quinta-feira, 26 de novembro de 2009

O eixo do mal já passou

A visita do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad ao Brasil virou mais um motivo de ataques ao governo. Como receber um chefe de Estado que nega o holocausto e tem seu programa nuclear em cheque, questionaram muitas vozes, geralmente as mesmas que também gostariam que o país rompesse relações com a Venezuela e Cuba.
As relações diplomáticas não se fazem com o fígado, e neste setor o Brasil deixou de ser um país periférico para assumir preponderância. As imagens que o mundo se acostumou a ver tendo os Estados Unidos como mediador de conflitos internacionais passaram a incluir também o Brasil. Deixamos de ser o país que tira os sapatos para entrar nos EUA para estarmos como protagonistas nos principais grupos de discussão política e econômica do mundo.
Nesse cenário, o Brasil foi convocado a atuar como mediador do histórico conflito do Oriente Médio. E seu papel é receber todos os atores em busca de uma solução negociada. O Irã é parte estratégica nesta negociação, seja pelo radicalismo de negar o holocausto, seja pelas ameaças que recebe do Ocidente. A política excludente desempenhada pelo governo anterior dos EUA só levou a guerras e a aumento do terrorismo. O Irã tem que ser incluído em qualquer debate sobre o Oriente Médio e foi isso que o governo brasileiro fez.
Lula não deixou de dizer que o Brasil defende a existência de Israel junto a um Estado palestino. Se Ahmadinejad sonha em varrer Israel do mapa terá que mudar de posição para chegar a algum consenso respaldado pela comunidade internacional. O mesmo foi dito ao presidente israelense Shimon Peres e ao presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, que passaram antes por Brasília. Assim como defende a existência de Israel, o Brasil acredita que a solução do conflito passa pela criação de um estado palestino.
Outra questão importante é aplicar à sua política externa coerência. Se Lula recebeu o presidente de Israel, país que domina o ciclo nuclear e possui armas atômicas (ao menos 150 segundo o ex-presidente dos EUA, Jimmy Carter), por que não aceitar a visita do presidente iraniano, que não as possui. E mesmo que as venha possuir, dificilmente será na escala israelense e ocidental, o que o dissuadiria de qualquer pretensão alucinada. A questão nuclear é extremamente complexa. Os países que possuem armas atômicas não querem que ninguém mais as desenvolva, mas são incapazes de destruir os seus arsenais. Assim como fizeram vista grossa quando outras nações, como Israel e Índia, por exemplo, entraram no seleto clube. Aos amigos, tudo, aos inimigos, a lei. Os protestos de judeus ofendidos pela visita de Ahmadinejad são compreensíveis. O pior foi a visão estreita de certos setores esclarecidos, que evocaram até a personificação do mal, assim como fez Bush há alguns anos ao se referir ao Irã, Iraque e Coréia do Norte. Lula, que já foi candidato ao eixo do mal, felizmente não deu ouvidos ao discurso limitado e conservador e levou adiante sua bem sucedida política externa, que incluiu o Brasil entre os líderes mundiais. Mair Pena Neto, Direto da Redação

Um comentário:

Daniel César de Oliveira disse...

creio também que só a diplomacia poderá equalizar os conflitos no oriente médio, e somente um país isento de interesses como o Brasil poderá ajudar, ainda mais com um presidente como o Lula, que é carismático e persuasivo. Os americanos são tendenciosos e viciados, os países daquela região sempre observam com maus olhos as recomendações americanas para a paz local.