quinta-feira, 7 de maio de 2015

Milton Pomar: ao contrário do que parece

Por Milton Pomar
Para Pomar, ao contrário do que parece, não é a corrupção endêmica brasileira que está no banco dos réus. Quem está sendo denunciado todos os dias é o sistema capitalista, com a sua forma corrupta de fazer política.
Aos poucos, vai ficando evidente: o que está sendo exaustivamente denunciado no Brasil são as práticas capitalistas, de corromper, de fraudar e de sonegar para lucrar mais. Ao contrário do que parece, não é a corrupção endêmica brasileira que está no banco dos réus; quem está sendo denunciado todos os dias é o sistema capitalista, com a sua forma corrupta de fazer política, com a sua propaganda subliminar travestida de jornalismo, com a sua promiscuidade histórica entre atividades de grandes empresas e o Estado.
“Devemos ir para o enfrentamento na propaganda, no debate político e nas ações judiciais”
Por isso, é patético o esforço da Mídia Bandida, de denunciar a corrupção para esconder as práticas criminosas capitalistas, que aqui no Brasil não são diferentes das dos Estados Unidos, por exemplo. Lá como cá, as grandes empresas sempre estão envolvidas em negócios de tal dimensão que acabam ou começam em relações com o Estado, através de lobistas e políticos, ou políticos lobistas, como existem muitos no Brasil. A Mídia Bandida bem que tenta de todo jeito encobrir essa realidade, mas ela teima em reaparecer, seja através da denúncia da Suíça, das contas ilegais no HSBC – para onde foram parte dos bilhões de dólares ilegais que saíram do Brasil via remessas CC-5 do Banestado –, seja por investigações como a dos “acordos” criminosos feitos por grandes empresas no CARF, ou ainda pelos acordos judiciais no CADE, nos quais as empresas pagam multas milionárias para se livrar de processos, a exemplo do que ocorre rotineiramente nos Estados Unidos, onde volta e meia há acordos com multas de bilhões de dólares(!), pagas por grandes empresas fraudadoras, que cinicamente declaram pagar a fortuna cobrada pela Justiça apenas para encerrar o assunto, sem que isso caracterize serem culpadas do que são acusadas…
A situação atual no Brasil só não é inteiramente “normal” para a Esquerda, sempre atacada pelos capitalistas e sua mídia, porque a direção nacional do PT está na defensiva, reage timidamente à ofensiva dos capitalistas (em crescendo, desde maio de 2013), o que tem levado grande parte da militância petista a também ficar quase paralisada. E o governo federal não só é pouco ativo nesse aspecto, como ainda contribui negativamente, ao praticar a “austeridade” defendida por neoliberais, e assim dificultar a defesa da sua política econômica por petistas e pelos movimentos sociais.
Ao contrário do que parece, quem tem que se explicar são os capitalistas, donos de tudo no Brasil, inclusive do governo federal e do Estado brasileiro até 2003. Eles são os responsáveis pelas tragédias nacionais existentes, a começar pela da Educação: mais da metade da população mal e mal tem o Fundamental, mal sabe ler e pior sabe escrever. O analfabetismo funcional no Brasil é uma tragédia de proporções inacreditáveis. E a fantástica melhora que ocorreu no ensino superior e de nível médio, após 2003, não reduziu a quantidade de analfabetos funcionais, infelizmente.
Ao contrário do que parece, quem efetivamente diminuiu a tragédia alimentar no Brasil, grande produtor e exportador de produtos agrícolas, foi o governo federal do PT, não os capitalistas e os latifundiários do “agronegócio”, ou seus governos neoliberais. O país ter saído do Mapa da Fome deveria ter sido comemorado efusivamente, porque foi uma vitória muito importante.
Quem tem que se explicar sobre a tragédia urbana brasileira, de capitais com periferias explodindo, são eles, os capitalistas e latifundiários rurais e urbanos, e os seus sucessivos governos. A nossa “culpa” nessa história foi a falta de coragem para enfrentar os latifundiários e seus aliados e fazer as reformas Agrária e Urbana, já no primeiro governo Lula.
As denúncias sobre a falta de infraestrutura de transportes no país são o máximo da hipocrisia, da Mídia Bandida, dos capitalistas e dos seus políticos. O modelo dominante rodoviário, a precária e acanhada rede ferroviária, o débil modal hidroviário, os quase inexistentes dutos, e a até hoje sonhada navegação de cabotagem, ao contrário do que parece, são responsabilidade dos donos do Brasil, e não dos governos do PT. Quem viveu os anos 1980/90, quando não houve investimento em infraestrutura (nem de transportes, nem de coisa alguma), sabe muito bem disso.
Chegamos então nas percepções produzidas pela propaganda subliminar da Mídia Bandida e pelos políticos desonestos, inclusive os dirigentes de entidades empresariais, que não possuem mandato popular, mas falam como se tivessem. Por exemplo, em relação à redução da maioridade penal. Ao contrário do que parece, as muitas tragédias da juventude pobre – assassinada, encarcerada, torturada, transformada em criminosa nos presídios, sem acesso a atividades culturais, lazer, esportes, educação, trabalho – devem-se ao sistema capitalista, não à corrupção. Esta certamente piora as coisas, mas não é a causa principal. Ou enfrentamos essa ofensiva atual, “dando nomes aos bois” e aos seus donos, ou realmente corremos o risco de sermos derrotados, pela propaganda desenvolvida pelos capitalistas e ações articuladas por eles no Congresso, Judiciário, polícias etc.
Outro exemplo gritante, das percepções e da realidade, é a tragédia da taxa de juros real mais alta do mundo, recebida pelo sistema financeiro do Brasil, extorsivo e predatório da economia nacional.
Todo o barulho da Mídia Bandida por causa da inflação, colocando “n” especialistas para apavorar a população porque ela foi de 6% no ano, e não de 4,5% como era previsto, serve para desviar a atenção do essencial: o aumento de 100%, 150%, e até 200%, das taxas de juros dos bancos e cartões de crédito, mais um assalto de proporções bilionárias e caráter nacional, sobre as finanças populares e dos governos e empresas. Apesar do prejuízo para a economia nacional e do caráter reincidente, esse crime do sistema financeiro não levou os parlamentares a finalmente votar a regulamentação do artigo da Constituição que estabelece teto de 12% para a taxa de juros.
Ao contrário do que parece, o que está em disputa no Brasil, pelos capitalistas do mundo inteiro, já não é mais apenas a fabulosa somatória de recursos naturais (água, petróleo, minérios, florestas, biodiversidade, “Amazônia Azul”, o Cerrado…), mas também o importante mercado consumidor que o país se tornou, nos últimos dez anos, quando passou a integrar o seleto grupo dos sete países mais ricos do mundo, graças às políticas dos governos do PT, que levaram o mercado brasileiro a ser hoje um dos sete maiores do mundo em vários setores da economia.
Por tudo isso, devemos ir para o enfrentamento na propaganda, no debate político e nas ações judiciais. Ao contrário do que parece, quem tem que se explicar são os capitalistas e seus aliados, os verdadeiros responsáveis pelas maiores tragédias cotidianas do Brasil, inclusive a corrupção.
Milton Pomar é geógrafo e aluno do mestrado em Estado e Políticas Públicas na Fundação Perseu Abramo; integrou o Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE) Nacional do PT e foi Secretário de Comunicação do PT-SC.
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