Jornal do Brasil - 19/11/2009
Entende-se a insistência da oposição em atribuir ao governo a interrupção da corrente de energia vinda de Itaipu, há poucos dias. Um acidente desta natureza é oportuno para colocar em dúvida a eficiência do governo. Quando houve sucessivos apagões entre 2001 e 2002, a oposição daquele tempo também criticou o governo, mas as críticas eram de outra natureza. A negligência do governo – no poder desde 1995 – levou ao racionamento de energia (para alguns consumidores, de 20%) e à elevação compensatória das tarifas, que custou aos contribuintes R$ 45 bilhões. Com menos energia, houve menos produção e mais desemprego. O PIB se reduziu a um terço, com relação ao ano anterior – segundo relatório do TCU. Assim, o problema foi atribuído à política neoliberal do governo, que deixara de investir em usinas hidrelétricas, e optara pela privatização das empresas estatais do setor. Todo o sistema hidrelétrico nacional só não havia sido vendido – e da forma como foram vendidas as empresas de telecomunicações – aos estrangeiros e sócios nacionais, em razão da resistência de notáveis personalidades brasileiras.
A resistência maior, como nos lembramos, foi a de Itamar Franco que, logo depois de assumir o governo de Minas, ameaçou impedir, manu militari, a privatização de Furnas. A experiência demonstra que as multinacionais estrangeiras (quase todas obtiveram financiamento público e usaram moedas podres) que se apossaram de parte do setor elétrico nacional só pretendiam auferir lucros rápidos, sem investir nada, e deixar a sucata para o Estado. Não fosse a permanência das principais empresas no poder público, e o país estaria às escuras até hoje.
Não foram tomadas todas as providências – antes, nem agora – para que se criassem sistemas eficazes de controle da produção e fluxo da energia hidrelétrica no Brasil. Não há tecnologia segura. Viver é muito perigoso. Com todo o avanço da engenharia moderna, os aviões caem, os automóveis enguiçam, quando não capotam, as luzes se apagam, os edifícios desabam. Essas são falhas, imediatas ou remotas, debitadas aos homens que planejam e constroem. Mas, além delas, há a conspiração do imponderável, com a manifestação das forças da natureza. Há nove anos, faltou água nos reservatórios. Esse foi, então, um fato incontrolável, embora o fundo do problema estivesse na redução dos investimentos na geração de energia hidrelétrica, o que fazia prever o colapso do abastecimento diante do esperado ciclo das águas baixas. O que ocorreu agora tanto pode ser debitado à brutalidade das forças naturais como a falhas na operação nacional do sistema. Por enquanto, e como o próprio presidente da República aconselha, é preciso investigar, a fundo, o que houve, a fim de prevenir a repetição do problema.
Embora se reconheça o direito de a oposição aproveitar-se do incidente, a fim de exercer seu proselitismo eleitoral, é de se convir que está havendo exagero em culpar a ministra Dilma Rousseff pelo que houve. Os acidentes, pequenos ou grandes, são inevitáveis. Vivemos, indivíduos, nações e espécie, caminhando sobre o fio da navalha. Pode ser apenas uma mancha de óleo na estrada, ou o choque de placas tectônicas no fundo dos mares e dos continentes, para destruir o mundo que conhecemos, porque o universo inteiro só cabe dentro do curtíssimo intervalo da vida.
Felizmente, pelo que se sabe, a falta de energia não provocou maiores danos, além do desconforto. Ela ocorreu a horas quase mortas, e, em alguns lugares, durou apenas alguns minutos. Se os oposicionistas continuarem a insistir no tema, correrão o risco de cair na banalidade. Não se conclua, no entanto, que o governo deva cruzar os braços. Uma das tarefas dos governantes, desde que José do Egito se fez ouvir pelo faraó, é a de prevenir-se contra o futuro incerto.
