Vendas recordes de veículos surpreendem montadoras
Wagner Oliveira - Do Diário do Grande ABC
Enquanto o mundo ainda não emergiu da crise, o mercado automotivo brasileiro surpreende. Apoiadas na redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), crescimento do crédito, promoções e demanda, as fortes vendas de carros e comerciais leves pegaram desprevenida até mesmo a indústria automobilística, que não apostava numa recuperação tão rápida e já tem dificuldades para atender a todos os pedidos - alguns modelos enfrentam fila de espera de até dois meses. "Ninguém acreditava num desempenho tão forte aqui depois de uma crise de dimensões globais ", afirmou o consultor André Beer, ex-vice-presidente da General Motors. "O mercado brasileiro prova estar em processo de maturidade", reforça Beer, que também já presidiu a Anfavea ( Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores). "As 300 mil unidades em junho (recorde histórico) são para deixar qualquer um boquiaberto", afirma Domingos Boragina Neto, diretor comercial da Citroën. "Demonstra que o brasileiro é reativo na crise."
As vendas cresceram 3,1% no primeiro semestre sobre igual período de 2008. Quem antes apostava numa retração de até 5% em 2009, já considera elevação na mesma cifra. "Já acredito em 2,9 milhões de unidades neste ano contra 2,78 milhões em 2008", afirmou Francisco Satkunas, diretor da SAE (Sociedade dos Engenheiros da Mobilidade). As empresas que mais apostaram no período em que a crise se instalou no Brasil, em setembro de 2008, colhem os frutos. Enquanto a maioria recorreu a férias coletivas prolongadas, a Volkswagen, por exemplo, apostou na produção - a linha da Kombi só parou uma semana na fábrica da Anchieta. As vendas de carros e comerciais leves da VW cresceram 12,6% no primeiro semestre, enquanto o mercado subiu 4,2%. Só em junho, suas vendas totais aumentaram 35,7%, quando a indústria cresceu 17,23%. "Quem não entrou na onda do apocalipse sai mais forte da crise", afirma Satkunas. "A indústria está surpresa e confiante", afirma Francisco Stefanelli, diretor de vendas da GM, que teve recorde histórico de vendas em junho. Facilidade na compra do 0 km enfraquece mercado de usadoEstimativas do mercado apontam para até 1 milhão de unidades de veículos seminovos encalhados nos pátios de concessionárias. A redução do IPI dos veículos novos dificultou as vendas de usados, que sofreram desvalorização de até 35%. "Hoje todo mundo só quer comprar carro novo", afirma o gerente de vendas Robert Veronezzi, da Avel, revendedora Volkswagen em São Bernardo. Por conta disso, o estoque de novos dura uma média de duas semanas em muitas revendas - na crise, encalhava por até 60 dias. Para o engenheiro Francisco Satkunas, o desempenho do mercado nacional será baseado na venda de usados quando o governo retomar a cobrança integral do IPI no ano que vem sobre o veículo zero. "Hoje compra carro quem busca uma oportunidade, mas quem tem um seminovo está esperando uma reação nos preços", avalia ele. "O usado será a base de sustentação do mercado quando o incentivo acabar", acredita o especialista. Satkunas cita seu próprio exemplo: "Tenho uma Meriva com dois anos de uso, que custou R$ 50 mil. Hoje o mercado só paga R$ 32 mil. Como eu, muita gente não vai querer vender agora porque a defasagem é muita."
Brasil está entre os três países que conseguem reverter criseApenas três países no mundo conseguiram reverter no primeiro semestre a queda na venda de carros em razão da crise financeira mundial: Brasil, China e Alemanha. Pela força de sua economia, o mercado chinês chegou próximo dos 5 milhões de unidades, aumento de cerca de 8% em relação a 2008. A Alemanha adotou programa em que deu até 3.500 euros para incentivar renovação de frota. O Brasil apostou na redução do IPI e ainda incentivou bancos públicos a liberar crédito quando os financiamentos privados minguaram a partir do quatro trimestre do ano passado. Em maio, os financiamentos começaram a ser retomados e os planos voltaram para uma média de 42 meses. "Apesar da surpresa, já sentíamos, em consulta à nossa rede, que as vendas iriam reagir e surpreender em 2009", afirma o diretor de vendas da General Motors, Francisco Stefanelli. "O que faz a reação do mercado brasileiro é o desejo do consumidor em comprar um carro novo", afirma André Beer, experiente executivo que atuou por mais de 40 anos na indústria automobilística brasileira. O ex-dirigente da Anfavea lembra que o Brasil tem uma relação de 7 habitantes para cada carro. "Isso gera um potencial enorme e atrai o interesse de montadoras de todas as partes do mundo." Para o engenheiro Francisco Satkunas, integrante da SAE (Sociedade dos Engenheiros da Mobilidade), o Brasil vai continuar a ter um desempenho bom no segundo semestre. "O mercado está alcançando uma robustez que não tem mais volta", acredita. O que prejudica uma retomada total da indústria brasileira é a queda nas exportações, principalmente de caminhões. Algumas marcas enfrentam redução superior a 50%. "O mercado interno não consegue absorver toda a produção, mesmo assim ajudou muito na recuperação da indústria." A previsão é que a indústria tenha redução de até 10% na produção neste ano com a queda nas vendas externas, que foram de cerca de 3,2 milhões de unidades em 2008.
