sexta-feira, 12 de junho de 2009

Herança bendita

Eduardo Guimarães:
Em pouco mais de 18 meses, o governo Lula sairá da vida para entrar na história. A herança que receberá o sucessor – ou a sucessora – do atual presidente, então, será inscrita nos livros de história de forma diametralmente oposta à da herança que já está sendo escrita sobre a era FHC. As futuras gerações, ao menos, saberão a verdade sobre o período 2003-2010, por mais que o Brasil e o mundo, à revelia do que difunde a máquina propagandística da direita brasileira, já saibam a dimensão da obra deste governo. Há um blogueiro da mídia corporativa que gosta de falar de “isentismo”, que seria a obrigação que alguns jornalistas da imprensa golpista sentiriam de dar uma no cravo e outra na ferradura quando falam do atual governo.
O que acusa a máquina propagandística da direita (sobre “isentismo”) evidentemente não existe, do que é prova o mero exame da campanha que os grandes meios de comunicação movem contra o governo Lula há anos. Mas o “isentismo” a que a direita alude existe, sim, só que do lado da imprensa alternativa, que teima em minimizar a fantástica obra do governo federal. Alguns jornalistas que julgo sérios chegam ao ponto de embarcar na teoria absurda de que o governo Lula teria dado continuidade à política econômica desastrosa da direita tucano-pefelê quando governou o Brasil sob a batuta de Fernando Henrique Cardoso. Não se nega que conceitos como responsabilidade fiscal e respeito aos contratos foram consolidados por FHC e mantidos pelo governo Lula em contraposição à pregação pretérita do PT, que o partido abrandou em 2002 quando firmou a Carta ao Povo Brasileiro. Contudo, há muito que se atribui ao governo FHC (e que ele só adotou depois do desastre cambial de 1999) que Lula e o PT é que pregavam, até então. O câmbio flutuante, por exemplo, jamais foi uma política tucana. O PT, quando o país mergulhava no caos em 1998, já alertava para a necessidade de mudar o câmbio fixo, enquanto os tucanos e pefelês diziam ser desnecessário.
Hoje, o Brasil vai se tornando um “player” global por conta de uma reviravolta na condução econômica do país. Até os investimentos exponencialmente maiores no social durante a era Lula fizeram o Brasil se desenvolver como vem se desenvolvendo, ganhando importância e força inéditas em sua história. Milhões e milhões de famílias de regiões miseráveis do país passaram a contar com recursos financeiros que fizeram aquelas regiões economicamente estagnadas mergulharem num processo de desenvolvimento econômico e social sem precedentes, tudo graças a programas sociais como o Bolsa Família. O Estado, na era Lula, passou a ser a grande locomotiva do crescimento econômico lento, seguro e ascendente que o país começou a trilhar já a partir do segundo ano do governo Lula e que foi interrompido por seis meses por conta da maior crise econômica mundial em oitenta anos. Um crescimento que já recomeça a acontecer. Os investimentos do Estado brasileiro cresceram exponencialmente em contraposição à visão macroeconômica da direita tucano-pefelista, que pregava o absentismo econômico estatal, creditando ao “deus mercado” a condição e a prerrogativa exclusivas de promover o crescimento e o desenvolvimento.
A diversificação dos parceiros comerciais do Brasil no exterior também foi uma obra exclusiva do governo Lula. Só como exemplo, em 2002, último ano da nefasta era FHC, segundo dados do Ministério do Planejamento os EUA eram destino de um quarto das exportações brasileiras. Em 2008, esse percentual caiu para cerca de 14%. E continua caindo. Lula passou a viajar pelo mundo vendendo negócios com o Brasil. África, Ásia e América Latina ganharam peso muito maior na pauta exportadora brasileira, opondo-se à visão tucano-pefelê de que havia que concentrar os negócios nos países ricos, como se os dólares americanos e europeus fossem mais verdes do que os dólares africanos ou chineses. Mas está sendo durante esta crise econômica que estamos podendo constatar a diferença gritante entre a política econômica petista e a tucano-pefelista. Enquanto FHC, José Serra e o resto dos teóricos econômicos da direita pregavam, há poucos meses, redução dos investimentos estatais, Lula acelerou tais investimentos e, assim, está retirando o país da crise. A máquina propagandística da direita faz de conta que não vê, mas as pesquisas de opinião mostram que a sociedade entende a propriedade da forma como o governo Lula está enfrentando a crise financeira internacional, ou seja, através da liderança investidora do Estado.
Para mostrar adequadamente como a política econômica deste governo é diferente da do governo anterior seria preciso escrever um livro. Contudo, não será necessário. Mesmo que intuitivamente, os brasileiros, com exceção de um contingente mínimo de reacionários alucinados, sabem como a reversão na política econômica melhorou o país. Apesar do “isentismo” da imprensa alternativa, que se acha no dever de criticar este governo, ainda que de forma mais branda e responsável, a sociedade, cada vez mais, vai entendendo que, apesar de ter recebido uma herança maldita, Lula deixará ao sucessor uma herança bendita.

2 comentários:

Marcos Doniseti disse...