Há, além disso, outros riscos políticos. Ao assumir o comando do governo, como uma espécie de premier, superintendendo o trabalho dos ministérios, do setor elétrico ao do meio ambiente, a candidata Dilma Rousseff corre o risco de sobre-expor-se antes do tempo, e prejudicar suas próprias aspirações. Milita em seu favor a sensação de que a administração é morosa, e exige uma coordenação eficiente de suas atividades. Ainda assim, sua situação não é confortável como candidata. Um candidato de preferência da situação deve contar com a adesão espontânea dos companheiros de Ministério, e isso lhe recomenda maior habilidade no exercício de seu poder
Entende-se a insistência da oposição em atribuir ao governo a interrupção da corrente de energia vinda de Itaipu, há poucos dias. Um acidente desta natureza é oportuno para colocar em dúvida a eficiência do governo. Quando houve sucessivos apagões entre 2001 e 2002, a oposição daquele tempo também criticou o governo, mas as críticas eram de outra natureza. A negligência do governo – no poder desde 1995 – levou ao racionamento de energia (para alguns consumidores, de 20%) e à elevação compensatória das tarifas, que custou aos contribuintes R$ 45 bilhões. Com menos energia, houve menos produção e mais desemprego. O PIB se reduziu a um terço, com relação ao ano anterior – segundo relatório do TCU. Assim, o problema foi atribuído à política neoliberal do governo, que deixara de investir em usinas hidrelétricas, e optara pela privatização das empresas estatais do setor. Todo o sistema hidrelétrico nacional só não havia sido vendido – e da forma como foram vendidas as empresas de telecomunicações – aos estrangeiros e sócios nacionais, em razão da resistência de notáveis personalidades brasileiras.
A resistência maior, como nos lembramos, foi a de Itamar Franco que, logo depois de assumir o governo de Minas, ameaçou impedir, manu militari, a privatização de Furnas. A experiência demonstra que as multinacionais estrangeiras (quase todas obtiveram financiamento público e usaram moedas podres) que se apossaram de parte do setor elétrico nacional só pretendiam auferir lucros rápidos, sem investir nada, e deixar a sucata para o Estado. Não fosse a permanência das principais empresas no poder público, e o país estaria às escuras até hoje.
Não foram tomadas todas as providências – antes, nem agora – para que se criassem sistemas eficazes de controle da produção e fluxo da energia hidrelétrica no Brasil. Não há tecnologia segura. Viver é muito perigoso. Com todo o avanço da engenharia moderna, os aviões caem, os automóveis enguiçam, quando não capotam, as luzes se apagam, os edifícios desabam. Essas são falhas, imediatas ou remotas, debitadas aos homens que planejam e constroem. Mas, além delas, há a conspiração do imponderável, com a manifestação das forças da natureza. Há nove anos, faltou água nos reservatórios. Esse foi, então, um fato incontrolável, embora o fundo do problema estivesse na redução dos investimentos na geração de energia hidrelétrica, o que fazia prever o colapso do abastecimento diante do esperado ciclo das águas baixas. O que ocorreu agora tanto pode ser debitado à brutalidade das forças naturais como a falhas na operação nacional do sistema. Por enquanto, e como o próprio presidente da República aconselha, é preciso investigar, a fundo, o que houve, a fim de prevenir a repetição do problema.
Embora se reconheça o direito de a oposição aproveitar-se do incidente, a fim de exercer seu proselitismo eleitoral, é de se convir que está havendo exagero em culpar a ministra Dilma Rousseff pelo que houve. Os acidentes, pequenos ou grandes, são inevitáveis. Vivemos, indivíduos, nações e espécie, caminhando sobre o fio da navalha. Pode ser apenas uma mancha de óleo na estrada, ou o choque de placas tectônicas no fundo dos mares e dos continentes, para destruir o mundo que conhecemos, porque o universo inteiro só cabe dentro do curtíssimo intervalo da vida.
Felizmente, pelo que se sabe, a falta de energia não provocou maiores danos, além do desconforto. Ela ocorreu a horas quase mortas, e, em alguns lugares, durou apenas alguns minutos. Se os oposicionistas continuarem a insistir no tema, correrão o risco de cair na banalidade. Não se conclua, no entanto, que o governo deva cruzar os braços. Uma das tarefas dos governantes, desde que José do Egito se fez ouvir pelo faraó, é a de prevenir-se contra o futuro incerto.
Há, além disso, outros riscos políticos. Ao assumir o comando do governo, como uma espécie de premier, superintendendo o trabalho dos ministérios, do setor elétrico ao do meio ambiente, a candidata Dilma Rousseff corre o risco de sobre-expor-se antes do tempo, e prejudicar suas próprias aspirações. Milita em seu favor a sensação de que a administração é morosa, e exige uma coordenação eficiente de suas atividades. Ainda assim, sua situação não é confortável como candidata. Um candidato de preferência da situação deve contar com a adesão espontânea dos companheiros de Ministério, e isso lhe recomenda maior habilidade no exercício de seu poder
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