sábado, 30 de maio de 2009

"Ninguém quer enfrentar Lula em 2014"

Revista IstoÉ: Na próxima semana, o exministro José Dirceu vai a Goiânia e a Palmas. Segue depois para Belém e outras cidades do Norte. Além de mobilizar a militância petista, o alvo preferencial de suas articulações é o PMDB. Nesta entrevista, Dirceu diz que 2010 "não será uma eleição fácil". Por isso, atribui especial importância aos acertos do PT com os peemedebistas na Bahia, em Minas Gerais, no Rio de Janeiro e até mesmo em São Paulo. "Muitos políticos do PMDB não querem a aliança com Serra e eu pago para ver o Serra cumprir o acordo com o Quércia", explica. Como revelou ISTOÉ na última edição, Quércia fez acordo com o governador paulista e tem viajado pelo País com o objetivo de levar o PMDB para a candidatura tucana. Dirceu acompanha com faro fino os movimentos dos tucanos: "O Aécio tem dito a interlocutores que não será vice de Serra. E, se o Serra não tiver apoio do Aécio, ele não ganha a eleição."

Na opinião do ex-ministro, Aécio não cederá a vez a José Serra "porque ninguém quer enfrentar o presidente Lula em 2014". Quanto a seus próprios projetos políticos, Dirceu, que hoje ganha a vida como consultor de empresas, sonha com a absolvição no STF e a anistia da Câmara. "Se tudo der certo, posso me candidatar em 2014. Mas ainda é muito cedo para falar disso", diz.

ISTOÉ - Após a divulgação da doença da ministra Dilma Rousseff, surgiram comentários de que o PT tem um plano B. É verdade? José Dirceu - A candidatura de Dilma Rousseff se consolidou no PT. Já visitei quase 20 Estados e é o que eu vejo. Ela também avança, mais do que prevíamos, no eleitorado. Eu tinha escrito no meu blog que na Semana Santa ela teria 15%. No Carnaval, ela bateu nesse percentual. Na minha avaliação, Dilma vai encostar no Serra antes do ano que vem. Descoberto um linfoma na ministra, ninguém piscou no PT. Também não vi aliados propondo plano B ou plano C. Muda só no sentido de se adequar a agenda de Dilma ao tratamento.

ISTOÉ - E a agenda de 2014? Dirceu - No Brasil, a legislação não proíbe o presidente de retornar. No México, é um mandato só, não há reeleição. Nos Estados Unidos são dois mandatos e o presidente não volta. No Brasil, a legislação já é liberal demais.

ISTOÉ - Na viagem à Turquia, o presidente Lula disse que pode voltar em 2014. Dirceu - Ainda é cedo para dizer. Temos que ver o que será bom para ele e para o Brasil. Primeiro para o Brasil, depois para o PT, e depois para ele em 2014. Eu vejo que Lula tem legitimidade para voltar em 2014.

ISTOÉ - Quais são as credenciais da ministra Dilma Rousseff para disputar a Presidência? Dirceu - Uma história política comprometida com a democracia, com a esquerda democrática socialista, a experiência administrativa, seu papel no governo do presidente Lula e o apoio que ela tem do PT e do presidente. E o presidente tem a legitimidade que o País lhe dá para apoiar sua candidata e elegê-la. Não será uma eleição fácil. Será tão difícil como foram as eleições de 2002 e 2006, mas não vejo o País querendo que a oposição volte ao governo. Não vejo o País querendo devolver o poder ao PSDB, muito menos para um tucano paulista.

ISTOÉ - As pesquisas mostram José Serra na frente, com mais de 36% das intenções de voto. Dirceu - O Lula já esteve em primeiro lugar nas pesquisas, duas vezes, e perdeu a eleição. O quadro não está definido. Acho que o Aécio Neves tem condição de disputar com o Serra o voto no País. Os dois têm legitimidade presidencial, experiência política e de governo. E o Ciro Gomes também tem votos para aspirar a ser candidato no seu partido.

ISTOÉ - Não é possível o governador Aécio Neves sair candidato pelo PMDB? Dirceu - Se ele fosse para o PMDB, correria o risco de não ter depois a legenda do partido. O PMDB já fez isso. E quem garante que ele vai ganhar uma convenção do PMDB? Além disso, se o Aécio mudar de partido, o Serra vai declarar guerra total e ele tem peso dentro do PMDB. Existem duas certezas: Aécio não será vice de Serra nem irá para o PMDB.

"Muitos prefeitos e vereadores do PMDB não querem apoiar o Serra. Pago para ver o governador cumprir o acordo com Quércia"

ISTOÉ - Então Aécio terá de enfrentar Lula em 2014? Dirceu - Essa é exatamente a razão pela qual o Aécio não aceita ser vice do Serra. Ele diz assim: "Você quer que eu seja vice hoje e enfrente o Lula em 2014? Então, vamos fazer o contrário." Ninguém quer enfrentar Lula em 2014.

ISTOÉ - Mas uma aliança Minas-São Paulo seria muito forte, não? Dirceu - É forte, mas o eleitorado de Minas tem dificuldade em votar num candidato do PSDB de São Paulo. Já aconteceu, em 2002 e em 2006. Acho que a ministra Dilma tem grandes vantagens que não estão sendo levadas em conta. O voto feminino, que terá um peso forte na eleição, que será definida por uma margem pequena. E o voto no Sul. Além disso, há a presença do presidente Lula na campanha. Lula fará a campanha da ministra Dilma como se fosse para ele.

ISTOÉ - O sr. acredita na transferência de votos do presidente Lula? Dirceu - Acredito. Já está acontecendo. Dilma está na frente do Serra em Pernambuco, se bem que Pernambuco é um caso à parte. Lá o Lula estava com mais de 90% de aprovação. E no Rio Grande do Sul ela também já passou o Serra.

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