Na geografia política de Brasília, ter gabinete no Palácio do Planalto é sinônimo de poder. Quanto maior a sala, mais influência no governo. Dilma Rousseff, ministra-chefe da Casa Civil, é dona do gabinete mais amplo do 4o andar do Planalto. Ela manda muito. É a gerente do governo, encarregada de fazer a burocracia funcionar e de resolver atritos entre os ministérios. Dos 34 ministros, ela é a que mais tempo passa ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Despacha todo dia com ele. Segundo assessores do Planalto, o presidente procura a opinião de Dilma sempre que há um assunto espinhoso. Sim, Dilma já tem muito poder. Mas ela quer ainda mais. De acordo com colegas de ministério, Dilma impôs a si mesma a meta de se transformar na porta-voz do grupo do governo insatisfeito com o desempenho fraco da economia. Ela tem dito que é possível levar o país a taxas maiores de crescimento sem abrir mão do controle da inflação e da responsabilidade com os gastos públicos. Ela deseja, portanto, influir na política econômica - a área mais sensível e disputada do governo.
Dilma é hoje a maior esperança da ala desenvolvimentista do governo. Defende o Estado forte, intervencionista, indutor do crescimento econômico. Nessa cruzada, tem como seguidores os ministros de Relações Institucionais, Tarso Genro, e da Fazenda, Guido Mantega. No lado oposto, na defesa de uma política econômica mais cautelosa, estão o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Como líder dos "desenvolvimentistas", Dilma tem uma posição estratégica. Sua caneta tem o poder de decidir o destino de milhares de cargos de confiança e a nomeação de centenas de diretores de estatais. Mas será que suas idéias prevalecerão no novo governo? O presidente do Senado, Renan Calheiros, afirma que Dilma tem talento para a tarefa: "Ela se revelou craque tanto na gerência do governo quanto na ação política". O cientista político David Fleischer diz que ela tem tamanho para isso. Segundo ele, Dilma tornou-se uma espécie de Condoleezza Rice - assessora que ganhou a confiança do presidente George W. Bush e hoje cuida da política externa americana - no governo Lula. "A atuação na área de energia e o afastamento do lamaçal político ajudaram bastante", afirma Fleischer. "É uma conselheira que cresce a cada dia no conceito do presidente." O tucano José Aníbal, ex-colega de Dilma nos tempos do movimento estudantil, afirma: "Dilma é um dos melhores quadros do governo Lula. É séria e tem convicções, mas sabe ser flexível. Sempre foi muito estudiosa, concentrada e racional".
A biografia de Dilma, de 58 anos, daria um bom livro de ação. Menina bem-nascida, ela pegou em armas contra a ditadura, foi expulsa da universidade, viveu na clandestinidade, foi presa e torturada. Recuperou-se e construiu uma carreira no serviço público que a transformou no braço direito de um presidente da República. Como a guerrilheira dos anos 70 se tornou hoje o integrante mais poderoso do gabinete de Lula? Dilma chegou a Brasília no fim de 2002 para participar da equipe responsável pela transição da administração Fernando Henrique Cardoso para o governo Lula. Foi encarregada da coleta de informações sobre a área de infra-estrutura. Como tinha apenas um ano de PT e poucos a conheciam, imaginava-se que talvez tivesse um cargo de segundo escalão. Ao contrário de colegas que faziam questão de aparecer na mídia, Dilma fugia dos jornalistas. Nas reuniões da equipe de transição, ganhou a confiança de Antônio Palocci, então coordenador do grupo. Palocci a indicou para ministra de Minas e Energia em razão de sua dedicação às tarefas s e pelo conhecimento do setor. Ela desbancou o físico Luiz Pinguelli Rosa, o favorito dos petistas.
Segundo velhos amigos, a aplicação é uma característica de Dilma desde criança. Filha do engenheiro e poeta búlgaro Petar Roussev e da professora brasileira Dilma Jane Silva, ela teve uma infância confortável em Uberaba, Minas Gerais. Seu pai mudara-se para o Brasil durante a construção da siderúrgica Mannesmann. Construiu um sólido patrimônio imobiliário e matriculou Dilma no tradicional Colégio Sion, onde as alunas só falavam com as professoras em francês. Ali, Dilma tomou gosto pelo estudo. Aos 15 anos, ela se transferiu para uma escola pública. "Fiquei bem subversiva. Percebi que o mundo não era para debutante", disse em certa ocasião. Quatro anos depois, ingressou na Polop, uma das várias organizações clandestinas de esquerda que surgiram no regime militar. Foi recrutada pelo noivo e futuro marido, Cláudio Galeno de Magalhães Linhares. Amigos da Faculdade de Economia de Belo Horizonte dizem que Dilma era uma jovem magrinha e alta, de rosto bonito e expressivo apesar dos óculos de fundo de garrafa. Vestia sempre calça jeans e camiseta branca. Por timidez, detestava falar em público. Mas era loquaz nas reuniões internas do grupo político. "Ela nunca gostou de aparecer, mas sempre mostrou muita capacidade em nossas discussões", diz o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT), companheiro de Dilma no Comando de Libertação Nacional (Colina), outra organização de esquerda.
Por sua atuação política, Dilma foi expulsa da faculdade. Foi vítima do Decreto no 477, um derivado do AI-5 que proibia o aluno de voltar a estudar durante três anos. Afastada da faculdade, caiu na clandestinidade. Adotou vários codinomes. O mais conhecido foi Estela. Era muito rigorosa com os procedimentos de segurança, nunca se atrasava ao comparecer aos locais de encontro de militantes, os "pontos". "Ela não se atrasava e cobrava de todos nós a mesma pontualidade. Uma vez, acho que em Copacabana, me deu um puxão de orelha", diz Pimentel. Como era comum, Dilma às vezes trocava de organização. Participou de um encontro no interior de São Paulo em que foi criada a VAR Palmares, grupo cuja maior atração era o capitão do Exército Carlos Lamarca. Durou pouco. Logo eles racharam, porque não concordavam sobre onde a luta armada deveria ser concentrada.
O maior feito atribuído à ministra na luta armada não passa de lenda urbana. Segundo o folclore dos Anos de Chumbo, Dilma teria participado do assalto à casa de uma amante do ex-governador de São Paulo Adhemar de Barros. Do cofre da residência, foram roubados US$ 2,4 milhões. A amigos, ela diz que ajudou no planejamento, mas não na ação. Em janeiro de 1970, Dilma caiu numa armadilha da repressão e foi presa quando ia a um encontro em São Paulo. Dilma foi barbaramente torturada urante 22 dias com choques elétricos em praticamente todo o corpo. Não gosta de falar sobre o assunto. "Fizeram choque, muito choque, mas muito choque. Lembro, nos primeiros dias, que eu tinha uma exaustão física, que eu queria desmaiar, não agüentava mais tanto choque. Comecei a ter hemorragia", disse Dilma numa rara entrevista. Em 2002, ela entrou com processo de indenização na Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. O pedido ainda não foi julgado. Época.
Rogério Schmitt: Dilma e Serra são nomes fortes para 2010
Cientista político, Rogério Schmitt, comenta as eleições de 2010 e aponta Dilma e Serra como principais candidatos à presidência em 2010 e diz que Ciro Gomes e Heloisa Helena são apoios importantes.
3 comentários:
Liberado comentários para DILMA PRESIDENTE.
Serra sim,mas Dilma eu duvido.
Onde estão as marcas da tortura?"Choque,muito choque" mas não deixaram marcas.Vocês fizeram foi um investimento,e agora meu imposto está pagando os perdedores.Safadeza.
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