quinta-feira, 13 de agosto de 2009

ENTREVISTA DA SEMANA: ALEXANDRE PORTO

O nosso entrevistado é Alexandre Porto que foi o editor do blog O Informante. Atuante blogueiro contra o golpe que a oposição, a mídia em 2005/2006 queriam dar no presidente Lula, no povo brasieliro. Hoje ele edita o blog do Alê. http://www.aleporto.com.br/
1- Como você avalia a crise no Senado e a atuação dos senadores do PT? Enquanto crise institucional é uma farsa. Há um diagnóstico praticamente unânime de que a nossa Câmara Alta se afundou no patrimonialismo, no clientelismo e na ineficiência. Esse é um processo histórico, conhecido por todos os que acompanham a vida política de Brasília. A farsa é demonstrada quando a imprensa resolve assessorar os partidos de oposição para aprovar a tese de que há personagens mais responsáveis que outros nesse processo. Essa 'fulanização' é o principal artífice do impasse que imobiliza o Senado. Concordamos em relação ao diagnóstico, mas a 'receita' tenta curar a febre sem estancar as causas. Possivelmente para a imprensa interessa um Senado doente, como fonte permanente de crises que ela mesma possa controlar, escolhendo os atores de acordo com as próprias conveniências. Apontar o presidente José Sarney como alvo principal, como o grande responsável pela crise moral da casa, é apostar no confronto; é botar mais gasolina no incêndio e adiar mais uma vez as mudanças concretas. Outro ponto interessante é a verdadeira chantagem que se faz com aqueles que não aceitam passivamente essa 'receita' pronta. Tenta-se vender a idéia de que temos que escolher entre os 'coronéis de merda' e os 'cangaceiros de terceira'. Eu não defendo a permanência de Sarney na presidência do Senado em nome de sua biografia. Sua biografia, para o bem ou para o mal, assim como a de Fernando Collor de Melo, é uma construção da mídia, da qual eles foram aliados estratégicos na luta contra a esquerda no poder. A crise não acabaria com a saída de Sarney, pois ela não é da presidência e nem de seu presidente de plantão. Por outro lado, quem temos com condições morais e políticas para substituí-lo e fazer as transformações necessárias? Numa casa historicamente com regras frouxas, não há santos, basta 'cavucar'. Eu disse outro dia que os senadores do PT estão mais preocupados em adoçar o teclado de seus biógrafos do que em defender o governo Lula. Vendo algumas sessões da casa, fico com a nítida impressão de que o PT é um aliado secundário do governo. Os senadores não se reconhecem nele e alguns, eu diria, têm até vergonha de serem aliados do presidente. E não só no campo federal. Não defendem sequer os governadores de seus estados, contra a tropa de choque da oposição.
2- O que mudou no Brasil com a política econômica do governo Lula? Muito mais do que se possa imaginar. Após assumir seu primeiro mandato com uma grave crise cambial e um processo inflacionário próximo do descontrole, o governo Lula escolheu não dar um 'cavalo de pau no transatlântico', segundo as palavras do então ministro da fazenda, Antônio Palocci. No primeiro momento apostou no aumento da demanda interna e na expansão das relações comerciais. Ao mesmo tempo promoveu uma série de reformas micro-econômicas, entre elas, a nova lei de Recuperação de Empresas e o novo marco regulatório do setor de construção civil. Não devemos ter vergonha de assumir que mantivemos o tripé da política macroeconômica lançado no Brasil logo após a grave crise de 1998, quando o Brasil precisou do socorro do FMI. O governo Lula manteve o câmbio flutuante; aprofundou a política fiscal aumentando o superávit primário e fazendo com que hoje o governo gaste 3% do PIB a menos com encargos da dívida pública; e manteve o sistema de metas de inflação, que hoje nos permite ter a menor taxa de juros básico da série histórica. Hoje até a poupança rende mais do que os investimentos em títulos do governo. Para aqueles que acreditam que o governo do PT apenas manteve o rumo da era FHC e navegou na bonança internacional eu digo que política econômica de um governo não se resume ao tripé macroeconômico. Vai muito além disso, passando pelo papel de estado no planejamento e na indução ao investimento produtivo, além das políticas sociais que garantem uma renda mínima que vai direto para o consumo. É fato que há ainda muito a fazer, mas Lula rompeu com a aparente contradição que existia entre o estado máximo, característico do regime militar nos anos 1970, e o estado mínimo da década de 1990, inaugurado por Collor e aprofundando por FHC. O estado