MULHERES DO MEU BRASIL IRMÃ CLEOFA, ENTRE AMIGAS!
Estamos completando 100 anos da comemoração do dia 08 de Março como o Dia Internacional da Mulher. Nos últimos anos muitas mulheres, com idade acima de 70 anos, tem deixado marcas profundas em minha vida, pela sua coragem, ousadia e luta incessante e, muitas vezes, silenciosa e humilde, dando tudo de si, na defesa e promoção da vida. São mulheres que foram se empoderando como protagonistas no processo de transformação social. Elas são referência para todas e todos nós.
Neste 08 de Março de 2010 quero dar destaque a duas grandes mulheres do meu Brasil que tem em comum a paixão pelos pobres e excluídos da nossa sociedade e a coragem de ultrapassar fronteiras por amor à pessoa humana, a missão. Não eram muito conhecidas e por circunstâncias de sua vida, assassinato no Pará e morte trágica no terremoto do Haiti passaram no centro dos noticiários nacionais e internacionais. Estas duas mulheres tem uma grande mensagem para o mundo. Destaco:
IRMÃ DOROTY MAE STANG e ZILDA ARNS NEUMANN
Ir. Doroty, norte-americana de Ohio, nasceu no dia 07 de junho de 1931, numa época de grandes crises e tensão social. Professora, Irmã da Congregação de Notre Dame de Namur, n
aturalizada brasileira. A missionária amava as pessoas com quem trabalhava: as crianças nas salas de aula de Chicago ou Phoenix, as famílias de imigrantes mexicanos e os colonos camponeses brasileiros. Veio para o Brasil na década de 1960. Trabalhou cerca de 20 anos no Pará. Sabendo do risco de vida que corria suas irmãs de Congregação, nas férias a interrogavam sobre o possível retorno ao Brasil. Ela prontamente retrucava: “Aquele é meu povo. Quero voltar para unir-me a eles em seus esforços”. Defendia os lavradores oprimidos pelos opressores e paralelamente lutava pela sobrevivência da Amazônia. Lutava constantemente pela redução dos conflitos fundiários, defendia a criação de assentamentos para os sem-terra na região, o que provocava a indignação e o ódio das fazendeiros. Havia alegria, riso e divertimento onde quer que ela estivesse. Sua luta mostrou-nos a Amazônia sob outra ótica – o ser humano fragmentado,
oprimido e relegado ao segundo plano. Vivia numa região de pistolagens e teve a ousadia de dizer aos homens armados que eles estavam errados.Sua única arma era a Bíblia, que apresentou ao pistoleiro na hora da morte. Doroty se recusava a ser silenciada. Quando via injustiças, falava pelas vítimas. Conhecia muito bem seus inimigos e os inimigos do povo. Pedia proteção para os assentados, que nunca chegou.
No dia 12 de fevereiro de 2005, Doroty, aos 73 anos sofreu uma emboscada em uma estrada de terra vermelha, na floresta de Anapu, foi brutalmente fuzilada, a 300 Km de Belém do Pará. Sua vida e sua história cristaliza para nós a certeza de que uma pessoa, uma ação, um ato de coragem pode fazer a diferença. Doroty vive! Doou sua vida total e livremente.
Zilda Arns Neumann, nasceu a 25.08.1934, em Forquilhinha – SC, Brasil. Filha de família de 16 filhos e mãe de seis filhos. Trazia no coração a preocupação constante para salvar as crianças pobres da mortalidade infantil, da desnutrição e da violência em seu contexto familiar e comunitário. Para melhor concretizar este sonho, empenhou-se numa maior capacitação e qualificação. Formou-se como Médica Pediatra e Sanitarista Pública. Especializou-se em Saúde Pública Materno-Infantil, Pediatria Social e Educação Física. Em 1980 tornou-se a coordenadora da vacina SABIN no Brasil. Em 1980 criou a Pastoral da Criança e em 2004 fundou e coordenou a Pastoral da Pessoa Idosa. Em 25 anos de missão a serviço da vida das crianças e famílias empobrecidas a Pastoral acompanhou 1.816.261 crianças menores de 06 anos; 1.407.743 famílias em 4060 municípios brasileiros. Capacitou 261.962 voluntários que levavam solidariedade e conhecimento sobre saúde, nutrição e cidadania para as comunidades mais pobres, criando condições para que elas se tornem protagonistas de sua própria transformação social. Atualmente, mais de cem mil idosos são acompanhados mensalmente por doze mil voluntários em 579 municípios de 25 Estados brasileiros. Tornou-se também a coordenadora da Pastoral da Criança em muitos outros países.
