Numa versão dissimulada da manipulação que Veja e Globo fizeram de forma escancarada na última semana, a Folha de S.Paulo resolveu contar ao seu leitor na edição de sábado, dia 5 de junho, um pedaço - ínfimo - da verdadeira história por trás do suposto dossiê contra José Serra que abala a campanha demotucana e ressuscita velhas torpezas presentes nas disputas presidenciais desde o fim da ditadura. O artigo é de Saul Leblon.
Saul Leblon
O resumo-malabarista dos acontecimentos feito pela Folha não é assinado, o que desde já sugere um produto distinto da reportagem e mais próximo de uma ‘costura’ política destinada a salvar as aparências do jornal perante seus leitores, sem desmoralizar completamente seu candidato, já que Serra embora tenha baixado o tom continua a acusar Dilma e o PT de responsáveis pela autoria de um inexistente dossiê contra ele e sua família.
O produto oferecido aos leitores da Folha de qualquer forma mantém a marca registrada do padrão de jornalismo demotucano. A chamada da primeira página ‘Jornalista e delegado são pivôs do caso do dossiê’ não tem respaldo nas informações contidas na matéria interna que na verdade a desmente, ao admitir:
a) ao contrário do que Serra afirma e a Folha endossou obsequiosamente no noticiário generosos dos dias anteriores, e continua a insinuar na manchete, o comando da campanha de Dilma em Brasília não contratou nem produziu dossiê algum contra o candidato do conservadorismo brasileiro;
b) os personagens que a manchete arrola como ‘pivôs’ do caso do dossiê, teriam participado, na verdade, de uma conversa com um publicitário indiretamente ligado à campanha do PT;
c) sempre segundo o padrão Folha de jornalismo, em meados de abril, cogitou-se criar um sistema de inteligência no comitê de Dilma, em Brasília, para detectar a presença de eventuais espiões de Serra –suspeita ancorada em sucessivos vazamentos de informações confidenciais sobre custos de publicidade;
d) a criação do ‘serviço’ relatado pela Folha –com as ressalvas anteriores sobre a qualidade da informação fornecida pelo jornal— teria sido abortada por uma divergência de preço. Ponto. Mas e o dossiê que a Veja denunciou, o Globo repercutiu e a Folha escorou dando destaque às declarações de Serra que afirma ser de responsabilidade ‘exclusiva’ de Dilma? Aspas para o texto da Folha, novamente: a) ‘em 2 de maio’, diz o relato apócrifo, integrantes do PSDB souberam que a campanha de Dilma estaria montando [a mencionada] equipe de "inteligência" --com o objetivo, deduziram, de espionar Serra’ Fecha aspas. Quem ‘deduziram’?
A matéria não assinada não esclarece, nem questiona. Não nomeia, não entrevista não se interessa por esse núcleo central da trama que ao deduzir erroneamente –pelo que diz o próprio jornal, embora colunistas alucinadamente comprometidos, como Josias de Souza em seu blog insistam no contrário - criou o factóide surrado do ‘dossiê petista’, no qual embarcaram obsequiosamente todos os veículos e o candidato demotucuno, que o PT ameaça levar à justiça para provar a acusação criminosa contra Dilma Rousseff.
Por fim, mas não por último, o mais importante: o conteúdo dessas informações cuja divulgação estremeceria a campanha demotucana, a ponto de se montar um coro despistador na tentativa de desqualificá-las por antecipação. A primeira informação que desmonta essa versão, o autor das informações, é mencionada "en passant" pela Folha. Aspas para o jornal: ‘o jornalista Amaury Ribeiro Júnior -- que investigou por anos o processo de privatização brasileiro iniciado nos anos do governo FHC (1995-2002)’.
Faltou dizer : o jornalista Amaury Ribeiro Júnior é dono de três prêmios Esso; vernceu quatro prêmios Vladimir Herzog, é membro do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, apenas para citar alguns dados sobre a credibilidade do profissional que investigou e reuniu as informações em questão. Em frente. Segundo a Folha a) ‘os dados começaram a ser coletados [por ele] em sua passagem pelo "Estado de Minas", principal diário mineiro, próximo politicamente do ex-governador Aécio Neves (PSDB-MG)’ ; b) ‘a apuração de Ribeiro começou em 2009, depois que Aécio, então ainda um potencial presidenciável, foi alvo de reportagens críticas...” Alvo de quem?
