terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Ascensão social provoca mais reivindicações

Coluna “Menu Político”, do caderno “People”, edição do O POVO de 26/1/2014.
“Eu não falo só por mim; falo por milhares”
Plínio Bortolotti
É inegável que a ascensão econômica alcançada por milhões de brasileiros é uma (não a única) das causas dos surpreendentes movimentos capitaneados por jovens, tanto as “jornadas de junho” (2013), quanto os recentes “rolezinhos” nos shoppings. A par da melhoria econômica, os filhos dessa “nova classe média” aumentaram seu nível educacional e chegaram à universidade. A mobilidade abre novas perspectivas, antes nem mesmo percebidas ou sonhadas.
Quanto mais baixo o nível que a pessoa ocupa na pirâmide social, quanto menor for sua escolaridade, menos oportunidade ela terá de reivindicar seus direitos. Por isso, oligarquias preferem manter a população na pobreza e na ignorância, dependente de favores dos chefes políticos, enquanto estes se locupletam à custa do bem público.
O que acontece no ensino universitário pode ilustrar alguns dos “problemas” (muito bem-vindos, diga-se) que a inserção das populações mais pobres, em campos antes praticamente restritos à classe média e aos ricos, podem acarretar. O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e a política de cotas para as universidades públicas federais vem democratizando o acesso a essas instituições. Porém, se para todos a vida é difícil, para os pobres ela impõe mais dificuldades.
Passar no exame é apenas um passo para uma longa caminhada. O segundo, é fazer a matrícula. Se um estudante pobre de São Paulo, por exemplo, é aprovado digamos, para a Universidade Federal de Sergipe, como ele arranja dinheiro para viajar até Aracaju e fazer a matrícula, que tem de ser presencial?
Supondo que ele consiga esse dinheiro, como fará para se manter longe da família, pagando hospedagem e alimentação durante quatro anos ou mais? Exatamente isso está acontecendo com Jonathan da Silva, 20 anos, mãe faxineira, morador de uma favela em São Paulo, conforme depoimento dele ao portal Uol.
É fato que o governo federal tem programas de ajuda para estudantes universitários sem recursos: o Prouni (bolsas nas instituições privadas) o Fies (de financiamento, também para faculdades particulares) e o Programa Bolsa Permanência (R$ 400 para estudantes de instituições federais públicas).
Porém, a quantidade de bolsas fica muito aquém do número de estudantes pobres que estão entrando nas universidades. Para o Prouni, por exemplo, inscreveram-se mais de um milhão e 200 mil candidatos, para disputar 191.625 bolsas. Ou seja, pouco mais de 15% serão contemplados.
É por isso que o Jonatham, citado acima, depois de expor as as suas dificuldades, disse seguinte:
“As cotas são uma grande conquista para nós. Mas a minha impressão é que o governo dá o doce, mas depois quer tirar. Alunos carentes deveriam ter garantia de bolsas, senão não adianta. Neste momento, estou à deriva, é desesperador. Lutei até aqui, estudei, consegui passar. Parece que estou tão perto de algo que quero muito, mas, na verdade, isso pode escapar. E não falo só por mim. Falo por milhares.”
Ou seja, logo haverá uma multidão de jovens, que antes nem sonhavam em entrar na universidade, pressionando para que lhe deem condições de permanecer nelas, depois que tiveram a possibilidade de chegar até seus portões.
NOTAS
Casablanca
“Prendam os suspeitos de sempre”, a frase do chefe de polícia no filme no clássico filme “Casablanca”, aplica-se à imprensa quando os políticos querem achar culpados para seus malfeitos. Um dos últimos a apontar o dedo para os noticiosos, foi senador José Sarney (PMDB), que se vê em papos de aranha para explicar a explosão de violência no Maranhão, estado no qual seu grupo está no poder há 50 anos.
Maranhão
No estado, é difícil topar com alguma coisa, rua, praça, cidade, prédio público, que não tenha o nome de alguém da família Sarney, vivo ou morto. Dono também de jornal e da repetidora da Globo no Maranhão, Sarney reclama do “massacre” que “está havendo na mídia nacional”, sem se lembrar que seu grupo político tem a obrigação de dar respostas equivalente à extensão de seu poder e ao longo tempo em que está dirigindo os destinos do estado.
Pasquale
Antes que algum professor Pasquale corrija a expressão acima para “palpos de aranha” (com o éle), aviso que o insuspeito dicionário Aulete admite as duas formas, referendando a “forma mais popular”, a que usei. A propósito, segundo o Aulete “palpos” é o “apêndice articulado e móvel da boca ou maxilar dos insetos”.

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