segunda-feira, 18 de julho de 2011

Dilma adota tolerância zero para combater corrupção

José Henrique Lopes, do R7
Especialistas apontam pulso firme contra desvios como traço da presidenta
A presidenta Dilma Rousseff teve poucos momentos de descanso desde que chegou ao Palácio do Planalto. Logo nos primeiros seis meses de governo, ela teve de enfrentar pelo menos duas grandes crises, que resultaram na queda de dois de seus principais ministros: Antonio Palocci, que deixou a Casa Civil, e Alfredo Nascimento, que perdeu o comando dos Transportes.
Em ambas as situações, a presidente não hesitou em “cortar na própria carne”. Agindo com rapidez, chamou os auxiliares sobre os quais pairavam suspeitas e cobrou explicações. No caso mais recente, de supostos desvios na gestão do Ministério dos Transportes, ordenou o afastamento de funcionários da pasta e pediu investigações assim que tomou conhecimento das denúncias.

Para especialistas ouvidos pelo R7, ao confirmar a fama de pulso firme, atribuída a ela desde os tempos em que chefiava a Casa Civil e liderava os ministros de Lula, Dilma começa a consolidar, agora sentada na cadeira de presidente, um estilo próprio de governar, em que a intolerância à corrupção e à falta de ética parece ser um de seus traços principais.
Na opinião de Renato Janine Ribeiro, professor de Ética e Filosofia Política da USP (Universidade de São Paulo), consolidar sua identidade será essencial para que a presidente mostre que tem nas mãos um governo com marca própria.
- O que está em jogo é: ela vai ter uma personalidade própria ou não? Ela tem mesmo que descartar rapidamente as pessoas que estiverem ruins. Ou ela consegue fazer uma consolidação significativa, no sentido de se mostrar como um nome poderoso, capaz de encontrar os caminhos dela, ou então vai ficar muito apagada.
O pesquisador Celso Roma, doutor em Ciência Política pela USP, destaca que o afastamento do diretor-executivo do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte), José Henrique Sadok de Sá, ocorrido nesta sexta-feira (15), foi mais uma pronta resposta do governo a denúncias de corrupção envolvendo a cúpula do Ministério dos Transportes.
- Até este momento, a presidente Dilma deu sinais claros de que será pouco tolerante com escândalos de corrupção em seu governo. Discrição no estilo de governar e firmeza contra a corrupção se revelaram as principais marcas dos primeiros seis meses do governo.
Fontes do Palácio do Planalto revelaram que a ordem para a saída de Sadok de Sá foi da própria presidente. O funcionário vinha respondendo pela direção do órgão na ausência de Luiz Antonio Pagot, que também já havia sido afastado por determinação de Dilma.
Para Roma, a rapidez para tirar servidores citados em investigações e conter polêmicas que atrapalhem o andamento do governo pode garantir à presidente a manutenção de seus bons níveis de popularidade e aprovação popular.
- O resultado das pesquisas de opinião realizadas após o afastamento de Palocci comprova esse ponto.
Uma pesquisa realizada em junho pelo Datafolha, após o caso Palocci, mostrou que a avaliação positiva do governo foi preservada apesar da turbulência. De acordo com o instituto, 49% dos entrevistados consideravam a gestão Dilma como ótima ou boa. Em março, esse índice era de 47%.
Falar mais
Na opinião de Janine Ribeiro, outro fator essencial que deve ser levado em conta pela presidente para construir sua identidade é a capacidade de comunicação. Neste ponto, diz ele, Dilma se diferencia muito de seus dois antecessores: Lula e o tucano Fernando Henrique Cardoso, ambos mais falantes do que ela.
- Acho que ela ficou calada um pouco demais. Agora está falando mais, e isso é um grande ganho. Ela vai ter que conquistar as pessoas pela fala. O regime democrático exige que a pessoa fale muito, e isso é uma coisa que ela vai ter que fazer cada vez mais, até para as pessoas sentirem que a presidente chega a elas.
Já Roberto Romano, professor do Departamento de Filosofia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), não vê prejuízos na discrição de Dilma. Trata-se, segundo ele, de uma característica natural da presidente.
- Ela tem um estilo próprio, moldado durante muito tempo pela militância que ela teve na esquerda. Na esquerda, ela era obrigada ao sigilo, à discrição e ao anonimato devido à repressão do regime militar. Então, ela aprendeu a não falar em demasia.
Para o especialista, em períodos mais conturbados, como os ocorridos neste primeiro semestre, o estilo de Dilma acaba sendo benéfico, porque evita exposições desnecessárias e minimiza o risco de declarações precipitadas e gafes.
- Ela tende a primeiro analisar e imediatamente traçar metas para a solução. Acho que essa atitude de mais recato a resguarda mais que se ela começasse a utilizar o verbo para cima e para baixo do Brasil, à maneira de seus antecessores.

4 comentários:

hugo disse...

A corrupção no Brasil é endêmica. É impossível erradicá-la. Penso que a estratégia mais salutar e adequada é estabelecer um teto para o valor de obras e licitações e criar uma fiscalização ( tipo tropa de elite ) para acompanhar de perto todos os passos dos processos, desde a licitude das licitações à pesquisa de mercados - quanto a valores - bem como a qualidade dos materiais e tempo de entrega. Não resolve o problema definitivo, mas alivia o impacto dos desvios de verbas.

edith disse...

Hugo a sua idéia é boa, acho que é um caminho, o problema é achar pessoas realmente comprometida a ponto de näo mais tarde se envolver na corrupcäo. Eu costumo dizer que, o político näo nasce político, ele vem do povo, e infelizmente uma grande parte do nosso povo, parece que tem no DNA esta doenca chamada fraqueza, pois näo conseguem ver dinheiro que quer meter a mäo.

Anônimo disse...

O governo tem que antecipar e fazer auditoria em todos os ministérios. Não pode ficar esperando denúncias da imprensa pra agir.

Isso não é agilidade é estupidez mesmo.

O GOVERNO TEM QUE FISCALIZAR OS MINISTÉRIOS, CASO CONTRÁRIO SERÁ UMA DENÚNCIA POR MÊS.

hugo disse...

edith, que bom que você leu o meu comentário e fez uma análise sensata, ponderada e equilibrada. Eu não tenho bola de cristal, mas dá pra perceber a criatura de alma generosa. As redes sociais existem para trançarmos os fios das esperanças e continuar acreditando que vários corações batem na direção da fraternidade - sem medo e sem ódio. A paz que transcende todo o entendimento continue fortalecendo e iluminando a sua caminhada.