Sua vida foi arrebatada do nosso meio, quando em missão humanitária, em Porto Príncipe, Haiti, no dia 12/01/2010, o país foi destruído por um terremoto que colheu milhares de vidas. Em seu último discurso dizia: “As crianças, quando estão bem cuidadas, são sementes de paz e esperança. Não existe ser humano mais perfeito, mais justo, mais solidário e sem preconceitos que as crianças. Como os pássaros que cuidam de seus filhos ao fazer um ninho no alto das árvores e nas montanhas, longe de predadores, ameaças e perigos, e mais perto de Deus, devemos cuidar de nossos filhos como um bem sagrado, promover o respeito a seus direitos e protegê-los”. Estes números e estas palavras não necessitam de explicação, falam, bem alto, por si.
Sua vida doada até às últimas conseqüências e pautada no respeito, na ética, na solidariedade e no amor, lhe valeu dezenas e dezenas de prêmios e condecorações nacionais e internacionais, inclusive, indicação para o Prêmio Nobel da Paz.
Cleofa Marlisa Flach, nascida a 12.04.1945, em São Sebastião do Caí – RS. Religiosa da Congregação das Irmãs da Divina Providência. Sou missionária no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul desde 1982. Fiz o Curso de Filosofia, Pedagogia, Especialização em Orientação Educacional e Recursos Humanos. Fui professora e Diretora em escolas particulares e públicas no RS, SC e MS onde me aposentei em 1992. Trabalhei 10 anos na Pastoral da Terra, com duas gestões na coordenação e nos Movimentos Sociais em Mato Grosso do Sul. Razão porque escolhi Doroty como uma grande referência para minha vida e mulher destaque para o dia Internacional da Mulher. Sei o que significa a luta dos trabalhadores sem-terra nos acampamentos e assentamentos, a indiferença do poder público na busca de soluções e a indignação e perseguição dos latifundiários no momento de ocupação e despejos cruéis e desumanos, de terras improdutivas. Desde o início do Programa Fome Zero, 2003, nos anos do Talher e depois na Rede de Educação Cidadã, até março de 2008, estive na coordenação destes programas no MT. Fui coordenadora Provincial por duas gestões, na Província Espírito Santo de Cuiabá, abrangendo MS, MT e Bolívia. Participei de inúmeros encontros nacionais tanto na área de educação, como nos movimentos eclesiais, sociais e populares. Em encontros internacionais como: Seminário Internacional do Softwere Livre em Porto Alegre, Congresso Mundial de Espiritualidade, em Brasília, Assembléia Macroecumênica no Equador e na Colômbia, dois Fórums Sociais Mundiais, Congresso Holístico Mundial pela Paz, dois Capítulos Gerais e Conselhos da Congregação na Alemanha, visita ao Projeto Missionário da Congregação em Moçambique e Malawi – África Sou militante do Partido dos Trabalhadores desde a sua fundação e atualmente integro a coordenação executiva no município de Cuiabá. Participa do Círculo da Paz e do Fórum Permanente pela Paz. Toda a minha luta e militância sempre foi pela inclusão social e como objetivo maior a defesa e promoção da vida junto a todos os grupos com os quais atuei, dando sempre maior ênfase à organização e participação das mulheres. Participei da Marcha mundial das Mulheres, na terceira ação internacional, em Gravataí – RS, em janeiro deste ano – “Seguiremos em Marcha até que todas sejamos livres”. Eu acredito firmemente que “Um outro mundo é possível e necessário” quero dar minha parcela de contribuição para que ele aconteça. E como dizia a grande mulher Zilda Arns: “Somos chamados e chamadas a anunciar experiências positivas e caminhos que levam as comunidades, famílias e o país a serem mais justos e fraternos”, e solidários.
Cuiabá, 08 de Março de 2010.
Cleofa Marlisa Flach
Postado por GUERRILHEIROS VIRTU@IS
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