segunda-feira, 16 de março de 2009

Plástica e poder, a intimidade da ministra ‘mão de ferro’ de Lula

POR BRUNO ASTUTO, Rio -
DILMINHA PAZ E AMOR?

Muita calma nessa hora. A altivez, o discurso de rigor técnico e a fala firme, de quem está certa do que pensa, continuam os mesmos. Mas a fisionomia, quanta diferença. Ministra-chefe da Casa Civil desde junho de 2005, quando assumiu o cargo depois da conturbada saída do polêmico José Dirceu, Dilma Rousseff se prepara para concorrer à sucessão de Lula em 2010 – embora não assuma e não haja santo que a convença a admitir. Mãe do Programa de Aceleração do Crescimento, o famoso PAC, ela tem percorrido o País ao lado do presidente, que a coloca cada vez mais, cheia de sorrisos, na linha de frente dos holofotes.
E eles não a deixam em paz desde que Dilma surgiu, janeiro último, favorecida pelas benesses da cirurgia plástica (remoção de bolsas sob os olhos, levantamento das pálpebras e, dizem, um quê de botox). “Consegui uma lente de contato que deu certo. Quando tirei os óculos e me olhei no espelho, vi a olheira. Fiquei estarrecida”, diverte-se. Mineira, 61 anos, ex-guerrilheira, economista, casada duas vezes, mãe de Paula, de 31 anos, Dilma abre sua intimidade nesta entrevista. Fala de amores, da fama de durona, da luta armada e, entre outras curiosidades, do sonho — frustrado — de se fantasiar de bailarina. Gestora do maior plano de obras públicas da História do País, ela se vê às voltas com um probleminha no PAC ‘doméstico’: não consegue comprar uma simples bola de pilates para fazer ginástica. “É bom para a coluna”. Toda mulher que faz uma plastiquinha some um pouco, consegue esconder a cirurgia de todo mundo.
A senhora não teve a mesma sorte, não é mesmo? A ideia inicial era essa, mas, de fato, não tive essa sorte. Vazou e também não tem por que esconder. Assim como não tem por que expor.
Foi a crise dos 60 anos? Não foi, não. Eu sempre usei óculos muito pesados; primeiro, para miopia. Daí, há muitos anos, fiz uma operação que não deu muito certo e saí dela com hipermetropia. Usava aqueles óculos fundos e grossos, sabe? Tinha tentado uma vez mudar para lente de contato e não me adaptei. Agora consegui uma lente que deu certo. Quando a coloquei e me olhei no espelho, vi a olheira.
Foi tipo ‘ai, meu Deus’? Foi. Fiquei estarrecida. Ainda tenho olheira, mas a minha era aquela dura, né? O Serra também tem olheiras muito feias... Tenho impressão de que ele também já tirou. Mas quem tem olheira sempre fica com um pouco. O que você tira é aquela bolsa de gordura acumulada. E a pálpebra caída. Mas as pessoas só têm que fazer plástica se realmente acharem que devem.
A senhora é vaidosa? Não. Não é preguiça de passar creme. A vaidade exige que você tenha tempo para dedicar a ela, mas nunca fui vaidosa, mesmo quando tinha tempo. Também não acho bom a pessoa não se cuidar. É importante manter a aparência.
A senhora faz dieta? Busco uma alimentação saudável, com fibras, carne branca, peixes. E ando todos os dias. Mas sou normal: gosto de chocolate e de doce com queijo, uma boa goiabada cascão com queijo de minas. Isso faz parte da minha infância, da mocidade. Para mim, é a sobremesa mais sofisticada do mundo.
E no consumo? O que a faz perder a cabeça? Não posso entrar numa livraria que é uma tragédia. Gosto de sapatos, de roupas, mas nada excessivo. Compro mais livros do que sou capaz de ler.
Como a senhora consegue dar conta de tudo? Pois é dura a vida da bailarina. Em geral, a vida das mulheres é muito difícil, não é privilégio meu. Elas têm dupla jornada de trabalho, às vezes até tripla, quando fazem algum tipo de atividade comunitária. Para dar conta, tem que querer, ter uma vontade que te puxe e te dê energia. E ter a convicção de que está fazendo uma coisa boa para ti e para a sociedade.