Curioso que o jornal tente no parágrafo anterior desqualificar o trabalho investigativo do jornalista ao espetar no"Estado de Minas" o epíteto: ‘próximo politicamente do ex-governador Aécio Neves (PSDB-MG)’, mas nada relacione sobre a ‘proximidade política’ dos veículos responsáveis pelas ‘reportagens críticas’. Tampouco esclarece que tipo de ‘reportagens críticas’? Em benefício de quem? A reportagem-malabarista não assinada da Folha passa olimpicamente por indagações obrigatórias de qualquer pauta mais cuidadosa ou menos comprometida.
Uma abordagem isenta exigiria que o diário da família Frias fizesse a auto-investigação das perdas e danos causados à informação por seu esférico engajamento na candidatura José Serra , indissociável do anti-lulismo feroz e manipulador praticado disciplinadamente por quase toda a sua redação. É inescapável recordar uma passagem que condensa esse grau de radicalização, traduzido por um jornalismo de campanha --não assumido, daí a fraude contra a informação.
Em 4 de março de 2009, a Folha publicou – numa seqüência de exemplares da mesma artilharia pesada - um artigo criticando de forma agressiva a pressão do governador mineiro Aécio Neves pela realização de prévias democráticas no PSDB para a escolha do postulante à Presidência da República. Àquela altura, segundo a sempre oportuna prontidão do Datafolha, Serra teria 45% das intenções de voto, contra apenas 17% de Aécio Neves que mal disfarçava o propósito de implodir a blindagem em torno do rival paulista levando a disputa para fora do jogo de cartas marcadas arbitrado pela endogamia entre a cúpula tucana e a mídia do Sudeste. Os xiliques de Serra e a agressividade dos recados emitidos pela Folha demonstravam que nem um, nem outro, confiavam de fato nos confortáveis índices oferecidos à opinião pública interna e externa pelo instituto de pesquisas que ancora manchetes emergenciais do jornal da família Frias. É nessa linha de tensão que surge o artigo cujo título trazia uma insinuação cifrada de represália sem limite contra o mineiro, caso insistisse em se colocar na disputa contra o tucano paulista: “Pó pará, governador ?” era a chamada enigmática para alguns, mas inteligível para os círculos que já ouviram insinuações sobre o uso de drogas aspiráveis pelo governador de Minas Gerais.
A sombra da represália, na forma de munição ainda mais pesada, ficava explícita no parágrafo final do artigo-recado. Depois de denunciar o controle do mineiro sobre a imprensa do Estado [ ‘ em Minas imprensa e governo são irmãos xifópagos], o texto concluía com uma ameaça nada velada: ‘Aécio devia refletir sobre o que disse seu grande conterrâneo João Guimarães Rosa: "Deus é paciência. O diabo é o contrário. E hoje talvez ele advertisse: Pó pará, governador?’.
É desse campo minado por uma luta que dificilmente fará de Aécio um cabo eleitoral mais que formal de José Serra, que explodiu o resultado de anos de trabalho de um dos mais premiados jornalistas investigativos do país. A coleção de dados e cifras envolvendo a família, os amigos, assessores de confiança de José Serra, suas ligações societárias e eleitorais com a família de Daniel Dantas, o envolvimento do conjunto com privatizações e movimentos milionários de dólares dentro e fora do país em empresas de fachada – esse latejante paiol de nitroglicerina pura forma hoje um livro sucinto de 14 capítulos. A edição e possível veiculação do petardo depois da Copa do Mundo deixa o insone confesso José Serra cada vez mais distante de uma noite de sono dos justos. Pior que isso: torna mais improvável ainda que ela ocorra um dia na cama do Palácio do Planalto.