não tem que ser máximo nem mínimo, mas o necessário. Precisa saber reconhecer onde ele é estratégico, onde ele precisa atuar temporariamente e quando precisa sair. Não existem cláusulas pétreas para o papel do estado. A principal conseqüência desta nova política são as parcerias público-privadas e o retorno dos grandes investimentos em infraestrutura, como ferrovias, portos, indústria naval, hidrelétricas e indústria petroquímica. Setores, que nos últimos anos, foram praticamente abandonados pelo estado e ignorados pela iniciativa privada. O próprio PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) é fruto desse novo estado que tenta tirar proveito do que há de melhor de todos os atores – governos municipais, estaduais e federal; estatais e iniciativa privada. Além disso, o fortalecimento dos bancos públicos e do mercado de capitais garantiu a concorrência e o financiamento dos projetos de longo prazo.
A forma como o país enfrentou a maior crise financeira dos últimos 80 anos, só qualifica as opções tomadas ainda na gestão de Palocci e continuadas por Guido Mantega, que por ter tido uma herança bendita pôde ousar mais. Navegamos muito bem também em meio à crise e este será um capital eleitoral a mais em 2010.
3- A que você atribui a alta popularidade do presidente Lula? O brasileiro em sua grande maioria não é um cidadão politizado, mas sempre se sentiu um excluído do sistema. Oitenta, talvez noventa por cento de nossa população sempre foi coadjuvante, lembrada apenas nas vésperas das eleições. Com Lula, várias políticas vieram para romper essa lógica perversa. O Bolsa Família - e todos os programas associados - foi lançado ainda no primeiro ano de governo e o salário mínimo obteve ganhos reais substanciais com a vitoriosa política antiinflacionária, mas não recessiva. Quem não se lembra da histórica e inútil luta do senador Paulo Paim (PT-RS) por um salário mínimo de US$ 100? Lula criou uma rede permanente de proteção social que garante uma plataforma para vôos maiores. Por fim, a criação de empregos formais é histórica. Com Lula, até o agravamento da crise, o Brasil estava criando em menos de quatro meses mais empregos que o governo anterior criou em oito anos. Mesmo no auge da crise a massa salarial e a demanda por crédito ao consumidor se mantiveram em crescimento. Eu costumo dizer que no Brasil se pode avaliar a popularidade de um governo olhando para os resultados das vendas nos supermercados, pois é lá que a grande massa de eleitores (classes C, D e E) mede sua qualidade de vida. Sempre me lembro de uma entrevista que 'O Globo' fez nas vésperas das eleições de 2006 com um sertanejo da Paraíba. Perguntado sobre o porquê votaria em Lula, ele respondeu de forma simplória: "minha vida melhorou uns 30%". Para quem tem muito pouco e nunca ousou sonhar com uma vida melhor é uma revolução. E para estes essa revolução tem nome e sobrenome: Luiz Inácio Lula da Silva. No meu blog eu gosto de citar agentes políticos e econômicos não diretamente ligados ao governo ou ao PT. Em uma das mais recentes, o Presidente do Sindicato das Empresas do Setor Imobiliário (SECOVI), João Crestana, afirmou que "nós estamos em um momento muito feliz. Hoje o nosso próprio trabalhador, pedreiro, carpinteiro pode comprar um imóvel que ele ajuda a construir". Não é essa a crítica principal que a esquerda faz ao nosso modelo econômico? A de que o trabalhador não consegue comprar os produtos que ele próprio produziu? Os companheiros socialistas que me perdoem, mas o inadiável choque de capitalismo no Brasil veio com Lula. Como esse presidente não seria popular, ainda mais falando a sua própria linguagem, essa à qual os 'letrados' se referem como 'populista'.
4- O presidente Lula vai conseguir transferir seus votos ao seu sucessor, ou sucessora? Acredito que sim, mas não será um processo automático, vai depender ainda de como a economia vai reagir até o terceiro trimestre de 2010. A oposição tem dois candidatos reconhecidamente fortes, com experiências administrativas razoavelmente aprovadas por seus eleitores. Não se pode subestimá-los. Do ponto de vista político, o presidente Lula poderá transferir sua liderança, seu carisma e terá um farto portfólio de realizações a exibir ao eleitorado. Será difícil para a oposição aceitar uma comparação entre governos. Mais do que o carisma, a provável candidatura da ministra Dilma Roussef irá propor ao eleitor a continuação de um governo que ele tem aprovado e do qual ela é a principal gerente.
