Ana Lúcia Andrade - jornalismo pouco investigativo
Da editoria-geral do Terra BrasilisNa edição de ontem do Jornal do Commercio, a coluna Pinga Fogo, editada pela jornalista Ana Lúcia Andrade, indagava ao leitor se ele sabia o significado de "Funhanhado". Nada de extraordinário não fosse o fato de a tal palavra ter sido dita pela pré-candidata à Presidência da República, a petista Dilma Rousseff. Dissera Dilma, numa entrevista a uma rádio de São Paulo: "Antes de Lula o Brasil estava funhanhado".
Hoje, a coluna Pinga Fogo volta à discussão, abrindo espaço para que uma leitora - a advogada Edne Silva, residente no bairro de Boa Viagem - relatasse sua inglória saga na captura da palavra "funhanhado" e seu(s) sentido(s). Segundo a coluna, a advogada fizera incursões em vários dicionários, recorrendo, inclusive, ao de Laudelino Freire (uma "raridade", segundo Ana Lúcia Andrade) e encontrando a palavra "funho" (o mesmo que "furúnculo").
A malfadada pesquisa levou a Dra. Edne Silva a levantar hipóteses possíveis: "Será que Dilma teve essa doença ["furúnculos"] e achou que o Brasil havia se contagiado? É mais provável que tenha inventado mais esse termo". Ainda que a primeira hipótese seja de um senso de humor questionável, a segunda cai muito bem. Se a Dra. Edne, que deve entender de ordenamento jurídico, tivesse atinado para os processos formadores de palavras (não os jurídicos) certamente concentraria suas forças neuroniais apenas na última hipótese. Dilma estaria, então, usando uma palavra não dicionarizada, portanto, um neologismo [fenômeno linguístico a partir do qual se criam palavras ou expressões novas ou se atribuem novos sentidos a palavras já existentes].
Nada demais em "dialogar" com as hipóteses da Dra. Edne. A questão é que a advogada não deu prioridade ao fato de se estar diante de um neologismo, mas enveredou pelo aspecto político (a hipótese de Dilma ter contraído a doença e achado que o país se contagiou revela isso). Soa como deboche. Um outro aspecto é a procura pelo sentido da palavra "funhanhado" em um dicionário [Grande e Novíssimo Dicionário da Língua Portuguesa (1939-1944)]. Ora, seria mais producente se a Dra. Edne focasse sua busca nos dicionários atualizados que, certamente, agregariam os verbetes (se existentes na língua) presentes na obra do professor e filólogo Laudelino Freire. Se ela pensou que encontraria a tal palavra num dicionário desatualizado, cometeu um equívoco no processo de pesquisa.
Nada demais que jornalista Ana Lúcia Andrade tenha publicizado este fato linguístico e o reiterado com a presença de uma leitora. É até enriquecedor, porquanto trata das possibilidades vivificantes de uma língua, numa determinada comunidade linguística. A questão é que faltou à jornalista e à sua equipe o investimento na pesquisa jornalística. O fato, caro leitores, é que Dilma NÃO FEZ USO DESSA PALAVRA INICIALMENTE, mas o entrevistador da rádio "Planeta Diário", de São José dos Campos (SP). A pré-candidata do PT apenas aproveitou a expressão a partir de um certo entendimento e de um "contrato comunicativo" entre os interlocutores (ouça trechos da entrevista abaixo).
O fato de Ana Lúcia Andrade ter dado vazão a esse episódio sem dele ter se inteirado é grave, porque denota um viés político subliminar de uma parcialidade jornalística que já vem sendo discutida no Terra Brasilis e nO Cachete, do amigo Giovani de Morais.
Ouça trecho da entrevista:
Um comentário:
Nenhum Neologismo consegue tirar de Dilma sua Clareza!
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