Wagner Oliveira - Do Diário do Grande ABC
Enquanto o mundo ainda não emergiu da crise, o mercado automotivo brasileiro surpreende. Apoiadas na redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), crescimento do crédito, promoções e demanda, as fortes vendas de carros e comerciais leves pegaram desprevenida até mesmo a indústria automobilística, que não apostava numa recuperação tão rápida e já tem dificuldades para atender a todos os pedidos - alguns modelos enfrentam fila de espera de até dois meses. "Ninguém acreditava num desempenho tão forte aqui depois de uma crise de dimensões globais ", afirmou o consultor André Beer, ex-vice-presidente da General Motors. "O mercado brasileiro prova estar em processo de maturidade", reforça Beer, que também já presidiu a Anfavea ( Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores). "As 300 mil unidades em junho (recorde histórico) são para deixar qualquer um boquiaberto", afirma Domingos Boragina Neto, diretor comercial da Citroën. "Demonstra que o brasileiro é reativo na crise."
As vendas cresceram 3,1% no primeiro semestre sobre igual período de 2008. Quem antes apostava numa retração de até 5% em 2009, já considera elevação na mesma cifra. "Já acredito em 2,9 milhões de unidades neste ano contra 2,78 milhões em 2008", afirmou Francisco Satkunas, diretor da SAE (Sociedade dos Engenheiros da Mobilidade). As empresas que mais apostaram no período em que a crise se instalou no Brasil, em setembro de 2008, colhem os frutos. Enquanto a maioria recorreu a férias coletivas prolongadas, a Volkswagen, por exemplo, apostou na produção - a linha da Kombi só parou uma semana na fábrica da Anchieta. As vendas de carros e comerciais leves da VW cresceram 12,6% no primeiro semestre, enquanto o mercado subiu 4,2%. Só em junho, suas vendas totais aumentaram 35,7%, quando a indústria cresceu 17,23%. "Quem não entrou na onda do apocalipse sai mais forte da crise", afirma Satkunas. "A indústria está surpresa e confiante", afirma Francisco Stefanelli, diretor de vendas da GM, que teve recorde histórico de vendas em junho. Facilidade na compra do 0 km enfraquece mercado de usadoEstimativas do mercado apontam para até 1 milhão de unidades de veículos seminovos encalhados nos pátios de concessionárias. A redução do IPI dos veículos novos dificultou as vendas de usados, que sofreram desvalorização de até 35%. "Hoje todo mundo só quer comprar carro novo", afirma o gerente de vendas Robert Veronezzi, da Avel, revendedora Volkswagen em São Bernardo. Por conta disso, o estoque de novos dura uma média de duas semanas em muitas revendas - na crise, encalhava por até 60 dias. Para o engenheiro Francisco Satkunas, o desempenho do mercado nacional será baseado na venda de usados quando o governo retomar a cobrança integral do IPI no ano que vem sobre o veículo zero. "Hoje compra carro quem busca uma oportunidade, mas quem tem um seminovo está esperando uma reação nos preços", avalia ele. "O usado será a base de sustentação do mercado quando o incentivo acabar", acredita o especialista. Satkunas cita seu próprio exemplo: "Tenho uma Meriva com dois anos de uso, que custou R$ 50 mil. Hoje o mercado só paga R$ 32 mil. Como eu, muita gente não vai querer vender agora porque a defasagem é muita."
Brasil está entre os três países que conseguem reverter criseApenas três países no mundo conseguiram reverter no primeiro semestre a queda na venda de carros em razão da crise financeira mundial: Brasil, China e Alemanha. Pela força de sua economia, o mercado chinês chegou próximo dos 5 milhões de unidades, aumento de cerca de 8% em relação a 2008. A Alemanha adotou programa em que deu até 3.500 euros para incentivar renovação de frota. O Brasil apostou na redução do IPI e ainda incentivou bancos públicos a liberar crédito quando os financiamentos privados minguaram a partir do quatro trimestre do ano passado. Em maio, os financiamentos começaram a ser retomados e os planos voltaram para uma média de 42 meses. "Apesar da surpresa, já sentíamos, em consulta à nossa rede, que as vendas iriam reagir e surpreender em 2009", afirma o diretor de vendas da General Motors, Francisco Stefanelli. "O que faz a reação do mercado brasileiro é o desejo do consumidor em comprar um carro novo", afirma André Beer, experiente executivo que atuou por mais de 40 anos na indústria automobilística brasileira. O ex-dirigente da Anfavea lembra que o Brasil tem uma relação de 7 habitantes para cada carro. "Isso gera um potencial enorme e atrai o interesse de montadoras de todas as partes do mundo." Para o engenheiro Francisco Satkunas, integrante da SAE (Sociedade dos Engenheiros da Mobilidade), o Brasil vai continuar a ter um desempenho bom no segundo semestre. "O mercado está alcançando uma robustez que não tem mais volta", acredita. O que prejudica uma retomada total da indústria brasileira é a queda nas exportações, principalmente de caminhões. Algumas marcas enfrentam redução superior a 50%. "O mercado interno não consegue absorver toda a produção, mesmo assim ajudou muito na recuperação da indústria." A previsão é que a indústria tenha redução de até 10% na produção neste ano com a queda nas vendas externas, que foram de cerca de 3,2 milhões de unidades em 2008.
Nenhum comentário:
Postar um comentário