5- A oposição tem bons projetos para o Brasil? O discurso da oposição não mudou muito desde as eleições de 2006. Eles tentam vender a idéia de que são gestores melhores, que fariam mais e melhor. Difícil vai ser, como foi em 2006, demonstrar isso na prática e explicar os motivos pelos quais quando tiveram oportunidade não fizeram tanto e tão bem. Não está ainda muito clara a estratégia, pois não sabemos ao certo qual será o candidato tucano. Serra e Aécio têm perfis bem diferentes e já ensaiam um discurso 'pós-Lula' e não um 'anti-Lula'. A tarefa árdua será demonstrar que um deles será um 'pós-Lula' melhor que Dilma. A verdade é que não há um só indicador econômico, social ou ambiental no qual o Brasil tenha regredido nos últimos seis anos e sete meses. A oposição conta, como já contava em 2006, com parceria da grande imprensa, mas mesmo esta tem um peso específico cada vez menor na comunicação social. As redes na internet podem equilibrar esse jogo e vejo hoje a esquerda mais presente que há dois anos e meio. Em 2006 quando editava o site 'O Informante', não encontrava a capilaridade que existe hoje na militância virtual. O cenário econômico mais provável para 2010 é o de uma forte recuperação, até pelo efeito estatístico da baixa base de comparação. Se os números de 2009 foram prejudicados pela base de comparação alta de 2008, no ano eleitoral essa razão se inverte. Não tenho registros de um presidente eleito democraticamente que tenha conseguido entregar a economia tão saudável quanto Lula o fará - a economia herdada por Jânio do respeitado Juscelino Kubitschek estava em frangalhos, por exemplo. Ao mesmo tempo será muito difícil para a imprensa, em geral, esconder as milhares de obras do PAC que estarão sendo inauguradas ou em ritmo avançado. Uma estratégia que precisa ser monitorada com cuidado é a demonização do voto 'com o bolso'. Numa eleição presidencial, os avanços econômicos serão sempre uma variável decisiva; se no jogo político de 1994, com o Plano Real, foram considerados legítimos, não poderão deixar de ser agora na sucessão do presidente Lula. Se a campanha conseguir realmente atrair além do PMDB, os partidos do chamado bloquinho (PR, PDT, PSB e PCdoB), nossa candidatura terá tempo na TV suficiente para demonstrar essas realizações. E olha que para não me alongar demais nem falei dos avanços na agricultura familiar, do Pronaf e da refundação da rede de assistência técnica rural; dos investimentos inéditos em saneamento ambiental; dos pontos de cultura e do Plano Nacional de Cultura; do reaparelhamento das Forças Armadas; da queda do desmatamento da Amazônia; dos investimentos em universidades e da educação profissional; do Prouni; do projeto Segundo Tempo; do Luz Para Todos; do SAMU; da Farmácia Popular e do Brasil Sorridente; do programa de Aquicultura em reservatórios; do Programa de Fiscalização da CGU; das ações da Polícia Federal e independência do Ministério Público etc, etc. A dificuldade da oposição para rebater a campanha do PT em 2010, pode ser resumida nas palavras do prefeito de Cuiabá, o tucano Wilson Santos, em março deste ano. Santos é um provável candidato ao governo do Mato Grosso, mas acaba de ser atingido em cheio pela 'Operação Pacenas', que investiga fraudes em licitações do PAC nos municípios. "Lula está fazendo escola. Preparem-se, porque a cidade inteira estará sendo esburacada para ceder lugar às obras de infra-estrutura em água e esgoto, o que caracteriza 100% do PAC a pleno vapor, consolidando-se 360 quilômetros de rede de esgoto. Nunca, em sua história, Cuiabá assistiu a algo assim. Na época do então governador Carlos Bezerra aconteceu algo semelhante, quando foram feitos 140 quilômetros de rede na capital. Agora, porém, são quase três vezes mais no volume." Se um tucano pensa dessa maneira, quem sou eu para discordar.

Minha avaliação parte das ações de transformação e não se os objetivos já foram alcançados. Não sou um alienado a dizer que está tudo feito, pois me comovo com a miséria que ainda devasta moralmente esse país. Mais importante, pra mim, é reconhecer que temos um rumo, pois como disse o professor Cândido Mendes, "a impaciência de resultados é retórica privativa das elites de poder". Alexandre Porto.

3 comentários:

Miguel do Rosário disse...

Carajo. Esse é o Alexandre. Vale seu peso em ouro.

Miguel do Rosário disse...

E esse é Alexandre Porto.

Sergio Telles disse...

Grande Alexandre Porto! Tem seu nome já registrado na história da mídia alternativa, com louvor! Sou leitor diário do Blog do Alê e incentivo a todos que o sigam!