quarta-feira, 27 de maio de 2009

O drama do jornalista

Eduardo Guimarães: Faz alguns meses, convenci minha filha primogênita a estudar jornalismo. Ontem, porém, fui compelido a refletir sobre se agi bem ao fazer isso. É que conversei com um jornalista conhecido e empregado numa grande corporação midiática... Não mencionarei nomes, contudo, por razões que se tornarão óbvias no decorrer do texto. No âmbito de uma conversa sobre a realidade política brasileira, ficou claro a mim – e creio que também a ele, mas de uma forma que talvez nunca tivesse lhe ocorrido – como a sua profissão, hoje em dia, assumiu uma feição desalentadora. Foi aí que pensei na minha filha. Eu a estimulei a estudar para se tornar uma profissional que terá que se submeter ao que, para alguém como eu, talvez seja a maior das torturas, a torturante submissão intelectual.Analisamos juntos, eu e esse profissional tarimbado em mídia corporativa, quais os “predicados” que deve reunir um jornalista para “se dar bem” atualmente, pois os tempos em que jornalistas podiam trilhar sua profissão com brio e seriedade e subir na carreira, parecem terminados.

Em primeiro lugar, não basta o jornalista aspirante a crescer na carreira bajular os barões da mídia, os quais detêm todos os bons empregos. Há que ser convincente. E tem que demonstrar que poderá ser útil, ou seja, que será capaz de defender aquele ideário de seu empregador. Ao ter que mostrar que defenderá com brilhantismo aqueles interesses, o profissional se violará moralmente, de certa forma, pois saberá que seu valor não estará em saber exercer sua profissão, mas em saber exercê-la daquela única forma que seu empregador quer. Se sair da linha, portanto, estará fora. Com o entrelaçamento das relações entre os barões da mídia que foi se processando nas últimas duas décadas, acabou aquela história de um grande veículo contratar algum jornalista que “se queimou” em outro. Há uma espécie de lista negra na qual, se um jornalista for inscrito, terá que procurar outra profissão para trabalhar ou se limitar a empregos mal pagos em assessorias de imprensa e congêneres.

O jornalista, assim, já entra fragilizado na profissão. Jovem, terá que trilhar um longo caminho de submissão intelectual e em formulação de provas de que poderá defender as idéias de seus empregadores e dos amigos deles. E não em provar que é capaz de fazer bom jornalismo. Notem bem, há grandes nomes no jornalismo, ainda, mas são jornalistas de outras gerações. Essa garotada que está aí se esfalfando nas redações nem cogita fazer o que fizeram alguns jornalistas de renome que deram pontapés nas bundas dos barões midiáticos que os empregavam. E a minha filha, como fica? Bem, ela é casada, tem uma filha de oito anos, o marido é um rapaz maravilhoso e irá ampará-la para sempre, tenho certeza. E isso é muito bom, porque, bem provavelmente, se ela seguir os ideais do pai talvez venha a ter dificuldades como essas que relatei acima.

Ou não, se a sociedade se engajar, se entender como esses profissionais são importantes para ela, para qualquer sociedade, pois vivemos numa época em que, cada vez mais, informação é tudo. E isso só acontecerá se essa sociedade entender e pressionar a imprensa, se a fizer entender que o consumidor de jornalismo contemporâneo mudou. A questão, no entanto, é saber até que ponto esse consumidor mudou e em que velocidade ele está mudando. É nesse aspecto que a internet pode contribuir. Os blogs independentes como este, ao desnudarem as mazelas do jornalismo – como fiz no post do último domingo, no qual demonstrei que os jornais que hoje são contrários ao terceiro mandato de Lula defenderam a reeleição para FHC – alertam algumas pessoas que jamais pensariam que um grande veículo daquele pudesse cometer aquilo que está sendo revelado.

Todavia, são poucas pessoas. O grande problema, como eu disse ao jornalista que mencionei no início do texto, é que a blogosfera ainda é praticamente invisível. Estamos, aqui ou no Esgoto (para vocês terem uma idéia da amplitude do espectro da coisa), pregando para convertidos. Quem vem aqui ou vai lá já tem opinião formada, ao menos em política. O cidadão comum, como eu e aquele jornalista consensuamos, não vai além do UOL, do IG ou similares. Ou seja: dos grandes portais. Dá uma passada de olhos, lê até algumas matérias sobre política e economia e sai de opinião formada, ou melhor, malformada. Essa é a esmagadora maioria do público consumidor de notícias que se informa pela internet, um público muito mais preparado intelectualmente. O desafio, daqui em diante, será tornar a blogosfera independente muito maior do que ela é, muito mais visível. Mas como, se até os petistas que apanham sem parar da mídia corporativa, quando ela lhes abre espaço se derretem todos?

Vocês já imaginaram o presidente Lula dando entrevista a um dos blogueiros-jornalistas independentes? Nem falo de mim, que não sou do ramo. Falo de todos esses jornalistas de renome que hoje atuam na blogosfera e que podem esperar sentados por uma entrevista de um figurão do governo. Esse governo e sua base de apoio preferem correr para os braços da Globo, da Folha etc. Até à Veja eles dão entrevistas. E alguns dão entrevistas à imprensa golpista que colocam todo o governo ou os partidos de sua base em maus lençóis, como se não bastasse. Subestimar o poder dessa hidra peçonhenta que é a mídia corporativa, portanto, é bobagem. Bem como superestimar a força (crescente) da blogosfera. O grande desafio dela hoje é se fazer enxergar. Há gente pensando em como fazer isso, e eu sou uma dessas pessoas. Talvez por não ser jornalista e por não ter ambições nessa carreira além da de escrever meu blog do jeito que eu quiser, possa ser útil à blogosfera profissionalizada no jornalismo. Gosto de ter idéias e de vê-las vicejar. Até mesmo se só eu souber que sou o autor daquele viço. Nada disso, porém, minimiza o que ainda passa o jornalista contemporâneo. Ter que cuidar de cada opinião que profere, e não para não dizer barbaridades mas para não deixar ver qualquer discordância da linha de pensamento uníssona do patronato, é um drama. E isso tem que mudar a qualquer preço. Só não sei como... Ainda.

3 comentários:

Márcia Brasileira disse...

Vou colocar este texto no meu blog.
Muito bom.
Esta realidade é muito dura.
Abçs

Pb.Jurandi disse...

Meu caro Daniel e demais blogueiros
uma das maneiras de propagarmos os
nossos blogs é fazer como eu faço:
Em todos os meus perfis dos orkut
que tenho, eu coloco os links de todos o meus blogs,e vc sabe que a
rede do orkut é muito grande e como tem muita gente que acessa os nossos perfis certamente um ou outro vai ter a curiosidade de abrir um link de algum blog.

deixo essa sugestão.

um grande abraço.

Daniel Pearl Bezerra disse...

Jurandi Bezerra de Brito, já faço a divulgação no ORKUT e TWITTER todos os dias. Agradeço a ótima dica. Um forte abraço fraterno, Daniel Pearl - editor do Blog da Dilma.