Se o retrato que as atuais pesquisas estaduais pintam se confirmar, o país que teremos a partir de 2011 será muito semelhante ao de hoje. Pelo menos no tocante aos governos dos estados, pois tudo indica que o Senado ficará diferente. De norte a sul, o tom que domina as sucessões, nos estados para os quais dispomos de dados, é de continuidade. São vários os governadores da safra de 2006 que disputam a reeleição, muitos com favoritismo e possibilidade de vitória no primeiro turno, outros enfrentando eleições menos tranquilas. A eles se somam os vices que assumiram o cargo este ano, depois da desincompatibilização dos titulares, que saíram, quase todos, para se candidatar ao Senado. Neles, a marca da continuidade continua forte, mesmo quando enfrentam sua primeira eleição.
O caso mais notável de descontinuidade é o do Rio Grande do Sul, o único estado em que nem quem está no governo, nem alguém vinculado a ele, disputa com chances. A governadora Yeda Crusius não conseguiu fazer com que a opinião pública gaúcha se reconciliasse com ela, termina mal seu mandato e, embora concorra, está muito atrás dos líderes das pesquisas. Em si, a falta de perspectiva de reeleição não é de estranhar, pois se contam nos dedos os políticos de seu estado que conseguiram renovar seu mandato (um deles, aliás, é José Fogaça, ex-prefeito reeleito de Porto Alegre, que está taco a taco com Tarso Genro).
O máximo de continuidade é, paradoxalmente, do maior estado, daquele que mais perto está do chamado Primeiro Mundo. Ao contrário de confirmar, nas eleições estaduais, o que se espera de uma sociedade moderna, a política de São Paulo tem ficado cada vez mais parecida com a dos estados tradicionais. Lá, a se manter a vantagem de Alckmin sobre Mercadante, o PSDB chegará a 2014 comemorando seu vigésimo aniversário no Palácio dos Bandeirantes. Nenhuma oligarquia dos estados pobres do Norte/Nordeste conseguiu tamanha proeza no Brasil contemporâneo. Depois da redemocratização, nem os Antonio Carlos, os Sarney, os Amazonino Mendes, os Siqueira Campos, os Lavoisier ou os Maia, chegaram nem perto. Nenhum deles teve tanta competência para se manter no poder. E o engraçado é que são os tucanos de São Paulo os que mais advogam a alternância como remédio para os males de nossa administração pública.
Devem se reeleger sem susto os governadores do Rio de Janeiro, da Bahia, de Pernambuco, do Ceará, do Mato Grosso do Sul e a governadora do Maranhão. Também favoritos, mas em cenário mais competitivo, os de Sergipe e da Paraíba. Em Alagoas, Teotônio Vilela disputará uma eleição complicada, agora ainda mais, com a entrada de Fernando Collor no páreo. Em Minas Gerais, Hélio Costa está bem à frente de Antonio Anastasia, que assumiu o governo com a renúncia de Aécio. Ninguém que acompanha a política mineira, no entanto, considera que sua vantagem é estável. Como no caso da eleição presidencial, o desconhecimento sobre o candidato do PSDB faz com que os números das pesquisas de agora tenham que ser vistos com cautela. É muito possível que Aécio faça por ele o mesmo que Lula por Dilma.
Existem outros casos de vices que se tornaram governadores e disputam com chances (como no Mato Grosso, no Piauí e no Amazonas), de ex-governadores voltando (como em Goiás) e alguns lugares imprevisíveis, uns que sempre foram (como Santa Catarina e o Pará), outros que se tornaram, como o Paraná. Lá, parecia que Beto Richa talvez nem tivesse adversário e agora tem, por sinal forte: Osmar Dias. Há, ainda, mudanças que nada são além de continuidade, como a do Acre, onde Tião Viana deve ganhar. Mas, na hora em que for feita, em 2011, a foto dos governadores no seu encontro com o novo (ou a nova) presidente, o retrato não ficará muito diferente do atual, mesmo que alguns novos rostos apareçam. No fundamental, pouca coisa vai mudar (salvo, é claro, se alguma surpresa sobrevier). Já no Senado, é certo que teremos grandes mudanças, muitas para melhor. Nos dois terços que serão renovados, virão ex-governadores, ex-prefeitos, pessoas experientes e lideranças respeitadas nos seus estados e no país. Vários furos acima da média da atual legislatura, que vai embora sem deixar saudade. Correio Braziliense
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