Saul Leblon
O resumo-malabarista dos acontecimentos feito pela Folha não é assinado, o que desde já sugere um produto distinto da reportagem e mais próximo de uma ‘costura’ política destinada a salvar as aparências do jornal perante seus leitores, sem desmoralizar completamente seu candidato, já que Serra embora tenha baixado o tom continua a acusar Dilma e o PT de responsáveis pela autoria de um inexistente dossiê contra ele e sua família.
O produto oferecido aos leitores da Folha de qualquer forma mantém a marca registrada do padrão de jornalismo demotucano. A chamada da primeira página ‘Jornalista e delegado são pivôs do caso do dossiê’ não tem respaldo nas informações contidas na matéria interna que na verdade a desmente, ao admitir:
a) ao contrário do que Serra afirma e a Folha endossou obsequiosamente no noticiário generosos dos dias anteriores, e continua a insinuar na manchete, o comando da campanha de Dilma em Brasília não contratou nem produziu dossiê algum contra o candidato do conservadorismo brasileiro;
b) os personagens que a manchete arrola como ‘pivôs’ do caso do dossiê, teriam participado, na verdade, de uma conversa com um publicitário indiretamente ligado à campanha do PT;
c) sempre segundo o padrão Folha de jornalismo, em meados de abril, cogitou-se criar um sistema de inteligência no comitê de Dilma, em Brasília, para detectar a presença de eventuais espiões de Serra –suspeita ancorada em sucessivos vazamentos de informações confidenciais sobre custos de publicidade;
d) a criação do ‘serviço’ relatado pela Folha –com as ressalvas anteriores sobre a qualidade da informação fornecida pelo jornal— teria sido abortada por uma divergência de preço. Ponto. Mas e o dossiê que a Veja denunciou, o Globo repercutiu e a Folha escorou dando destaque às declarações de Serra que afirma ser de responsabilidade ‘exclusiva’ de Dilma? Aspas para o texto da Folha, novamente: a) ‘em 2 de maio’, diz o relato apócrifo, integrantes do PSDB souberam que a campanha de Dilma estaria montando [a mencionada] equipe de "inteligência" --com o objetivo, deduziram, de espionar Serra’ Fecha aspas. Quem ‘deduziram’?
A matéria não assinada não esclarece, nem questiona. Não nomeia, não entrevista não se interessa por esse núcleo central da trama que ao deduzir erroneamente –pelo que diz o próprio jornal, embora colunistas alucinadamente comprometidos, como Josias de Souza em seu blog insistam no contrário - criou o factóide surrado do ‘dossiê petista’, no qual embarcaram obsequiosamente todos os veículos e o candidato demotucuno, que o PT ameaça levar à justiça para provar a acusação criminosa contra Dilma Rousseff.
Por fim, mas não por último, o mais importante: o conteúdo dessas informações cuja divulgação estremeceria a campanha demotucana, a ponto de se montar um coro despistador na tentativa de desqualificá-las por antecipação. A primeira informação que desmonta essa versão, o autor das informações, é mencionada "en passant" pela Folha. Aspas para o jornal: ‘o jornalista Amaury Ribeiro Júnior -- que investigou por anos o processo de privatização brasileiro iniciado nos anos do governo FHC (1995-2002)’.
Faltou dizer : o jornalista Amaury Ribeiro Júnior é dono de três prêmios Esso; vernceu quatro prêmios Vladimir Herzog, é membro do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, apenas para citar alguns dados sobre a credibilidade do profissional que investigou e reuniu as informações em questão. Em frente. Segundo a Folha a) ‘os dados começaram a ser coletados [por ele] em sua passagem pelo "Estado de Minas", principal diário mineiro, próximo politicamente do ex-governador Aécio Neves (PSDB-MG)’ ; b) ‘a apuração de Ribeiro começou em 2009, depois que Aécio, então ainda um potencial presidenciável, foi alvo de reportagens críticas...” Alvo de quem?
