terça-feira, 18 de março de 2014

Folha, TV Cultura e a marcha golpista

Por Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho:
Os contribuintes de São Paulo estão pagando para que a TV pública do estado, a TV Cultura, divulgue a Marcha da Família. O evento é organizado por golpistas e terroristas assumidos, embora a TV os tenha pintado com tintas graciosas.
O tal Bruno Toscano, que ganhou destaque no jornal impresso, no UOL, e agora é estrela da TV Cultura, tem longa ficha criminal.
Coleciona também um triste histórico de ameaças de morte a vozes divergentes, além de manifestações medievais e truculentas de homofobia. Ele e seus comparsas promovem, sistematicamente, o uso de armas e até o homicídio contra seus adversários políticos, aí incluindo a chefe de Estado, Dilma Rousseff.
No vídeo, contudo, Toscano amarela e fala que Dilma está “enfrentando” Sarney, que, este sim, seria aliado do “dono do mundo”. Quem pesquisar a ação de Toscano nas redes verá que a ideia que espalha de Dilma não é bem essa: ele coleciona ameaças violentas contra a presidente (leia o texto abaixo, ainda nesse post). Em qualquer país do mundo, estaria preso, a começar pelos EUA, pátria amada e gentil de nossos conservadores.
Aqui se torna estrela de jornais e TV.
O outro que aparece no vídeo é Maycon Freitas, eleito pela Veja no ano passado como “a voz que emergiu das ruas”. Hoje ele se assume, com orgulho, de direita, e também defende uma intervenção militar. “Provisória”, diz ele, sem saber que repete o que também diziam em 64.
É evidente que a mídia está procurando salvar a marcha de um fracasso absoluto. Tenta-se, a todo custo, promovê-la, por motivos que não seria difícil imaginar.
A TV Folha até tentou fazer um contraponto: uma entrevista com Clovis Rossi falando mal da Marcha, mas a tentativa é só para disfarçar.
O vídeo de Rossi não tem força, e não foi sequer promovido, tanto que foi visto por apenas mil pessoas, contra quase 50 mil pessoas que assistiram o vídeo dos golpistas.
O mais importante aqui é que a Folha não se posiciona, de maneira firme, contra uma marcha que defende uma interrupção do processo democrático através de uma nova intervenção militar. O espírito democrático da Folha não funciona quando, como diria Cazuza, seus “inimigos estão no poder”.
(A sugestão do vídeo, exibido na TV Cultura, onde a Folha tem um programa, veio do blog da Cidadania, que também escreveu sobre o tema.)
Eu escrevi um post sobre o tema no Tijolaço, neste final de semana. Reproduzo abaixo.
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O que a Folha não deu sobre os organizadores da nova Marcha da Família
Há cinquenta anos, a Folha de São Paulo assumia-se francamente em favor da derrubada do presidente eleito, João Goulart. Para isso, o jornal, assim como quase todos os grandes meios de comunicação da época, se valiam de uma verdadeira alquimia verbal: os golpistas eram chamados de democratas e o golpe foi chamado de movimento de retorno à democracia.
Foi o maior engodo da história do Brasil. E foi preparado meticulosamente, ao longo de muitos anos, contando com gordo financiamento dos Estados Unidos.
Agora sabemos que a cúpula militar foi subornada. Há relatos de generais recebendo “malas de dólares” pouco antes do golpe.
É curioso que a Folha, que jamais se desculpou pelo apoio ao golpe, agora dê tanto espaço a Bruno Toscano, um dos organizadores da Marcha da Família, a qual defende, entre outras coisas, justamente uma nova “intervenção militar”.
Entretanto, o problema maior não é dar atenção à Marcha, já que é um evento bizarro o bastante para despertar o interesse público e jornalístico. O problema é não dar ao leitor um mínimo de informação sobre o entrevistado, o senhor Bruno Toscano.
Os internautas nos ajudaram a fazê-lo, embora me pedindo que não divulgue seus nomes, porque, segundo eles, Toscano já os ameaçou de morte várias vezes. Já foi montado inclusive um “Dossier Kipedia” com fotografias sobre o comportamento de Toscano nas redes.
São ameaças de morte à presidente da república e militantes de esquerda de forma geral, incitações ao terrorismo político, homofobia descarada.
Vou reproduzir apenas uma dessas coisas:
Por que a Folha não pesquisa sobre o personagem antes de jogar tantas luzes sobre ele?
A reportagem diz ainda que um dos apoiadores da marcha no Rio é Maycon Freitas, “técnico em segurança do trabalho”. A Folha já foi mais profissional. Maycon Freitas trabalha para Globo, como dublê, conforme descobriu este blog. Freitas ganhou notoriedade ano passado, ao aparecer nas Páginas Amarelas da Veja, como a “nova voz que emergiu das ruas”. A matéria compunha uma das tentativas da mídia de manipular as manifestações em favor da direita e contra o governo federal.
Tem mais: as mesmas figuras foram identificadas como os agressores de pessoas que participavam do Foro de São Paulo, no ano passado.
A nossa mídia agora se degenerou a tal ponto que vai promover terroristas?
PS do Fernando Brito: Miguel, a Folha poderia aproveitar o ensejo e perguntar sobre o que é a queixa-crime apresentada contra o Bruno Toscano Franco na 1a. Vara Criminal de São Paulo, no processo 00006262820148140401 do Tribunal de Justiça do Pará.
Ps 2 do Miguel: Tem muito mais coisa, Fernando. A ficha do cara é pesadíssima, mas poupei os leitores; uns amigos guardaram muitas fotos com suas ameaças. Se precisar a gente publica tudo aqui.

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