Do Recife (PE)
Nome certo para disputar o Senado por Pernambuco, o deputado federal e presidente estadual do PTB, Armando Monteiro Neto, disse, nesta segunda-feira, 12, que apoiará a reeleição do governador Eduardo Campos (PSB) e a eleição de Dilma Rousseff (PT), mesmo se a direção nacional do seu partido fechar aliança em prol da candidatura de José Serra (PSDB-SP).
O trabalhista também rebateu as declarações do senador Jarbas Vasconcelos, do PMDB, sobre uma possível instabilidade da Frente de Esquerda de Pernambuco. "Talvez seja uma posição baseada na própria experiência que ele colheu", alfinetou.
Armando Monteiro Neto admite que Dilma não possui experiência "político-eleitoral", mas que deverá compensar com a experiência administrativa que adquiriu com o gerenciamento de dois ministérios no governo Lula.
O trabalhista lembra que a candidata do PT tem crescido nas pesquisas de intenção de votos no Nordeste e acredita que ela dará prioridade à região caso seja eleita.
Confira a entrevista.
Terra Magazine - Já houve alguma conversa para confirmar a candidatura do senhor ao Senado pelo PTB, as negociações entre os partidos aliados foram finalizadas?
Armando Monteiro Neto - Não houve conversa com o governador ainda sobre isso. Ele tem uma delegação do partido e nossa para coordenar esse processo. Não tenho nenhuma dúvida que no momento próprio o governador irá encaminhar isso. Não temos ansiedade. Temos tranquilidade que nosso conjunto fará uma chapa competitiva e que permita que a gente possa caminhar para obter êxito nesse processo eleitoral que se avizinha. Se vier a ser convocado por esse conjunto de forças para a disputa ao Senado estou à disposição e, com o maior entusiasmo, participarei do processo.
O presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, manifestou a vontade de apoiar a candidatura de José Serra à presidência da República. Como fica a situação do senhor em Pernambuco, fazendo parte do grupo que deverá apoiar a eleição de Dilma Rousseff?
Essa decisão ainda não foi tomada pela executiva nacional. Sabemos que essa é a pretensão do presidente Roberto Jefferson. Mas, no nosso partido e de resto com o amparo da própria legislação, as alianças regionais não precisam obrigatoriamente reproduzir a aliança nacional. Temos o grau de liberdade que a legislação nos oferece, e o próprio partido nos oferece, como orientação política, promover as alianças nos planos regionais mais interessantes para o partido. O maior patrimônio do PTB é sua bancada na Câmara Federal.
Em Pernambuco, não há nenhum problema. Reconheço que isso é uma contradição do sistema político brasileiro. Como aqui em Pernambuco, que acontece algo que é, no mínimo, desconfortável. O PMDB, no plano nacional, apoia Dilma e, no plano regional, o candidato que vai disputar contra o palanque do presidente Lula é dos quadros do PMDB. São contradições do sistema político, mas não há problema nenhum, do ponto de vista legal, que nos crie qualquer embaraço para manter a aliança com o palanque do governador Eduardo Campos.
Em entrevista recente, o senador Jarbas Vasconcelos declarou que a Frente de Esquerda (da qual faz parte o PTB) tem "data marcada de vencimento porque ninguém tem nada a ver com ninguém". Qual a sua avaliação dessa frase?
É uma frase. E talvez uma expressão de um desejo. Muito mais um desejo do que algo com amparo na realidade. O ex-governador Jarbas talvez faça essa projeção, pois no tempo que ele liderou uma ampla aliança que se dizia longeva, que falava em projeto de 20 anos, ocorreram inúmeras defecções. Chegou ao ponto de vários deputados federais (inclusive o próprio Armando Monteiro Neto) terem saído de sua aliança. Talvez seja uma posição baseada na própria experiência que ele colheu.
De minha parte, se ele aponta uma espécie de falta de identidade entre nós e João Paulo (ex-prefeito do Recife que briga por uma das vagas para disputar o Senado) ou o PT, digo que isso não se apoia na realidade. Fizemos parte do palanque do PT em 2006 da melhor forma possível. Participamos do governo de João Paulo e continuamos participando do governo de João da Costa. Temos o melhor relacionamento com as lideranças do PT em Pernambuco.
Se depender de nós, do PTB, não há nada no horizonte que dificulte nossa relação. E com o governador Eduardo Campos, tenho recebido vários depoimentos públicos de uma relação cooperativa, que nós temos contribuído. Quero registrar a correção do governador com o nosso grupo.
Durante o lançamento da candidatura de José Serra à presidência, demonstrou-se que parte da tônica da campanha será mostrar a experiência do tucano, coisa que Dilma Rousseff não teria, pois nunca disputou um mandato eletivo. Como reverter esse discurso?
A questão se transfere para os estrategistas que vão precisar definir o norte da campanha. O argumento que a ministra é inexperiente é uma falha de origem. Ela é alguém que já foi secretária de Estado, ministra de duas pastas importantes, inclusive, ministra da principal pasta que é o Gabinete Civil. O Gabinete Civil, como você sabe, é a pasta que controla todos os assuntos do governo, não é um ministério setorial. Não se pode apontar a candidata como inexperiente do ponto de vista administrativo. O que há é evidentemente uma falta de experiência político-eleitoral. Mas queria lembrar que várias figuras do Brasil foram bem sucedidas quando disputaram a eleição pela primeira vez. Agora, por exemplo, o candidato do governador Aécio Neves (PSDB), em Minas é um quadro muito qualificado que nunca disputou uma eleição. Tudo isso depende do próprio perfil do candidato e da capacidade que ele tenha de se adaptar a esse processo, acho que a ministra vai desempenhar bem seu papel.
A expectativa é que José Serra dê prioridade em sua agenda a visitas ao Nordeste, o senhor acha que Dilma deverá fazer o mesmo? Ela deve aproveitar a popularidade do presidente Lula na região?
Com toda certeza, independente da agenda do concorrente, a ministra Dilma tem o olhar voltado pro Nordeste. As pesquisas de opinião demonstram que ela tem uma ampla e crescente aceitação no Nordeste. Por outro lado, ela sabe que as raízes do presidente Lula estão aqui. Um espaço sentimental do presidente Lula, sua história, sua trajetória tem marcas muito fortes no Nordeste. Dilma sabe também que a região precisa de um claríssimo compromisso por parte do futuro governo, de oferecer instrumentos e apoio para que a região corrija, ou pelo menos atenue, os desníveis que ainda existem com relação às regiões mais desenvolvidas do País. Tenho certeza que Dilma dará muita prioridade a essa agenda do Nordeste. Nós queremos, quando for próprio, conversar com a coordenação da campanha, para trazer a ministrar para conhecer o polo de confecções no Agreste Setentrional de Pernambuco em alguma dessas oportunidades.
Qual a sua leitura das duas multas que o presidente Lula tomou por propaganda extemporânea, em prol da candidatura de Dilma Rousseff?
Respeito à decisão da Justiça. Sempre me pautei na vida por um profundo respeito às instituições e pelo Poder Judiciário. Se houve um entendimento no órgão superior que o presidente era passível de uma penalidade, só nos cabe cumprir a determinação e evitar que fatos dessa natureza se repitam.
Terra Magazine
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