (Civil e Militar) cooperassem. E, segundo o secretário municipal de Segurança Urbana, Roberto Porto, que estava presente na coletiva, havia um acordo de cooperação entre as partes. O governo do estado era parceiro do programa.
De repente, policiais do Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc), comandado pela delegada Elaine Biasoli, transformaram a região em um palco de guerra, colocando em risco toda a ação do Braços Abertos. Confrontada com a ação, Eliane Biasoli classificou-a como “certíssima”.
É o tráfico, estúpido
Nas entrevistas que concedeu a delegada fez questão de afirmar que o órgão que comanda não será leniente com o tráfico de drogas. Por coincidência, na Folha de hoje reportagem informa que policiais civis são suspeitos de comandarem o tráfico na região.
Mas por que a delegada fez questão de entoar esse discurso da força contra o tráfico em todas as entrevistas que concedeu? Parece evidente que ela deseja fazer uma contraposição clara ao programa coordenado pela prefeitura. E colar no Braços Abertos a pecha de uma ação complacente com o uso de drogas. Ou seja, quer transformar a ação da polícia da Cracolândia num debate entre quem é a favor ou contra a liberação ou uso de drogas.
Será que a delegada ignora que a Cracolândia e o tráfico na região existem há uns bons anos e que ações violentas da polícia que comanda apenas pioraram a situação? Será que de fato ignora isso? Ou será que ela partiu para o ataque num momento tão delicado porque aqueles que a comandam lhe deram carta branca para bater de frente com a ação do governo municipal.
Programa vitrine
O Braços Abertos já vinha se destacando como uma ação positiva de Haddad em monitoramento de redes sociais. Muitos que apenas o criticavam passaram a elogiar a medida. O programa rapidamente se constituiu num elemento de diferenciação entre a forma de agir do governo do estado e da prefeitura. E ficava claro que se viesse a melhorar a qualidade de vida dos usuários e desse uma nova cara à região, poderia ser uma vitrine do prefeito para, inclusive, impulsionar outras ações.
Ou seja, percebeu-se que o programa poderia gerar dividendo políticos para Haddad e por extensão, ao PT. Isso num ano eleitoral.
É claro que é possível achar que a delegada tem sido tão truculenta nas entrevistas que tem concedido porque é assim mesmo. Ou seja, truculenta. Mas, na política, a ingenuidade é um pecado mortal. Se o secretário de Segurança Pública lhe garante a voz. E se o governador dá carta branca ao secretário e à delegada para colar no Braços Abertos a pecha de “Bolsa Crack” ou programa para distribuir dinheiro para drogados e cooperar com o tráfico é porque o governador tem interesse nisso. O resto é conversa para boi dormir.

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