Para ter uma idéia da brutal diferença entre os governos Lula e FHC, vejam isso:

Comparando os governos Lula X FHC:

Governo Lula:

1) reduziu a inflação de 12,5% (2002) para 5,9% (2008) ao ano; a taxa média anual de inflação no governo Lula (6% ao ano) é menos da metade da que tivemos no governo FHC (12,5% ao ano);

2) aumentou o salário mínimo para o seu maior patamar em 40 anos, com um aumento real de 46% (aumentou de R$ 200 para R$ 465);

3) reduziu a relação dívida/PIB de 55,5% para 36,6% do PIB;

4) acumulou um superávit comercial de US$ 222 Bilhões até o momento;

5) pagou toda a dívida com o FMI e com o Clube de Paris; aliás, o Brasil virou CREDOR do FMI, algo impensável no governo FHC;

6) reduziu o déficit público nominal de 4% do PIB (2002) para 1,5% do PIB (2008);

7) ampliou a capacidade de investimentos do Estado; Os investimentos do governo federal e das estatais para 2009 estão previstos em R$ 90 Bilhões;

8) aumentou as exportações de US$ 60 Bilhões/ano (2002) para US$ 198 bilhões/ano (2008) acumulando um crescimento de 230% em 6 anos;

9) aumentou as reservas internacionais líquidas de US$ 16 Bilhões (2002) para US$ 205 Bilhões (2008);

10) ampliou o Pronaf de R$ 2,5 Bilhões/ano (2002) para R$ 12,5 Bilhões/ano (2008);

11) a concentração de renda e as desigualdades sociais diminuíram sensivelmente; o índice de Gini atingiu o menor patamar da História;

12) gerou 7,7 milhões de empregos formais entre 2003/2008;

13) reduziu o percentual da população brasileira que vive abaixo da linha de pobreza de 28% (2002) para 19% (2006), segundo o IPEA;

14) elevou os gastos sociais públicos para 18% do PIB;

15) o BNDES emprestou R$ 92 Bilhões em 2008 para o setor produtivo, contra cerca de R$ 20 Bilhões em 2002;

16) fez o Brasil se tornar credor externo, com um saldo positivo de US$ 23 Bilhões, algo inédito na História do país;

17) criou programas sociais inclusivos, como o Bolsa-Família, ProUni, Brasil Sorridente, Farmácia Popular, Luz Para Todos, entre outros, que beneficiaram aos pobres e miseráveis;

18) iniciou novas grandes obras de infra-estrutura (rodovias, ferrovias, usinas hidrelétricas, etc) financiadas tanto com recursos públicos como privados. Exemplos: Usinas do Rio Madeira, Transnordestina, Ferrovia Norte-Sul, recuperação das rodovias federais, duplicação de milhares de quilômetros de rodovias;

19) anulou portaria do governo FHC que proibia a construção de escolas técnicas federais e iniciou a construção de dezenas de novas unidades e que foram transformadas em Institutos Superiores de Educação Tecnológica;

20) criou o Reuni, que iniciou um novo processo de expansão das universidades públicas, aumentando consideravelmente o número de universidades, de campus e de vagas nas mesmas;


21) os lucros do setor produtivo cresceram quase 200% no primeiro mandato em relação ao governo FHC;


22) fez o Estado voltar a atuar como importante investidor da economia. Exemplos disso: a criação da BrOI, que têm 49% do seu capital nas mãos do Estado; a compra e incorporação de bancos estaduais pelo Banco do Brasil (da Nossa Caixa, do Piauí, Santa Catarina e Espírito Santo) evitando que fossem privatizados; a participação da Petrobras em 2 grandes petroquímicas nacionais (a Braskem, com 30% do capital nas mãos da Petrobras; a Ultra, com 40% do capital nas mãos da Petrobras); o aumento da participação dos bancos públicos (BNDES, CEF, BB, BNB) no fornecimento de crédito para a economia do país;


23) elevou o volume de crédito na economia brasileira de cerca de 23% do PIB, em 2002, para 41% do PIB;


24) criação do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) que prevê investimentos públicos e privados de R$ 646 Bilhões entre 2007/2010; até 2013 os investimentos previstos chegam a R$ 1,14 Trilhão;

25) Reduziu a taxa Selic de 25% ao ano para 9,25% ao ano, a menor da história do país.

Marcos Doniseti disse...

Agora, vejam as 'realizações' do Governo FHC:

1) a relação dívida/PIB passou de 30% para 55,5%;

2) o déficit público nominal foi de 4% do PIB em 2002;

3) o Brasil acumulou um déficit comercial de US$ 8,7 BilhõeS;

4) o Brasil acumulou um déficit em transações correntes de US$ 186,5 Bilhões em 8 anos;

5) o país emprestou US$ 86,5 Bilhões do FMI/BIRD/BID/Tesouro dos EUA para não ter que declarar moratória da dívida externa;

6) dolarizou boa parte da dívida interna (vendeu R$ 240 Bilhões em títulos cambiais;

7) tivemos o primeiro e único racionamento de energia de alcance nacional dos últimos 40 anos;

8) comprou votos de parlamentares para aprovar a reeleição em proveito próprio;

9) elevou os juros básicos para até 45% ao ano em 1999;

10) arrochou os salários do funcionalismo público federal, que não teve nenhum reajuste em 8 anos;

11) quis acabar com os direitos trabalhistas, mudando a CLT;

12) tentou alugar a Base de Alcântara para os EUA, sendo que os brasileiros não poderiam mais entrar em determinadas áreas da Base;

13) escolheu a Raytheon, empresa dos EUA, para instalar o Sivam, embora a proposta da empresa francesa fosse melhor para o país;

14) utilizou o BNDES para financiar, com juros subsidiados, as privatizações feitas com preço de banana;

15) vendeu a Vale do Rio Doce por apenas R$ 3,3 Bilhões e em 2008 a Vale lucrou R$ 21 Bilhões;

16) reprimiu os movimentos sociais, tratando-os como se fosse movimentos criminosos, recusando-se a dialogar com os mesmos;

17) praticamente abandonou o Mercosul e quis aderir à ALCA;

18) escancarou o mercado brasileiro para produtos importados sem exigir contrapartidas dos outros países.

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