Era um sonho chegar até aqui? Ser ministra-chefe da Casa Civil não é, como você disse, ser bailarina. Até já quis ser bailarina. Minha mãe me colocava fantasiada no Carnaval. Ou era de cigana ou de fada. Mas queria mesmo era a de bailarina e não fui. A criança não sonha ser ministra-chefa da Casa Civil (risos). É muito difícil sonhar com a minha atividade; por exemplo, dez anos atrás eu nem sabia o que era ser da Casa Civil. Acho que o sonho que realizei é poder mudar a vida do País. Foi isso que a minha geração quis: acabar com a pobreza, um país mais igual, mais democrático. Sou uma pessoa que viveu parte substantiva da sua juventude e até metade da maturidade lutando num momento de fechamento muito grande no País.
Como é ter passado por isso e às vezes esbarrar no Congresso com figurões que, de certa forma, colaboraram com a ditadura? A democracia produz essa possibilidade do convívio entre pessoas muito díspares, com histórias de vida diferentes e, muitas vezes, que estiveram em lados diferentes até da própria luta. Eu quis isso: poder encontrar essas pessoas. E outra coisa: é melhor encontrar assim do que encontrar tendo uma grade entre nós. O pessoal da nova geração não valoriza tanto isso. Você se lembra daquela música? (E canta) ‘Apesar de você amanhã há de ser outro dia?’ A gente não podia cantar. Hoje pode tudo. Essa sensação de ‘pode tudo’ é muito importante para quem inicia a vida, dentro de um mundo em que você pode pensar, falar, fazer o que te dá na telha, sem que seja considerado algo ilegal ou que te leve à prisão.
A senhora foi para a luta armada por causa de namorado? Pelo Claudio (o jornalista Cláudio Galeno de Magalhães Linhares, primeiro marido de Dilma)? Não, conheci ele lá. Mas quem me influenciou mais foi meu pai, que tinha uma visão mais progressista do mundo.
Como assim? Ele não era daquele tipo: ‘minha filha, não se meta nisso’? Poderia ter sido. Minha mãe sofreu muito, mas ela foi muito forte nesse processo.
Sua filha, Paula, não pede que a senhora sossegue? Não existe esse tipo de cobrança na família. Paula é uma mulher adulta, de 31 anos, tem a vida dela, a profissão dela.
A maternidade a adoçou? Com certeza. Ter filho é uma revelação, o grande amor irrestrito da vida, um sentimento livre e amplo. Hoje, olhando para trás, eu me arrependo de não ter tido mais filhos, porque eles te fazem ver o mundo com seus olhos. Quer um exemplo banal? Eu vi muito Chaves. O Hugo? (Risos) Eu até conheço bem o presidente Hugo Chávez, mas estou me referindo ao personagem mexicano. Sou uma pessoa que conhece o Chaves perfeitamente, assisti a todos os episódios, porque a Paula só comia vendo o Chaves. Sei até hoje tudo sobre ele.
Não consigo imaginá-la pegando em armas. Em fóruns da Internet, muitas pessoas dizem para ter cuidado, que a senhora era terrorista, essas coisas. Olha, eu sabia limpar uma arma muito bem, montar e desmontar. Mas naquela época ainda tinha uma miopia muito elevada, oito graus num olho, seis no outro. Nunca fui boa com as armas porque nunca enxerguei direito. Eu descobri que pessoas muito míopes muito cedo não têm mira. E era péssima fisionomista. Vai que atira na pessoa errada.
A senhora se arrepende da luta armada? De jeito nenhum. Isso é parte da minha vida. Por outro lado, eu hoje mudei. Quando saí do colégio Nossa Senhora do Sion, daquela coisa de freira, ‘bonjour Ma Mère’, ‘au revoir Ma Soeur’, fui estudar num colégio estadual. Um mês depois, aconteceu o golpe militar. Sou uma pessoa contemporânea da ditadura. A branda eu não conheci; a dura, conheci bem. Minha chegada aos 20 anos coincide com o AI-5. Ele aconteceu dia 13 dezembro, eu faço aniversário dia 14. Todas as nossas opções naquele momento eram formadas de uma absoluta falta de perspectiva. Mas foi uma geração generosa, com alto sentido ético. Nós não estávamos brincando de fazer política, mas arriscando as nossas vidas. Tive vários amigos que morreram, fui torturada. Naquele momento, pouca alternativa nos restou. Mas nós mudamos, porque aprendemos os caminhos da democracia da forma mais difícil e, por isso, damos tanto valor a ela. Eu mudei, mas não mudei de lado.
