segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Brasil, quinta economia mundial?

ALOIZIO MERCADANTE


Nos próximos anos poderemos avançar mais e superar outro grave problema: nossa baixa autoestima

REVISTAS E jornais de todo o mundo reconhecem a emergência do Brasil. A "Economist", por exemplo, afirma que até 2014 o Brasil deverá se tornar a quinta economia do mundo. É possível, pois nos últimos anos soubemos consolidar a estabilidade econômica e, muito mais do que isso, construímos bases sólidas para o desenvolvimento nacional.
Com efeito, o Plano Real foi decisivo para superar a hiperinflação, mas a solidez macroeconômica só foi conquistada no governo Lula.
Nossa opção inicial, expressa na "Carta aos Brasileiros", foi por transição gradativa para novo modelo de desenvolvimento, dado o cenário de vulnerabilidade das contas externas, precárias reservas cambiais, dependência do FMI e acentuada fragilidade das contas públicas. Tratava-se de movimento tático imprescindível para a implementação da verdadeira estratégia de governo, definida no documento "Um Outro Brasil é Possível".
Assim, tivemos de buscar certas precondições, a começar pelo ataque à vulnerabilidade externa, com a busca de megasuperavits comerciais e a acumulação de reservas cambiais.
Esses megasuperavits foram obtidos num cenário internacional favorável, mas o comércio brasileiro cresceu acima da média mundial e acumulamos reservas de mais de US$ 200 bilhões no período pré-crise. A mudança na política externa contribuiu muito para isso, com o aprofundamento das relações Sul-Sul, sem descuidar dos parceiros tradicionais.
Também cuidamos de elevar o superavit primário e de preservar as metas de inflação, ao mesmo tempo em que iniciamos um esforço de desinflação e redução das taxas de juros.
Creio ter havido exageros nas reduções das metas de inflação e excesso de conservadorismo na condução da política monetária, mas no conjunto a ação foi bem-sucedida. O Brasil construiu fortes linhas de defesa para enfrentar crises e sólidas bases para a retomada do crescimento econômico. Elas amenizaram o impacto da crise global e permitiram que o país fosse um dos primeiros a superá-la.
Consolidada a estabilidade, o primeiro movimento foi elevar o social à condição de eixo do desenvolvimento. Programas como o Bolsa Família, a recuperação do salário mínimo e a expansão do crédito popular contribuíram para constituir amplo mercado interno de consumo de massas.
Aumentamos em R$ 20 bilhões a transferência de renda para os setores populares e geramos mais de 9 milhões de empregos formais. Mais de 19 milhões de brasileiros deixaram a pobreza absoluta e formou-se uma nova classe média baixa. Tivemos, pela primeira vez, crescimento com distribuição de renda. Mesmo na crise, continuamos a reduzir a pobreza.
O segundo movimento foi recuperar a capacidade operacional do Estado. O PAC priorizou projetos estruturantes, como a transposição do São Francisco e as grandes hidroelétricas.
Também se investiu na melhoria gerencial da administração pública.
Os bancos públicos ganharam mais importância. O BNDES é hoje maior que o Banco Mundial, e o Banco do Brasil empresta mais em 2009 do que todos os bancos juntos emprestavam em 2003. O Estado nacional recuperou seu papel de articulador e indutor do investimento público e privado.
O terceiro movimento foi forjar nova matriz energética, com as biomassas, novas hidroelétricas e o pré-sal.
Em 2003, a Petrobras valia US$ 14 bilhões. Hoje, é a terceira empresa mundial em valor de mercado, com US$ 208 bilhões. E as descobertas do pré-sal mais do que dobraram as reservas de petróleo e gás. O Brasil surge como potência petrolífera.
O quarto movimento é o da agricultura. Nos últimos cinco anos, fomos o país que mais aumentou o excedente exportável de alimentos.
Temos ainda parque industrial relativamente integrado. Não devemos nos acomodar à condição de exportadores de commodities. Precisamos, é claro, de mais investimento em educação e C&T para construirmos uma sociedade do conhecimento, pautada por novo dinamismo econômico, social e ambiental.
Finalmente, consolidamos o processo democrático, o que se expressa na renúncia à busca de um terceiro mandato presidencial, apesar do imenso prestígio popular de Lula.
O mundo vê com otimismo a emergência dessa nova potência média, habilidosa no jogo diplomático e com vastos recursos naturais. É verdade que ainda há desigualdades, violência, deficiências em saúde e educação e deformações no sistema político. Mas nos próximos anos, em meio à Copa e à Olimpíada, poderemos avançar mais e superar outro grave problema: nossa baixa autoestima, alimentada por aqueles que se negam a enxergar o que o mundo já descobriu.

ALOIZIO MERCADANTE , 55, economista e professor licenciado da PUC-SP e da Unicamp, é senador da República pelo PT-SP, líder do seu partido no Senado e vice-presidente do Parlamento do Mercosul

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