Curioso que o jornal tente no parágrafo anterior desqualificar o trabalho investigativo do jornalista ao espetar no"Estado de Minas" o epíteto: ‘próximo politicamente do ex-governador Aécio Neves (PSDB-MG)’, mas nada relacione sobre a ‘proximidade política’ dos veículos responsáveis pelas ‘reportagens críticas’. Tampouco esclarece que tipo de ‘reportagens críticas’? Em benefício de quem? A reportagem-malabarista não assinada da Folha passa olimpicamente por indagações obrigatórias de qualquer pauta mais cuidadosa ou menos comprometida.
Uma abordagem isenta exigiria que o diário da família Frias fizesse a auto-investigação das perdas e danos causados à informação por seu esférico engajamento na candidatura José Serra , indissociável do anti-lulismo feroz e manipulador praticado disciplinadamente por quase toda a sua redação. É inescapável recordar uma passagem que condensa esse grau de radicalização, traduzido por um jornalismo de campanha --não assumido, daí a fraude contra a informação.
Em 4 de março de 2009, a Folha publicou – numa seqüência de exemplares da mesma artilharia pesada - um artigo criticando de forma agressiva a pressão do governador mineiro Aécio Neves pela realização de prévias democráticas no PSDB para a escolha do postulante à Presidência da República. Àquela altura, segundo a sempre oportuna prontidão do Datafolha, Serra teria 45% das intenções de voto, contra apenas 17% de Aécio Neves que mal disfarçava o propósito de implodir a blindagem em torno do rival paulista levando a disputa para fora do jogo de cartas marcadas arbitrado pela endogamia entre a cúpula tucana e a mídia do Sudeste. Os xiliques de Serra e a agressividade dos recados emitidos pela Folha demonstravam que nem um, nem outro, confiavam de fato nos confortáveis índices oferecidos à opinião pública interna e externa pelo instituto de pesquisas que ancora manchetes emergenciais do jornal da família Frias. É nessa linha de tensão que surge o artigo cujo título trazia uma insinuação cifrada de represália sem limite contra o mineiro, caso insistisse em se colocar na disputa contra o tucano paulista: “Pó pará, governador ?” era a chamada enigmática para alguns, mas inteligível para os círculos que já ouviram insinuações sobre o uso de drogas aspiráveis pelo governador de Minas Gerais.
A sombra da represália, na forma de munição ainda mais pesada, ficava explícita no parágrafo final do artigo-recado. Depois de denunciar o controle do mineiro sobre a imprensa do Estado [ ‘ em Minas imprensa e governo são irmãos xifópagos], o texto concluía com uma ameaça nada velada: ‘Aécio devia refletir sobre o que disse seu grande conterrâneo João Guimarães Rosa: "Deus é paciência. O diabo é o contrário. E hoje talvez ele advertisse: Pó pará, governador?’.
É desse campo minado por uma luta que dificilmente fará de Aécio um cabo eleitoral mais que formal de José Serra, que explodiu o resultado de anos de trabalho de um dos mais premiados jornalistas investigativos do país. A coleção de dados e cifras envolvendo a família, os amigos, assessores de confiança de José Serra, suas ligações societárias e eleitorais com a família de Daniel Dantas, o envolvimento do conjunto com privatizações e movimentos milionários de dólares dentro e fora do país em empresas de fachada – esse latejante paiol de nitroglicerina pura forma hoje um livro sucinto de 14 capítulos. A edição e possível veiculação do petardo depois da Copa do Mundo deixa o insone confesso José Serra cada vez mais distante de uma noite de sono dos justos. Pior que isso: torna mais improvável ainda que ela ocorra um dia na cama do Palácio do Planalto.
Enviado por: Marco ACF de Almeida macfa40@yahoo.com.br
Um comentário:
Muito bom o artigo, mas talvez fosse bom começar também a divulgar o programa de governo ou pelo menos alguns pontos para que os leitores que em sua maioria devem ser eleitores da legenda governista possam saber o que dizer sobre as propostas de campanha. Acho que os serristas só entram nos sites oposicionistas e mesmo que entrem não vão mudar de idéia(sic, se é que têm), para mim agora é só disputar os votos dos indecisos que na minha opinião ainda são muitos pois históricamente sempre foi assim em eleições brasileiras.
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