É verdade que a senhora deu aula num presídio para encontrar o segundo marido, o Carlos (ex-guerrilheiro e ex-deputado Carlos Araújo), que estava preso? Isso é muito romântico. Não é verdade. Me separei do meu primeiro marido, me casei com o Carlos e saí da cadeia antes dele. Nós nunca nos casamos na igreja, aquela época não era disso. A gente casava no cartório e se formava no gabinete do diretor. Eu tinha direito a visitas (risos). Mas havia uma freira que fazia um trabalho social no presídio, Irmã Elizabeth, que montou um curso de formação e preparação para que os presos pudessem fazer vestibular ou o supletivo. Aí eu passei a dar aula com ela, de Matemática, depois de visitar o Carlos.
Foi o amor da sua vida? Fomos casados por 30 anos. É o pai da minha filha, tem grandes qualidades pessoais. Quem o conhece sabe que ele é generoso, tem um senso de humor muito grande do mundo e de si mesmo. É uma pessoa que é como se fosse um parente.
Por que separar depois de 30 anos? Cada um sabe o momento de dizer basta e viver sua vida. Quando acaba acaba. Mas tem uma coisa: todo mundo que separa fica triste. Não existe essa coisa sair alegre por aí.
O poder é solitário? É possível ter um amor e ser ministra-chefe da Casa Civil? Não acho que existam regras para isso. O seu cargo não o impede de ter relações pessoais. Essa é a minha circunstância, não uma regra geral. Eu poderia estar casada como ministra e sem tempo do mesmo jeito (risos). Mas acho que é bom as pessoas procurarem parceiros, serem felizes. Não tenho nenhuma receita solitária a defender.
A senhora é a mulher mais poderosa do Brasil? Não creio. Existe uma certa fantasia sobre o poder que alguém tem no governo federal. O governo do presidente Lula tem uma característica que as pessoas às vezes não percebem: nós trabalhamos muito em equipe. Por exemplo: nesse processo agora do Plano Nacional de Habitação, em que vamos lançar um milhão de casas. Foi muito importante reunir com os empresários, porque eles te dizem onde acham que há o gargalo, a barreira, a providência a ser tomada. Depois chamamos os prefeitos, os governadores, os movimentos sociais e aí é que sentamos e fazemos nossa avaliação crítica. É um processo que envolve todo mundo e torna cada um de nós um pouco dono daquilo, portanto responsável.
A senhora é durona tipo ‘O Diabo veste Prada’? Tem hora que a gente tem que ter clareza do que quer. Se eu titubear, quem paga o pato é a população. Eu acho que tem em relação a mim o fato de que eu estou numa função dentro do governo que é exclusiva de homem. Geralmente, ministro-chefe da Casa Civil é homem. Eu acho que fui a primeira mulher; como diz o presidente, ‘nunca dantes na História deste País...’ Aí tem uma forma estereotipada de ver a mulher. Por exemplo: nós somos capazes de nos comover e chorar diante de uma cena que nos emociona. Não fujo à regra. E também tem a ver com nossos hormônios, né? Como eu chorava quando estava grávida! Agora é mais por filme, por cenas. Mulher tem menos barreira de chorar. Isto não significa que não saibamos ser objetivas, definir questões complexas e entender precisamente do que trata um problema. Isso é uma atitude masculina. Eu cheguei à conclusão de que, como só eu sou chamada de durona neste governo, sou uma mulher dura cercada de homens meigos. Nunca ouvi falar de que um homem é duro. E eu que sou dura?
A crise financeira global jogou um balde de água fria no crescimento do Brasil? Não é bem balde de água fria, mas a crise nos deu, sim, um choque de crédito, que foi muito forte — estão aí os dados do PIB do último trimestre de 2008. Mas uma coisa é certa: nós estamos em condições muito melhores para enfrentar essa crise. Nesse primeiro trimestre, acredito que tivemos uma pequena recuperação. No segundo, será maior e, no fim do ano, vamos nos recuperar, embora não no mesmo nível.
O PAC então não desacelera com a crise? O presidente já tomou a decisão: nós não vamos reduzir os recursos do PAC e ainda vamos aumentá-los. Nós temos uma musculatura de 200 bilhões de dólares de reservas para enfrentar essa crise, um sistema bancário público, que é o BNDES, o grande emprestador de longo prazo, o grande sustentador do financiamento. Temos o Banco do Brasil e a Caixa Econômica, que podem dar suporte ao capital de giro junto com o setor privado. Temos bancos sadios, nenhum banco quebrado. Estamos recuperando com saúde o crescimento. Eles (países ricos) não têm como recuperar porque estão doentes.
Qual é o PAC da sua casa, aquele que a senhora não consegue realizar? Estou há um mês tentando comprar aquelas bolas de pilates para fazer ginástica sem forçar minha coluna.
Assiste à novela das oito? Vi duas vezes ‘Caminho das Índias’. A parte que vi tinha externas muito bonitas, a fotografia é bem feita. Também acho lindas as cores das roupas das mulheres, aquele rosa chocante, o verde papagaio, o amarelo-vivo. Ou então assisto ao ‘Jornal da Record’, ao da Band, fico zapeando.
A senhora tem iPod? Tenho as coisas mais diversas no meu iPod, como Chico e Gil. Mas eu gosto muito de Ana Carolina. Agora consegui um CD da Fernanda Takai que eu acho lindinho, uma releitura de músicas antigas com a voz cristalina dela. Gosto muito de Mart’nália. Tenho tango e o CD do musical ‘Sassaricando’, do pai do Sérgio Cabral, com todas as marchinhas de Carnaval.
E música clássica.A senhora é estudiosa de mitologia grega. A impressão que dá é que o PAC são os 12 trabalhos de Hércules. Tem dias que é mesmo. A gente aqui diz que escala o Himalaia todos os dias. E fala: já escalou seu Himalaia hoje?
Como é o seu amigo Lula? É o maior estadista deste País. Pessoalmente, é extremamente alegre, sem uma marca de amargura naquela alma, naquela mente e, sobretudo, uma pessoa com uma afetividade muito grande. É alguém que olha para todas as outras pessoas com um sentimento pelo próximo, que Sartre já dizia: “você tem que se colocar no lugar da pessoa”. A Igreja chama de misericórdia, a percepção de que as pessoas humanas são frágeis e precisam ser compreendidas. Mesmo se você divergir delas, faça-o com carinho e cuidado. A gente aprende muito em relações humanas quando está ao lado do Lula.
Qual o seu Rio afetivo? É a rua da minha mãe, que tem apartamento na Joaquim Nabuco. Quando o dia está lindo, as copas das árvores se fecham e as luzes passam entre elas. Mas tem outro Rio que eu também amo, que está sendo modificado: o Alemão, a Rocinha, Manguinhos. Além do amor, é o dever que nós temos com eles. É uma questão de injustiça acumulada. O Rio que temos o dever de mudar é esse.
Por que a senhora não veio para o Carnaval? Eu irei. Mas já fui ao desfile da Mangueira sobre Minas Gerais. Deve ser uma experiência única desfilar. E nunca digo desta água não beberei.
Lula fez História, Obama fez História. Dilma Rousseff fará História? Quando o Lula sai, de pau de arara, lá do Nordeste, vira torneiro mecânico e então presidente da República, isso é a demonstração de que nós amadurecemos como democracia. Acho que temos condição de sermos o que quisermos: mulheres presidentes, negros presidentes, índios presidentes. Não tem essa de classe social.
Por que não assumir agora: sou candidata? Porque nós não achamos que isso seja um tema a ser tratado agora. É prematuro. Eu sempre tenho tentando responder no sentido de que não é um assunto que se possa debater agora. É cedo, precipitado. Estamos em plena atividade governamental, num momento de enfrentamento da crise. Colocar essa questão como central dispersa. No início do ano quem vem, a gente conversa.
O que é essa fitinha verde no pulso? É fita do Senhor do Bonfim. A Flora Gil (mulher do ex-ministro da Cultura Gilberto Gil) colocou no meu braço em 2005. Estávamos no Palácio do Eliseu, em Paris, com várias baianas. Até hoje não caiu.Quando ela arrebenta, o pedido se realiza. E agora já está bem fininha.
Será que cai em 2010? Sinceramente? Nem me lembro do que pedi (risos). Fonte: O Dia Online.

Um comentário:

MOITAVERDEJANTE disse...

CARA DILMA, NÃO TEM JEITO. ESTÁ ESCRITO NAS ESTRELAS. VOCÊ SERÁ ELEITA PRESIDENTE DO NOSSO QUERIDO PAÍS EM 2010. DESEJO DESDE JÁ (MARÇO DE 2009) BOA SORTE, E QUE DEUS GUIE OS SEUS PASSOS ATÉ LÁ .